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Publicado a: 14/03/2017

Especial Casa das Máquinas: Market, a outra face do Lisboa Dance Festival

Publicado a: 14/03/2017

[TEXTO] Manuel Rodrigues [FOTOS] Manuel Abelho

Máquinas, máquinas e mais máquinas. Para um amante deste universo de aparelhos electrónicos, o espaço Market do Lisboa Dance Festival facilmente se transforma num encantado paraíso, onde a curiosidade e a imaginação passam do abstracto ao concreto e onde o sistema nervoso se cruza com uma infindável quantidade de circuitos e transdutores. Transpor o portão do Market é como entrar na mais requintada divisão do palácio de Versailles, onde tudo é revestido a talha dourada e onde o brilho das jóias nos ofusca a visão. Neste caso em particular, são as máquinas que assumem esse papel. Os botões piscam ao longe, como semáforos irrequietos, e trazem à lembrança complexos e sofisticados cockpits de naves espaciais. Este ouro tem luz própria; não precisa reflecti-la.

O espaço Market divide-se em várias vertentes: conferências, masterclasses, merchandising e exposição e venda dos mais variados tipos de maquinaria dedicada à música electrónica. Numa dessas bancas, podemos encontrar Nuno Luis e Paulo Dilight, CEOS no Centro i4DJ, que, para além de assumir uma vertente de ensino, também possui uma loja online, a Store4DJ. A par de marcas como a Pioneer, da qual são revendedores, o stand da i4DJ também tem à sua disposição equipamento da Roland, mais precisamente a gama Aira, que reúne aparelhos como o TB-3 (para linhas de baixo), o VT-3 (para voz) a TR-8 (emulação da TR-808) e o System-1 (sintetizador de quatro vozes). Experimentámos os dois últimos desta lista, e, acreditem em nós, valem mesmo a pena. O TR-8, não sendo, obviamente, uma cópia exacta do monstruoso clássico que já aqui passámos a pente fino, não deixa nada a desejar. Intuitivo, fácil de transportar e, claro, como não podia deixar de ser, mais económico. O System-1, por sua vez, é o tipo de sintetizador capaz de nos prender aos seus botões durante horas a fio, dada a facilidade de manipulação e a sua própria sonoridade.

 


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Logo ao lado, o stand da Omisonic International, representado por João Neves, propõe uma vasta oferta em marcas como Focusrite e Novation (estivemos à conversa com Chris Calcutte, especialista britânico da marca, que esteve em Portugal para uma masterclass no âmbito do Lisboa Dance Festival – publicaremos essa entrevista no decorrer dos próximos dias). Sobre uma mesa de plástico, uma montanha de paralelepípedos avermelhados destacam-se do restante equipamento. São, na verdade, alguns dos membros da nobre família Scarlett, da Focusrite. Há para todas as necessidades, do simples ao complexo. Da Novation, realce para os modelos Launch Key, Launch Pad Pro, Mininova e Circuit. Todavia, é no Bass Station II que mais tempo perdemos, embrenhados no magnífico leque de sonoridades que este aparelho nos oferece -começando na mais grave, que certamente encaixaria bem num beat trap, acabando na mais aguda, que se enquadraria na perfeição numa canção funk. Novamente a intuição a fazer-se valer: não é preciso ter um doutoramento em música electrónica para meter esta máquina a funcionar e para dela extrair umas boas linhas de baixo, seja nota-a-nota ou em harpejo. Acreditem, é altamente aditiva. Mantenham a distância se não quiserem tornar eremitas.

Entre os dois stands podemos encontrar outro monstro da música electrónica. Não, não falamos de nenhuma marca em particular, mas sim de Zé Migl, antigo proprietário da loja MK2 e símbolo maior da música electrónica em Portugal. Na sua bancada de trabalho, ergue-se toda uma gama de produtos da Arturia, alguns deles interligados por sincronismo, outros completamente independentes. Mesmo à sua frente, destaca-se uma máquina diabólica capaz de deixar qualquer um a salivar. Trata-se do Matrixbrute, um sintetizador analógico, que, como o próprio nome indica, não é nada meigo na forma como se expressa. A qualidade de som é inarrável; a possibilidade de caminhos que permite, infinita. O set de Zé Migl, baseado no improviso, confirma-o. Haja arte, que o engenho já aqui está.


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A única nota negativa para o espaço Market vai para o facto das conferências e masterclasses se realizarem no mesmo espaço da experimentação de máquinas, adjacente ao palco principal do festival. Ou seja, nem se faz bem uma coisa, nem outra. No momento da masterclass de Gustavo Carvalho, que abordou o ramo da masterização, exemplificando com plugins da SSL e da Shadow Hills, o ruído oriundo da divisão do lado, a Fábrica XL (em período de ensaios de som), camuflou uma boa parte da matéria leccionada. Na altura do teste de máquinas, o volume da escuta foi reduzido para muito menos de metade para não importunar (compreende-se, claro) as conferências. Solução? Separar a voz da batida, criando um espaço isolado e específico para as conferências e masterclasses numa das centenas de salas que podemos encontras no LX Factory. Só assim se evita a salada de sons em que, a dada altura, o Market se tornou. Bem temperada, claro. Mas não deixou de ser uma salada.

 


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