Já são conhecidos os nomes que vão dar música e contribuir para a maior celebração da arte e cultura contemporânea em Portugal, Serralves em Festa, que acontece no Porto no final da próxima semana através de uma maratona de 50 horas de música sem paragens. Num programa repartido entre o final de tarde de sexta-feira (31 de Maio) e a noite de domingo (2 de Junho), podemos contar com vanguarda musical entre o emergente e o histórico, entre o local e o mais distante, em estilos e linguagens musicais que ilustram a diversidade e promovem a inclusão. Uma vez mais, está garantida a entrada gratuita a todo os espaços da Fundação de Serralves durante as festividades.
No arranque dos três dias há palco para Glockenwise, que contam com uma convidada especial — Ana Deus —, noite onde são esperadas mais músicas no feminino, com Surma e a violinista e cantora canadiana Jessica Moss até à representação da rave no-wave de Petronnn Sphene. Aguardada é a prestação de Jeremiah Chiu da editora International Anthem de Chicago, onde recentemente editou In Electric Time, uma obra que expressa um sentido orgânico à electrónica desde uma exploração sónica concebida no interactivo Vintage Synthesizer Museum de Los Angeles. Haverá ainda palco para as vozes performáticas do colectivo COBRACORAL com “S-P-H-Y-M-O”, que junta Ece Canli a Catarina Miranda e a Clélia Colonna, e que se anuncia com presença diária até domingo, tal como Margarida Mestre com “Vocais e Vegetais”. Ainda nos primeiros andamentos haverá Bégayer, Saya (em DJ set) com Bárbara Paixão, Piurso, e Mafalda BS.
O destaque do dia intermédio vai para os pioneiros Tangerine Dream, precursores da música electronica em actividade desde 1967 e que ainda no ano passado passaram pela Casa da Música em concerto. Históricos também são os santomenses África Negra que trarão a celebração dos ritmos e melodias do arquipélago ao parque de Serralves. Os sons de krautrock ligados ao pós-punk dos londrinos Snapped Ankles será outro dos momentos esperados do programa num grupo que assume diversas e dispares inspirações, de Jean-Luc Godard a Fela Kuti. O exótico mundo de Bruno Pernadas estará em celebração com os 10 anos do incontornável How Can Be Joyful in a World Full of Knowlegde. Com presença assegurada estarão os padrões cromáticos inspirados tanto pelos teclados de Tiago Sousa como pelos sintetizadores de Rita Silva. O lado mais rijo da festa terá lugar na afro rave despontada por Toya Delazy que juntará a lírica zulu, tal como no palco onde estará Lenna Bahule, cantora e activista moçambicana, num cruzamento afro-cultural para o mundo. Haverá ainda espaço para apresentações de Mike Kuun (aka NAH), Gooooose, Lagoss, Serpente, João Não & Lil Noon, Indus, SFISTIKATED, Miguel Pipa e do colectivo multidisciplinar Ensemble Decadente.
Ustad Noor Bakhsh merece toda a atenção, um virtuoso tocador do enigmático cordofone benju, que o etnomusicólogo Daniel Ahmed ajudou a revelar já nesta década para além das paragens remotas na costa do Balochistão (Paquistão). Actualmente Bakhsh está em digressão mostrando a inebriante sonoridade até então desconhecida de muitos. Exotismo instrumental trará igualmente Fimber Bravo, exímio percussionista de steel pan, vindo de Trinidad e que colabora com diversos músicos num cruzamento de culturas musicais. Gravou Street Liming com Zongamin, o músico de Vanishing Twin onde Valentina Magaletti é baterista. Magaletti que estará na festa com CZN, o duo de percussão com João Pais Filipe. Ainda no campo da experimentação sonora, haverá a actuação de Maria da Rocha, violinista e violetista e que tem no registo a solo Beetroot & Other Stories um marco editado pela criativa Shhpuma. Chamada de atenção para o que será a prestação de Kabeaushé, produtor de uma musicalidade que mistura hip hop e electrónica e que se revela em The Coming Of Gaze, editado pela ugandesa Hakuna Kulala. O recém formado duo AGRESSIVE GIRLS, que o Rimas e Batidas entrevistou, trará uma descarga de punk electrónico que expressa dias de angustia e revindicação capaz de acender rastilhos. De São Paulo viajará a orquestra Anvil FX com ligações ao campo do dadaísmo e da lírica minimal non-sense assente em roupagens que vão do noise aos ritmos dançantes. O programa de música completa-se com os nomes de Rita Braga, Lucas Ravinale & Loup Uberto, Raúl da Costa, Mara Lina Figueiredo & João Casimiro Almeida e ainda os agrupamentos ars ad hoc, E.M.E – Ensemble de Música Eletrónica da ESART e pelo Quarteto de Cordas de Matosinhos.