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Texto: ReB Team
Fotografia: Francisco “Queragura” Gomes
Publicado a: 24/07/2025

Vislumbre inicial da urgente fragilidade de Porcelana.

[Estreia] E.se e João Tamura dão início a projecto colaborativo com “O Espaço Entre As Coisas”

Texto: ReB Team
Fotografia: Francisco “Queragura” Gomes
Publicado a: 24/07/2025

Não é a primeira vez que entrelaçam versos numa faixa, mas agora assumem o compromisso maior de casar poemas num disco em conjunto. As canetas de E.se e João Tamura voltam a dançar de mãos dadas em ”O Espaço Entre As Coisas”, o primeiro avanço Porcelana, que hoje tem o seu vídeo em estreia no Rimas e Batidas.

Em registo live captado por Francisco “Queragura” Gomes, os dois rappers debitam palavras sobre o instrumental tecido por Krayy, que recupera a doce redenção de Fafá de Belém ao clássico “Dentro de Mim Mora Um Anjo”, de Sueli Costa, e dá o tom meditativo para as rimas dos dois cristalinos MCs. O vídeo serve também para inaugurar as Sessões Hipotéticas, uma série curada pela label fundada por E.se, a Produções Hipotéticas. A versão de estúdio de “O Espaço Entre As Coisas” aterra amanhã nas plataformas de streaming.

Para já, a data de lançamento e as fichas de temas e possíveis colaboradores de Porcelana são ainda uma incógnita, mas E.se, em declarações à nossa publicação, abre um pouco mais o jogo.



Como é que surgiu a ideia de casar estes dois universos poéticos do E.se e do João Tamura? E o Krayy surge logo na mesma equação, ou só foram à procura dos seus instrumentais após delinearem o projecto enquanto dupla?

Eu e o Tamura já tínhamos iniciado estas nossas trocas de tinta na “Estocolmo” (Serotonina, 2021) e na “Rosas” (Mangrove, 2022). Foi o primeiro artista que colaborou comigo quando ainda tinha pouca credibilidade e nunca esqueci esse dar a mão a alguém que ainda não tem nome. É algo cada vez mais raro na nossa cultura, veres alguém disposto a juntar o nome ao teu, simplesmente por gostar do que ouve e não pensar em demasia se fere a sua discografia, o momento actual, se faz sentido para a fase da carreira. Nesse aspecto, o Tamura é um artista livre e independente e um rapper no verdadeiro sentido da palavra. Fast forward, uns anos depois eu mostrei-lhe um verso meu num instrumental do Krayy e ele disse de forma pragmática “rimava fácil” — frase que eu agora sei bem o que quer dizer. Quando estávamos a gravar o verso dele, perguntou-me se não queríamos unir esforços e lançar um projecto. Ambos temos um valor muito preciso para a palavra no rap e as nossas abordagens penso que faziam sentido enquanto dupla, ele a trazer mais calma e pontuação e eu com alguma inquietação e melodia. A escolha do Krayy foi natural, é um produtor muito versátil e a primeira faixa que nos tinha unido neste projecto era dele. Alem disso também é da Margem Sul, como eu, e já fazia parte da Produções Hipotéticas nessa fase em que iniciámos o projecto.

“O Espaço Entre as Coisas” é o primeiro avanço de um disco a duas vozes. Qual a mensagem que procuraram transmitir aqui e o que vos levou a definir esta faixa como cartão de visita para a obra de maior dimensão que se avizinha?

“Dentro de mim, não sabe nada de mim” — é frequente um artista procurar a compreensão através do que compõe e vai deixando cair do seu colo. Ambos neste tema falamos de querer mostrar um interior que é difícil de desmistificar a olho nu e a música acaba por ser um veículo para isso para ambos. Para nós, era consensual que esta música tinha uma paisagem sonora que era cativante e ao mesmo tempo já revelava que os instrumentais iam ser ricos e ter camadas, diferentes momentos, twists. Nós tentámos trazer essa estética para o projecto. Somos os três artistas independentes e podemos dar-nos ao luxo de explorar sonoridades diferentes. O objectivo do álbum é ser vanguardista e refrescante.

O título do álbum que anuciaram, Porcelana, remete-nos para o universo do artesanato, um tipo de criação artística mais vagaroso e até ancestral. Ao mesmo tempo, dá aquela ideia de uma certa beleza frágil. São ambos conceitos que parecem estar a cair em desuso no hip hop que mais escutamos por aí nos dias de hoje. Sentem-se a remar contra a maré no disco que vão lançar? Qual a ideia por detrás desta Porcelana?

É mesmo isso que pretendíamos transmitir com o nome do álbum, Porcelana — essa noção de beleza na fragilidade, de identidade como forma de diferenciação, de algo feito com um propósito e liberdade artística. Acho que ambos nos sentimos um pouco fora de maré, talvez num espaço nosso entre as coisas, a tentarmos criar algo refrescante e diferente, com carácter e que tenha longevidade. Acho que é esse o compromisso da nossa Porcelana.


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