Na América do pós-Guerra, a indústria musical está em total transformação. O adolescente é, pela primeira vez, reconhecido como algo entre uma criança e um adulto (em Portugal só depois do 25 de Abril!) e, enquanto os putos vibravam com o seus singles de rock’n’roll que a rádio lhes apresentava, uma nova forma de produzir e experienciar música “mais crescida” começava a ser vendida aos adultos: a a alta fidelidade sonora. Discos de efeitos sonoros, de música clássica ou orquestrada, de musicais ou filmes são produzidos e colocados à venda em massa, com temáticas chiques como “cocktail”, “viagens de avião”, “férias” em locais paradisíacos, e, claro, o “amor”. O advento também do LP em 12 polegadas como formato-rei fez com que muitas das capas destes discos se tornassem autênticas obras de arte, sendo um dos actuais ex-libris deste movimento que ficou conhecido como easy listening.
Há uma certa ideologia de “requinte branco” que ainda hoje está associada a este tipo de música, maioritariamente instrumental, de tempos rápidos e orquestrações leves de big-bands. Mesmo hoje em dia em mercados de discos em segunda mão, é prática comum em todas as caixas de LPs encontrar-se um James Last, um Ray Conniff ou um Andy Williams. Dois nova-iorquinos de nome semelhante, Dick Hyman e Richard Hayman, são ambos reis sem coroa desta música fácil de ouvir.
Hyman e Hayman contabilizam centenas de registos discográficos desde os princípios da década de 50 e, no final dos 60s, acolheram sintetizadores Moog nas suas orquestrações por breves períodos de tempo, não só para criar novas melodias como diferentes timbres de percussão.
[Dick Hyman] “Strobo”
Single isolado de 1969 em que a pulsação do techno acompanha toda a faixa.
[Richard Hayman] “Samba de Victoria”
Também de 1969 e pela mesma editora, Command, outra sequência de ritmo electrónico muito antes do seu tempo.
[Richard Hayman] “The Windmills of Your Mind”
Num original de Michel Legrand do mesmo LP, um break mesmo a la MF DOOM a partir dos 90 segundos, já que o “The Look of Love” já foi samplado pelos Slum Village.
[Dick Hyman] “Give it Up or Turn It Loose”
Uma adaptação de um tema popularizado por James Brown, que serviu de ingrediente para Beastie Boys ou Coldcut.
[Dick Hyman] “The Minotaur”
O melhor solo de Mini Moog que irás ouvir hoje, e certamente o “Minotaur” é uma referência à monofonia do sintetizador.
[Richard Hayman] “Where’s Prince Brilliant”
Terceiro tema do disco Electronic Evolutions, de 1973, para os break diggers.
[Dick Hyman] “Fantomfingers”
Já sem o Moog, Hyman dedica um disco aos orgãos electrónicos da Baldwin.