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Fotografia: Aidan Kless
Publicado a: 21/04/2020

Uma beat tape terapêutica da autoria do DJ e produtor das Caldas da Rainha.

DJ Ride: “A música é das coisas que nos tem ajudado mais a desanuviar e a ‘viajar’ para fora das paredes impostas pela quarentena”

Fotografia: Aidan Kless
Publicado a: 21/04/2020

DJ Ride juntou-se ao artista visual Phries para a concepção do projecto multidisciplinar Beat Tape, Vol. 1. A música, criada pelo homem que também é metade dos Beatbombers, já está disponível para ser escutada nas plataformas digitais, enquanto os vídeos que acompanham as 15 faixas serão lançados, um por dia, a partir de 26 de Abril.

Capicua, Slow J, Valas, Boss AC e, claro, Stereossauro, com quem partilha o os dois títulos de campeão do mundo de scratch pela IDA, são alguns dos muitos artistas que têm recorrido às produções de Tomás Oliveira para embelezar os seus trabalhos a solo. Actualmente menos activo na vertente de batalha entre DJs — a última aparição de Ride neste circuito foi através de um wild card ganho para o Red Bull 3Style, há pouco mais de um ano — o DJ e produtor das Caldas da Rainha tem vindo a cravar cada vez mais o seu nome nos catálogos das labels que ditam as tendências da sempre efervescente beat scene no universo SoundCloud, como a SATURATE, Playaz, LEViT∆TE ou a Quality Goods Records, tanto a solo como em colaboração com outros artesãos da batida. O EP MERAKI, editado no final de 2019, foi o seu último trabalho em nome próprio e abriu-lhe a porta da Slow Roast Records, fundada por um dos seus heróis do turntablism, DJ Craze.

Em Beat Tape, Vol. 1, DJ Ride diz “até já” à bass music e às várias sonoridades que a partir dela se ramificam e às quais vemos o seu nome associado mais frequentemente. Boom bap lo-fi é o combustível que move estes 15 novos temas instrumentais, nos quais a crueza do som foi o atributo em maior destaque, extraídos a partir da sua habitual combinação entre o digital e o analógico. Stereossauro, Holly, Dead End e Vasco Reis Ruivo foram os artistas convocados por Ride para contribuir com alguma da sua criatividade para o disco, que é uma edição da Beat Palace e estará em breve associado a uma componente visual bastante vincada, fruto da colaboração com Phries, que numa rápida troca de impressões com o ReB abriu um pouco o jogo face ao que vamos poder encontrar no YouTube a partir do dia 26 de Abril: “Uma viagem. Sem dúvida que esta beat tape é uma viagem. Visualizei automaticamente o ‘nascimento’, ‘adaptação’ e ‘desconstrução’ de um ser, tentando desviar-me sempre do humano. Espero ter conseguido passar essa ideia. É sempre um prazer trabalhar com o Ride, este projecto não foi excepção!”

Em seis respostas, Tomás Oliveira definiu os traços genéticos deste híbrido Beat Tape, Vol. 1.



Há uma clara distinção entre a sonoridade desta beat tape e os mais recentes projectos que tens editado. O que te motivou a dar este passo?

Sim e não. Se compararmos aos meus últimos releases em labels internacionais, onde exploro sonoridades mais bass/electrónicas, há uma diferença. Mas, por outro lado, se ouvires os instrumentais que tenho produzido para rappers, ou os meus álbuns ou outras colaborações, há bastante em comum. Eu vejo uma beat tape como algo mais ”descontraído” comparativamente ao formato álbum, algo assumidamente mais raw. Já há bastante tempo que queria fazer uma beat tape. Eu vou acumulando muitos instrumentais que vão ficando na gaveta e isto é uma boa maneira de os poder partilhar.

Dá para perceber que o Dilla é uma das tuas grandes influências dentro deste registo, a quem dedicas até um dos instrumentais. Indo à cena mais contemporânea, especificamente à grande comunidade lo-fi que reside no SoundCloud, tens acompanhado o que se tem feito dentro destes moldes? Há alguma cara nova que te ande a inspirar?

Sem dúvida que o Dilla é uma das minhas maiores inspirações, deve ser dos artistas que tenho mais discos na minha colecção de vinis. Sou aquele gajo que até compra alguns discos porque tem um sample que o Dilla usou, ou várias cópias do mesmo single ou álbum. Continuo a ouvir muito os grandes beatmakers clássicos, mas estou sempre atento aos newcomers, até porque uso o SoundCloud e Bandcamp todos os dias.

Na capa do trabalho dás destaque à MPC, ao gira-discos e ao MAC, que presumo que tenham sido as ferramentas às quais recorreste para esculpir estes beats. O que mudou durante o teu processo criativo ao teres adoptado este arsenal e ao alterares a tua rota para o boom bap lo-fi?

A minha plataforma preferida é o Ableton Live, faço tudo lá. Usei bastante o meu Moog para algumas basslines e outras máquinas. Eu continuo a usar a MPC 2000XL e MPC60II que tenho desde 2007, quando quero mesmo aquela sonoridade mais raw ou para dar outro punch aos drums. Muitas das programações começaram na MPC e depois gravei para o Ableton, como costumo fazer noutros projectos de formas menos óbvias. Não há nenhum plugin ou VST que consiga substituir o swing e a sujidade de uma MPC. O processo criativo não mudou muito para este projecto, provavelmente usei menos pistas e tentei uma abordagem mais ”minimal”. Também não me quis limitar a nada, houve beats que começaram de samples que tenho em vinil, outros de packs do Splice, outros de sessões de estúdio que tive, como por exemplo a collab com o Vasco no último tema.

Relativamente aos convidados que recrutaste, recorreste aos “suspeitos do costume” sem descuidar a sonoridade que idealizaste para este trabalho. Foi fácil largar os “vícios” que foram criando durante as últimas colaborações que tens feito com eles?

Com o Dead End e o Holly basicamente foi fazer um tema sem drops [risos]. Com o Holly, nós tínhamos aquele instrumental na gaveta desde o Verão, até tinha uma segunda parte mais electrónica mas não fazia sentido para a beat tape, então acaba por ser um edit de outro tema. Ao Dead End, eu falei-lhe que estava a fazer algo mais chill e ele enviou-me uma ideia incrível e trabalhei por cima. Com o Stereossauro, provavelmente neste momento temos mais de uma centena de beats na gaveta a aguardar resgate, este foi um deles.

O nome que salta mais à vista nos créditos é o do Vasco Reis Ruivo, que sei que já trabalhou a vertente de vídeo para o Stereossauro mas julgo nunca o ter visto a assinar nenhuma música. Como é que ele entrou na equação para este disco?

Eu “roubei” a guitarra do Vasco Reis Ruivo de uma sessão que tivemos com o Slow J no estúdio dele, no ano passado. Eu já nem tenho as pistas desse instrumental mas felizmente guardei o ficheiro WAV e soa bem. Aquela guitarra dele tem um feeling incrível e achei que era mesmo um tema bom para fechar a tape.

Há ainda uma outra particularidade neste trabalho, que é o facto de teres preparado um vídeo para cada uma das faixas com a ajuda do Phries, com quem já te cruzaste em trabalhos anteriores. O que podemos esperar do acompanhamento visual desta beat tape? Há algum conceito que tenham desenvolvido os dois para interligar todas as peças?

Esta beat tape foi feita nos últimos meses, mas com a situação complicada que vivemos actualmente eu pus o projecto em hold e pensei várias vezes se devia ou não estar a lançar coisas agora. Mas a verdade é que a música é das coisas que nos tem ajudado mais a desanuviar e a “viajar” para fora das paredes impostas pela quarentena. Por exemplo, quando faço streamings e recebo mensagens de pessoas que não conheço a dizer que àquela hora as fez desanuviar ou melhorar o dia, ou esquecer por momentos esta altura complicada para todos, isso dá-me vontade de partilhar mais música e estar mais activo nas redes, até porque também funciona como terapia para mim. A parte visual é sempre muito importante e não queria só pegar nisto e pôr no Spotify, então lembrei-me de desafiar o Phries e tornar tudo isto mais especial. A parte áudio já está disponível nas plataformas digitais e a partir de dia 26 vamos partilhar um video por dia, durante 15 dias. Eu adoro o trabalho do Pedro e, como é costume, dei-lhe total liberdade criativa. As músicas ganham mesmo outra vida com os visuals dele, daí querer mesmo que este fosse um projecto DJ Ride x Phries.


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