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Texto: Paulo Pena
Fotografia: João Tamura
Publicado a: 17/06/2021

Escrita cirúrgica.

E.se: “Senti que fiz uma actividade de exorcismo no Serotonina

Texto: Paulo Pena
Fotografia: João Tamura
Publicado a: 17/06/2021

Fazer um álbum de 14 faixas com quase uma hora de duração, sem nunca ter feito música até então, é obra. Mas fazê-lo enquanto se exerce a profissão de médico, isso é, pelo menos por cá, provavelmente inédito e especialmente surpreendente.

Esse é o cartão-de-visita de Carlos Alves, um rapper recém-nascido no hip hop nacional que concretiza “o estranho caso de E.se“. O artista de Almada aplicou o método científico ao rap e chegou cedo às conclusões da sua demanda: Serotonina é uma endoscopia em corpo vivo e alma aberta de um médico com veia artística. Desçam ao bloco operatório do Rimas e Batidas para testemunhar a cura de E.se para todos os vossos males. 



Comecemos pelas apresentações nesta tua primeira entrevista com o Rimas e Batidas: porquê E.se?

Quando pensei no meu nome, pensei no que me motivava a escrever. E tendo em conta que tudo aquilo que eu escrevo tem muito a ver com os meus conflitos interiores e algumas preocupações e pensamentos hipotéticos que me geram ansiedade — é, principalmente, isso que, de facto, me fez querer pôr as coisas no papel, para tentar reconstruí-las —, achei que era uma boa armadura para tentar usar isso, até como identidade. E comecei na altura a desenhar o nome “E.se” e ficou assim. 

Depois, mais tarde, pensei se isso não poderia ser um obstáculo à minha música chegar melhor às outras pessoas, mas acho que é o que é. Se é o que eu me identifiquei logo no início, achei que era o que fazia sentido. E foi daí, desse contexto de “e se isto… e se aquilo…”. Aliás, na primeira música, no “Prólogo”, que é mesmo a intro do álbum, há muitas barras na música em que digo “e se…”, mesmo a dar esse mote de que foi isso que me levou a escolher esse nome.

A tua estreia discográfica aconteceu sob circunstâncias completamente improváveis. Apareceste a lançar tema a tema até editares um álbum, sem teres qualquer registo prévio.  

Eu lancei logo como singles já a pensar num projecto. Quando lancei a “Casulo”, que foi a primeira música que editei, já estava a pensar, na altura, num álbum. Como eu queria apresentar-me com um projecto que revelasse a minha identidade e as razões pelas quais eu escrevo, e como também não tenho uma visão monetária do meu projecto e da minha música, não tentei fazer esse jogo, até porque tinha sido uma altura má para lançar o disco. Se eu pensasse levar o meu projecto ao vivo ou tentar monetizar com ele, se calhar tinha feito mais sentido lançar uns singles, um EP antes, e depois lançar um álbum. Mas, na altura, quando comecei a escrever… aliás, a “Prólogo” até foi das primeiras músicas que fiz e já a escrevi a pensar que ia ser uma introdução para o meu álbum, e depois, a partir daí, fui fazendo algumas músicas. A “Casulo” já veio depois disso, apesar de ter sido a primeira a sair como single

E como é que alguém que nunca fez música decide começar logo com um álbum?

Eu sou um bocado obsessivo nas cenas e meti na minha cabeça: “eu vou fazer um álbum”. O meu objectivo sempre foi esse, se calhar por a principal maneira de eu consumir música ser através de álbuns, e gostava do formato, pode ter sido por aí. Porque eu comecei a ouvir hip hop muito compulsivamente; não fui atrás de singles. Agora, hoje em dia, como já estou mais dentro da cultura até em termos do que sai, posso ouvir uma música assim que ela sai. Mas, como eu fiz um estudo retrospectivo, eu consumi álbuns de, imagina, Outkast, A Tribe Called Quest, desde o início, até chegar a Isaiah Rashad e Kendrick Lamar e por aí fora. Foi esse formato que me cativou mais. E quando meti na cabeça que queria fazer rap, transformar aquilo que eu escrevo em coisas expostas, quis fazer isso como um álbum de apresentação. 

Ao longo de um ano e meio, dois anos, fui melhorando, tanto que regravei músicas antigas.

No fundo, num ano e meio, dois anos, comprimiste um processo de evolução de vários anos. Começaste ingenuamente e foste percebendo como é que se faziam as coisas.

Completamente ingénuo! [Risos] A gravar one take e a mandar. Não tinha mesmo noção; eu achava que o processo de mistura e masterização tinha um…

Efeito mágico? 

Ya… [risos] na qualidade como aquilo soava. E, quando mandei, percebi que, para já, a minha casa não tinha condições de isolamento na altura. Depois, fui inclusivamente a um estúdio, mas não era de pessoas [com experiência a gravar artistas] de hip hop e não estavam a perceber o que era gravar take take. Depois, quando comecei a gravar em estúdio com o Sahid, em Almada, foi um grande coaching, mesmo, e o input que ele me deu… eu gravava uma música em três, quatro horas e saía de lá com uma escola completamente diferente, e à medida que fui gravando — eu gravei umas quatro ou cinco músicas com ele lá —, o processo foi completamente diferente daí para a frente. Depois gravei com o Virtus, no Porto, talvez umas quatro ou cinco músicas do álbum e as restantes gravei em casa, já com uma escola, uma noção diferente.



Nesse processo de experimentar e gravar as primeiras músicas foste, naturalmente, para um registo mais cantado a rimar desde o início?

Por acaso, a primeira música que eu gravei tinha logo um refrão mais cantado, se calhar, do os que eu tenho agora no disco. Eu não queria ir tanto por ali porque a música tinha mesmo muitas barras, mas o refrão era mesmo muito cantado, quase pop, e eu não estava a curtir muito, por isso é que acabei por não incluir. Mas, sim, desde o início que a minha vertente — e, se calhar, porque algumas das minhas influências, nomeadamente o Mac Miller também tem muito isso, especialmente mais recentemente, essa parte mais melódica. Muito do hip hop americano que eu gosto —Saba, Smino, Earthgang e por aí fora — têm essa componente melódica instituída sobre os flows mais arrojados. E, portanto, quando comecei a gravar e a escrever, já tinha essa ideia. Acho que sim, desde o início tive essa intuição.

Imagino que a tendência, no início, não seja começar a cantar, mas sim rimar de uma forma mais monótona. Como é que no teu caso se deu o contrário e começaste logo por um caminho mais cantado?

É assim, eu normalmente estudava a música, porque eu já escrevia para um beat; foram poucas as músicas que eu gravei para o meu primeiro álbum em que não escrevi logo para o instrumental. E, portanto, como eu já tinha o instrumental, depois fraccionava em partes e via mais ou menos pelos compassos onde é que eu queria fazer determinadas coisas. Depois, quando estava a gravar — e isso já me aconteceu mais agora para o final —, gravava um verso e a seguir já trauteava a melodia que eu queria para a cena seguinte. Tem sido assim, foi dessa maneira que eu fui fazendo o processo, mas foi uma cena que fui afinando ao longo do caminho.

Para além das influências que já mencionaste, vejo na tua forma de cantar influências fora do rap. Tiveste algumas conscientemente?

Eu oiço muita música. Aliás, o rap entrou numa fase em que eu já ouvia muito blues e jazz, bossa nova e por aí fora. Quando estava a estudar, ouvia mesmo álbuns inteiros. Mas, por acaso, inicialmente o que eu ouvia enquanto puto era o que a malta da minha geração ouvia, tipo Limp Bizkit; era o que me chegava, não procurava muita música na altura. Gostava bastante de Pearl Jam e The Doors, mas eram sempre coisas que… por exemplo, The Doors é porque tem blues por trás. The Rolling Stones também. Sempre foi nessa vertente. Tanto que até os elementos que eu mais gosto nos instrumentais são os que têm mais componentes de soul ou de blues. Sentes uma certa melodia que fica, e é isso que me apela mais nos instrumentais. Mas pode ter sido, posso ter ido beber disso. Agora a maioria das coisas que eu ouço… blues é muito vocal. B. B. King, Freddie King, Albert King, eles têm todos elementos vocais associados. O jazz nem tanto; é puramente instrumental o que eu ouvia. 

Agora sobre as tuas letras, as tuas são particularmente densas, tanto em termos de forma como do que estás a dizer nelas. Pela maneira como estruturas as canções, e por teres muitos elementos e cantares em flows que não são nem fáceis nem comuns, não sentes que não poderás estar a…

Complicar?

Sim, de certa forma. Se a letra não acaba por ficar em segundo plano no todo da canção?

Sim, é um desafio, porque, para já, aquilo que eu mais ambicionava, além de ter um conteúdo estético que me apele quando acabo de fazer a música, era não perder esse conteúdo estético que me motivou a fazer isto inicialmente, que foi a escrita. Ainda para mais porque a escrita, como tu disseste, é densa e pode, às vezes, não fazer um par muito equilibrado. Acho que em projectos futuros, que já tenho pensados, o meu objectivo será fazer as coisas de uma maneira um bocadinho mais equilibrada e dar a cada música aquilo que ela precisa, e não tanto aquilo que eu quero fazer dela. Ou seja, não tanto mostrar num instrumental que eu tenho estas skills todas, como tinha essa fome neste primeiro projecto. Portanto, sim, posso admitir que, se calhar, a maneira como eu me expresso vocalmente pode, às vezes, fazer pouco sentido com aquilo que eu estou a dizer em termos de complexidade de escrita. O meu objectivo é não encher tanto de escrita as músicas, para não ficarem tão densas, porque isso, às vezes, até era uma coisa que eu forçava. Se eu olhasse agora para o instrumental, se calhar tinha feito as coisas de maneira diferente, mas não perdendo a identidade da escrita complexa, porque acho que isso é uma coisa que me define e também não seria muito honesto agora querer simplificar coisas quando eu não as vejo assim; não é a minha maneira de ser. No fundo a expressão é essa: dar à música aquilo que ela precisa e não aquilo que eu quero forçosamente que ela seja.



Se calhar expliquei-me mal, porque eu acho que a questão nem é tanto o facto de as canções terem muitas rimas ou serem muito densas. Em vários momentos senti que certas rimas não respiraram o suficiente. 

Estou a perceber o que estás a dizer. Concordo contigo e será um desafio para mim, no futuro, depois de ter saciado essa vontade que eu tinha de pôr coisas cá fora. Até porque agora na ideia de transpor isso para formato live apercebo-me disso, a dificuldade que é estares a mandar muitas barras seguidas, quase sem espaço entre elas, e teres espaço para respirar, para a seguir entrar um flow rápido, é difícil. Agora que estudo as coisas de maneira diferente, eu concordo com o que tu dizes. Acho que é uma cena que vou adquirindo ao longo do tempo, mas o desafio é esse: não perder muito a complexidade e a identidade daquilo que eu quero dizer.

Se bem que tu até falas rápido… Imagino-te a cantar ao vivo estas letras.

Ya, ya… [Risos] por acaso é uma cena que me dizem no meu dia-a-dia. Para o rap é fixe, mas para o meu dia-a-dia as pessoas já dizem “fala um bocado mais devagar, não percebi nada do que disseste”; para o meu trabalho, especialmente.

Por outro lado, em relação a estes pormenores que estamos a falar, não posso ignorar que este é o teu primeiro álbum e também as primeiras músicas que fizeste.  E por outro lado, por estar tão bem-conseguido, faz-me ter um critério sobre a tua música como se já tivesses vários anos disto.

Mas eu procurei isso. Tanto que quando procurei o Virtus — agora posso dizer que somos amigos —, foi no sentido profissional porque eu queria essa qualidade, procurava isso. E mesmo nos instrumentais, embora no início eu fosse muito para type beats, demorei muito tempo a encontrar uns com que me identificasse e quisesse rimar. Depois disso falei com o Virtus para pós-produzir porque eu queria ter esse nível seguinte. Embora seja o meu primeiro projecto, eu pus essa fasquia para mim mesmo. Isso que tu disseste é mesmo fixe e fico contente de, às vezes, se esquecer que é um primeiro projecto, por já ter um nível em que não pareço principiante. Isso para mim é um orgulho, mas também foi aquilo que eu procurei, em todos os níveis, desde a produção à masterização, à mistura. 

Como é que se deu essa relação com o Virtus?

É engraçado porque até acho que há uns certos paralelismos na nossa maneira de pensar e viver no dia-a-dia, e acho também que foi isso que fez o facto de nos darmos tão bem. Mas, na verdade, eu tinha-lhe comprado o disco UniVersos e, na altura, mandei-lhe a primeira música que tinha feito. E ele viu lá qualquer coisa e disse-me: “olha, porque é que não alugas um estúdio para melhorares um bocado a qualidade da captação, porque, neste momento, como está, eu posso fazer-te isto e devolvo-te, mas se calhar não vais ficar contente com o resultado e tem potencial para ficar melhor”. Logo isso foi… É completamente diferente, alguém que seja puramente profissional pegava naquilo e fazia; era o que a maioria das pessoas faria. Depois, eu gravei no tal estúdio daquele people que não era muito do hip hop e mandei-lhe, e ele disse: “a qualidade de captação até está um bocado melhor, mas os teus takes estão iguais aos de casa porque estão gravados quase one-liners”. Então, deu-me umas dicas de equipamento para eu poder adquirir por um preço fixe, para pôr cá em casa. Depois desde aí fomos falando. 

Quando estive no Porto a trabalhar durante três meses nessa altura tinha feito o beat do “Prólogo” e já tinha gravado, só que aquilo não me soava bem. Na altura, vê lá, eu nem sabia fazer as cenas por BPMs. E mandei ao Virtus, para ver se ele conseguia co-produzir aquilo para soar a uma boa música, na verdade. Andámos a trocar para a frente e para trás, até que eu lhe disse que estava no Porto e que, se calhar, era mais fácil eu ir ter mesmo com ele. E, pronto, desde aí ficámos mesmo amigos além do processo puramente profissional. Eu gostei tanto da maneira dele trabalhar, que acabei por fazer a mistura e a masterização das músicas todas do disco com ele.

Essa é daquelas que tinha de ser…

Mesmo a sério! Nós falamos muitas vezes disso. Num ano e meio criámos uma amizade muita próxima, de falarmos semanalmente.



Continuando pelo álbum, em vários temas falas continuamente no Pretérito Imperfeito. A sensação que me deu foi que essa é uma maneira contemplativa de estares a olhar para o teu passado, quase como visto de fora.

Sim, sim. É verdade o que tu dizes. Os meus processos de crescimento, através de frustração ou de ansiedade ou de pensamentos negativos, foram mais no passado — numa fase mais no final da faculdade. Acho que na fase inicial vivia para estar com os outros, e até falo disso na “Casulo” e na “Serotonina”. Eu não tinha percepção das minhas fragilidades e inseguranças, e numa altura em que começas a aproximar-te da vida profissional, começas a ter um bocado mais de solidão e a lidares mais contigo próprio e a perceberes porque é que fazes determinadas coisas ou não fazes. Nessa altura foi um momento de reconstrução, e essa auto-percepção pode ser um bocado dolorosa. Olhando em retrospectiva, o meu disco faz essa jornada. Agora, o facto de eu ser ansioso ou um bocado obsessivo com as coisas no meu dia-a-dia são traços meus; não vão desaparecer. Portanto, ao olhar para trás e descrever esse trajecto, consigo reorganizar-me e pensar que estou cá e que cresci sobre isso. Claro que, quando são coisas mesmo negativas para ti, acho que deves tentar mudá-las, mas quando são traços teus que estás a vida inteira a remar contra eles… é mais fácil aceitá-los e veres como é que podes usá-los a teu favor. Eu não deixei de ser assim. Esse processo de retrospectiva e de reconstrução foi muito útil, e até no sentido de se mais pessoas se puderem identificar com aquilo que eu passei.

Tenho sempre esta curiosidade sobre artistas que escrevem muito sobre si próprios e de forma encriptada: quando escreves sobre a tua experiência e aquilo que sentes, acontece ires por um caminho que não é tão fiel ao que pensas, para conseguires ter uma letra bem-conseguida e estruturalmente bem construída?

Sim, na parte de estar encriptado, sinto que sim. Mas acho que, agora quando estava a escrever as letras todas, para passá-las para o YouTube, até estava relativamente orgulhoso porque achei mesmo, por exemplo no “Serotonina” ou no “Melancolia Vespertina”, estão ali momentos que são mesmo reais e genuínos àquilo que eu sinto. No “Serotonina” está mesmo lá escrito o processo de… eu era uma pessoa que via sempre o copo meio cheio e não tinha bem percepção dessa cena, porque via um bocado a vida em fotografias e não me preocupava muito com os negativos — estava só a revelar cenas instantâneas. E, depois, percebi que a minha [escrita] era um bocado assim, não era muito sustentada por uma estrutura. Por isso, eu até acho que consegui não sacrificar muito a genuinidade daquilo que queria dizer, mas percebo que possa ser difícil falar de uma coisa tão íntima mas ao mesmo tempo fazê-lo por rimas; não é assim tão fácil seres honesto àquilo que estás a pensar. 

Isso gera-me uma questão que é: eu aqui sinto que já esgotei um tema importante da minha vida, e agora gera-me o desafio de o que é que nas próximas músicas vou abordar em conteúdos, porque não quero ser repetitivo. Em termos de tópicos é falar de coisas que para mim também continuam a ser importantes e que eu queira na mesma escrever sobre elas. É um desafio.

Tocaste num ponto que vem coincidir com uma frase tua que eu assinalei, em que dizes “vivo de mim e de mim para os outros”.

Essa cena no “Bran”, na altura, quando saiu, saiu mesmo espontânea; depois é que me apercebi, no fundo, o que é que eu estava a dizer.

Tento não deixar de fazer isso porque faz parte de quem eu sou, mas acho que é mesmo importante as pessoas fazerem cenas por elas próprias. Eu ter feito um álbum foi mesmo uma cena que fiz de mim para mim.

E, olhando para trás, sentes que ficaste melhor resolvido nesses assuntos que tentaste exorcizar e que tens outra percepção de ti e daquilo que pensas?

Sem dúvida. Especialmente mais quando os estava a fazer e a escrever. Acho que depois é um bocado, infelizmente, water under the bridge. A cena passa e parece que te esqueceste que fizeste aquilo. Aliás, às vezes sou tão exigente comigo próprio que nem saboreio as cenas. Até me lembro das primeiras vezes que tive aquela contemplação: “eu fiz um disco”. Às vezes, páro para pensar que meto determinados standards e objectivos, e não os saboreio muito porque já estou a pensar no que é quero fazer a seguir. Como agora que lancei o disco e já estou a pensar no que quero fazer a seguir. Não é que não queira absorver a energia e o impacto que o disco teve, mas, por outro lado, como tenho o objectivo de fazer coisas diversas, parece que, às vezes, não faço esse exercício.

Respondendo à pergunta, na altura, quando fiz as músicas, sentia isso. Agora, quando as reli, senti que fiz uma actividade de exorcismo. Mas não bebo, no dia-a-dia, da minha letra por a ter escrito. Libertei-me dela na altura, foi fixe voltar a ler e saber que fiz isso, mas acho que, no fundo, olho para mim e sei que consigo ultrapassar novamente as coisas.

Em relação às participações no disco, além do Virtus e do Wake Up Sleep na produção, só tens o João Tamura numa faixa. Tinhas pensado, desde logo, convidá-lo?

Não, não. Foi engraçado. Eu só tinha uma colaboração inicialmente pensada para o disco, que até acabou por não acontecer, pelo menos para já; ficará, eventualmente, para o futuro, porque eu deixei a música na gaveta para isso. Com o Tamura foi muito genuíno porque ele, na altura, disse-me que tinha curtido muito de uma música que tinha partilhado, e eu disse-lhe curtia de fazer um remix do “Terminus”. E o Tamura disse: “um remix não digo, mas se quiseres fazemos um som em conjunto”, e surgiu daí. Como tinha esse tópico que eu queria abordar no disco e ainda não tinha feito uma música, achei que era a pessoa que fazia todo o sentido para se juntar a mim naquele tema — o “Estocolmo” —, e ficou uma música que é das que mais me orgulho no meu disco.

Acredito que tenhas alguma vontade de tocar este disco ao vivo. Tens planos para isso?

Tenho planos para fazer, agora a curto prazo, uns formatos de showcase que curtia de ter disponíveis no meu canal. Em termos de transformar o projecto para versão live, a minha ideia até era fazer um bocadinho diferente daquilo que está no projecto. Mas a minha ideia para fazer ao vivo era uma coisa selecta, no sentido de escolher dois ou três concertos e fazer uma coisa dedicada, com um nível fixe, e fazer uma coisa íntima. Esse era o meu objectivo para a minha versão live do disco.


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