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Texto: ReB Team
Fotografia: Pedro Ivan
Publicado a: 31/03/2023

Relatos de quem ama à toa.

Faixa-a-faixa: Cura de iolanda explicado pela própria

Texto: ReB Team
Fotografia: Pedro Ivan
Publicado a: 31/03/2023

Aproximamo-nos do seu universo numa entrevista conduzida por Miguel Rocha ao colectivo AVALANCHE, do qual faz parte, e a sua voz prontamente conquistou um outro Miguel (Santos), que logo a seguir a destacou na sua rubrica Abram alas para….

O momento que iolanda atravessava era tentador. A cantora estava em especial evidência na compilação VOLUME I e tinha o “forno” prestes a apitar, já que o seu EP de estreia estava quase no ponto certo para poder ser servido. Cura saiu hoje e é mais um importante contributo para o rejuvenecimento e consequente mutação da canção portuguesa, um disco que cruza legado com futuro e que nos fala sobre seguir em frente após uma relação menos fácil.

Misturado e masterizado na totalidade por Charlie Beats, o projecto debutante de iolanda conta com o contributo daqueles que circulam mais próximos da sua órbita — Luar, LEFT., Rita Onofre, miguele e Ned Flanger — em diferentes fases do processo criativo, desde a produção à composição. No total, são 7 os temas que fazem parte deste processo de Cura e cada um deles é-nos explicado pela autora em mais um faixa-a-faixa com carimbo ReB.

O espectáculo de apresentação do curta-duração ao vivo está marcado para o dia 7 de Abril, no Tokyo, em Lisboa, e também mereceu um comentário por parte da artista:

“Neste concerto de apresentação do EP podem esperar um formato um bocadinho diferente do que tenho apresentado. Introduzimos alguns elementos novos na perspectiva de explorar mais um pouco, trazendo sempre algo que já me é característico. O espetáculo terá uma duração de 50 minutos, em banda, e com alguns convidados pelo meio, que fizeram parte do processo de escrita deste EP. É o concerto de estreia deste meu primeiro trabalho e estou muito entusiasmada.”


[“31 de Dezembro de 2020”]

Produção: iolanda e Luar
Melodias: iolanda

“Queria que a primeira coisa que as pessoas ouvissem neste EP fosse a junção perfeita de todas as faixas, quase como se cada nota contasse uma parte da história. Os acordes nasceram na verdade do single ‘Cura’ e as melodias foram um improviso de notas que desenham bem o que estas canções significam para mim. Queria que soasse a um sonho, a uma memória, daí o reverb exagerado, mas também a dor e a confusão emocional, quase como se eu estivesse a começar a purgar algo que esteve preso em mim durante muito tempo.”


[“Cura”]

Produção: Luar
Letra e melodia: iolanda e Rita Onofre

“Acho que a ‘Cura’ foi a música que eu sempre quis escrever. Significa muito para mim porque representa uma série de coisas que eu sempre quis ter numa canção. A sonoridade quente, mas escura até certo ponto, os elementos rítmicos misturados com os synths, que lhe dão uma profundidade que me arrepia, e todas as melodias que criámos que giram em torno de vários universos que me inspiram. A primeira coisa que escrevi foi o refrão, na verdade, na passagem de ano 2020/2021. Guardei-o durante alguns meses na gaveta, sem saber que viria a ser o refrão da ‘Cura’. Mais tarde, comecei a escrever sob uma progressão de acordes do Luar, e tínhamos a canção toda, menos o refrão. E eu sabia que aquele refrão que eu tinha escrito por cima de um type beat na noite de PDA era a solução perfeita para terminar a canção. Nunca me tinha acontecido, mas foi incrível o quão bem colou com tudo o resto e aí nasceu a ‘Cura’. É a primeira do EP, e fala sobre a necessidade que eu tenho em amar, em não olhar a nada a não ser ao que a outra pessoa me faz sentir. É um grito de amor, de paixão e de vontade de ser amada, também. Não poderia imaginar outra pessoa para a produzir que não o Luar. Tenho-o como um irmão mais novo, e pouca gente me lê tão bem musicalmente como ele.”


[“Lugar Certo”]

Produção: LEFT.
Letra e melodia: iolanda

“Escrevi a ‘Lugar Certo’ de um momento para o outro. Não pensei muito na letra porque acho que os acordes me levaram às palavras que eu tinha para dizer. É o aperceber-me de que perdi alguém, que esse alguém era casa e que agora não encontro forma de lá voltar. É uma canção muito especial para mim e demorei até encontrar alguém que a fizesse soar como eu imaginei. Quando voltei para Portugal, quis muito conectar com produtores e artistas que eu admirava muito e que ouvia desmedidamente em Londres. O LEFT. era um deles. Sou muito fã do trabalho dele e, na altura, falámos com o intuito de marcarmos uma sessão de estúdio. Sem qualquer compromisso, mostrei-lhe a ‘Lugar Certo’ e a primeira vez que ele mexeu na canção eu percebi que seria ele o produtor dela. Fizemos camas com harmonias e eu fui para casa ouvir aquela demo milhões de vezes por dia. Fiquei apaixonada desde o primeiro segundo. A forma como o LEFT. a produziu trouxe todos os ambientes que eu imaginei, desde os 808s fortes, os synths sem ter fim e aquela energia meio caótica mas verdadeira, que eu tinha dentro de mim e que queria que transparecesse para o beat. O resto foi história.”


[“Juro Já Nem Paro”]

Produção: LUAR
Co-produção: iolanda e miguele
Letra: iolanda

“A ‘Juro Já Nem Paro’ foi talvez a canção mais desafiante para a minha equipa. Os beats, synths, 808s, sempre estiveram presentes em quase todas as músicas, mas quando chegámos à ‘Juro Já Nem Paro’ percebemos que tínhamos de ter uma abordagem mais suave. Esta canção representa uma fase muito delicada desta história toda, em que eu quis descrever o momento em que me apercebi que não havia mesmo volta a dar na relação e que dali só iria seguir eu. Escrevi esta canção já em Lisboa, e lembro-me perfeitamente da viagem que foi procurar os acordes. Queria captar essa energia frágil, triste e melancólica que eu estava a sentir, a incerteza de não saber se o outro vem, que ao mesmo tempo se desfazia em certezas minhas de que se realmente o outro não vier, também não vou ficar à espera e sigo sozinha.”


[“Quem Tem Mossa”]

Produção: Luar
Co-produção: iolanda
Letra: iolanda
Melodia: iolanda

“A ‘Quem Tem Mossa’ surgiu numa tarde de pôr-do-sol na casa da minha mãe e foi, na verdade, a primeira música que eu escrevi deste EP. Um mês depois de ter voltado de Londres, em plena pandemia, peguei na guitarra e compus uns acordes soltos e as palavras vieram de repente. Sentia-me sozinha e quando estou sozinha tenho tendência para me perder em memórias antigas ou coisas que ainda não resolvi na minha cabeça. Acho que foi um pedido de ajuda, porque foi a única forma que eu encontrei de dizer o que sentia e de pedir que me ouvissem. Foi o início da realização de que eu precisava de afogar a memória do outro de uma vez por todas, só não sabia como. E por isso escrevi e cantei-a na busca de ajuda. Tem um toque bucólico, talvez pela progressão simples dos acordes, e uma das coisas que mais gosto é termos samplado os passarinhos e outros sons que gravei na casa da minha mãe, porque sempre que tenho saudades vou lá ouvir e aquece-me muito o coração.”


[“V de Volta”]

Produção: Ned Flanger
Letra: iolanda, Rita Onofre
Melodia: iolanda, Rita Onofre

“Escrever a ‘V de Volta’ foi libertador. Deixar sair aquele peso interior que nos prende a uma pessoa, mesmo quando a pessoa já não está e só sobrou em pedaços nos pensamentos. É o momento-chave, quando te apercebes que está tudo bem em seguir sozinha. A frase ‘O que te dei não era p’ra ter V de Volta’ surge porque, depois de tudo, percebi que não podemos esperar receber o mesmo que damos, e que se damos tem de ser porque precisamos de dar e não porque queremos receber igual. E isso descansou-me. Esta canção surge como um momento de emancipação de toda a dor que guardei dentro, e a certeza de que, por muito difícil que seja sentir falta do calor entre os dois, é mais difícil não seguir em frente. E que há-de haver sempre soluções enquanto o Sol nascer todos os dias de manhã.”


[“Estas são as últimas canções que escrevo sobre ti”]

Produção: Luar
Letra: iolanda
Melodia: iolanda

“Queria fechar esta história da forma mais sincera possível. Foi num retiro com o Luar e com a Rita Onofre, em casa da minha avó paterna, que o instrumental desta faixa surgiu. No início eram só acordes soltos, mas eu senti necessidade de lhe acrescentar palavras, que fechassem o ciclo. Quase como se estivesse a escrever a última carta. Mas escrevi-a de uma forma muito leve e muito honesta. A sonoridade meio inacabada da canção não acontece à toa. Queria que soasse como uma gravação daquelas espontâneas, e queria muito que essa pessoa sentisse o quão importante foi o amor que existiu. Mas queria também deixar escrito que, em primeiro lugar, é em cada um de nós que temos de procurar abrigo e conforto – ‘em toda a parte eu sou parte do todo, e é em mim que eu começo.'”

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