pub

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 20/02/2023

Cada vez mais seguros.

D’Alva: “Vamos estar sempre à procura de coisas novas e de novas formas de fazer aquilo que nós fazemos”

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 20/02/2023

SOMOS. É este o título do terceiro longa-duração dos D’Alva, editado em Outubro passado, e é também um lema para aquilo que é o sucessor de Maus Êxitos(2018) e #batequebate (2014): uma coleção de edificações pop, erguidas por entre paisagens sonoras retro de synthwave e synthpop, a partir das quais os D’Alva tentam entender, de momento, quem são. E quem são, na realidade, os D’Alva? 

Para Mário Lopes, são uma “deliciosamente desalinhada máquina pop”, como escreveu no Ípsilon/Público. É uma definição sólida para descrever o (agora) trio formado por Alex D’Alva Teixeira, Ben Monteiro – membros fundadores – e Gonçalo de Almeida, baterista que se juntou oficialmente à banda entre trabalhos discográficos. 

Nós, por conseguinte, auferimos o seguinte: os D’Alva já não são somente livres, leves e soltos. Querem-nos fazer dançar à mesma, mas também nos fazer retirar considerações debaixo da bola de espelhos. Maturaram a sua escrita, desempenhos, produção e sonoridade. Abriram-se a mais colaborações (o disco encontra-se recheado delas). Libertaram-se de possíveis amarras para, no final, abraçarem-se (e a nós), com a devida segurança e noção de que os D’Alva são, na realidade, quem quiserem ser. E estão plenamente corretos nessa suposição/forma de encarar o mundo. 

Após apresentarem SOMOS no Lux Frágil, em Lisboa, no passado dia 2 de fevereiro, e levando na bagagem mais um single retirado do álbum – “Demais”, cujo videoclipe foi lançado na passada terça-feira (14) – a família D’Alva prepara-se para “atacar” o Porto na próxima sexta-feira (24), onde têm apresentação do seu terceiro longa-duração marcada no M.Ou.Co.

Antes de subirem para a Cidade Invicta (e antes do concerto dos Bring Me The Horizon em Lisboa), o Rimas e Batidas foi jantar com Alex D’Alva Teixeira e Ben Monteiro (que se juntou uns minutos após o início da entrevista) para conversar sobre o universo de SOMOS, as mudanças que ocorreram na própria banda e ao seu redor, (muita) pop e entender o que mais há de futuro para um dos conjuntos de música pop mais genuína e excitante da música portuguesa.



O que achaste do novo disco de Paramore?

[Alex D’Alva Teixeira] Adorei! Eu não sei qual é o meu álbum favorito de Paramore, mas este é solidamente um dos melhores álbuns que eles já fizeram. Já sabia que ia gostar, mas ainda consegui ficar surpreendido.

Acho que o meu disco favorito de Paramore é o After Laughter.

[Alex] O meu favorito, não sei se é o Riot! ou o Brand New Eyes. Mas também adoro o All We Know Is Falling – foi o primeiro grande amor pelos Paramore.

Acho que o meu primeiro grande amor pelos Paramore foi o Riot!, mas hoje em dia deve ser o que gosto menos deles.

[Alex] Pá, acho que é um álbum incrível. É uma grande lição de boas melodias, bons refrões, e é um álbum em que as canções são todas boas e bate com bué força.

Mas eu perguntei pelos Paramore porque, além de sermos ambos fãs- 

[Alex] O Ben também! [Risos]

[Risos] Mas porque acho que os Paramore, tal como vocês, andaram os últimos discos a cavalgar a arte de tentar encontrar a sua identidade. Com isso em mente, o que é que vocês tentaram encontrar neste SOMOS?

[Alex] Nos dois álbuns anteriores nós já estávamos a experimentar. No #batequebate estávamos a fazer música pop pela primeira vez, assim de uma forma mesmo muito despretensiosa. Estávamos em casa e muitas vezes a música era feita no quarto do Ben, e era só isso, dois amigos a fazer canções. No Maus Êxitos, começamos a experimentar ainda mais, foi mesmo uma exploração sónica e lírica. Depois, ao estarmos tanto tempo a tocar ao vivo, acho que percebemos o que funciona melhor para nós. [No Maus Êxitos] Acho que o Ben enquanto produtor refinou ainda mais o seu trabalho; neste [no SOMOS], acho que ele foi mais direto ao assunto. Não sei, para mim, há aquela expectativa do que as pessoas acham que é a música dos D’Alva e, se calhar, na nossa cabeça, também uma parte funciona dessa forma, e nós só quisemos deixarmo-nos. Acho que foi isso. Em vez de estarmos a tentar chegar a algum sítio, apenas deixamos as coisas acontecer. A “Só A Pensar” foi a primeira música, e a música surge porque o Ben mostrou um som num VST, no Logic, que era um retro synth, e ele fez aqueles acordes e foram esses acordes que ficaram. Foi bué espontâneo.

Vocês em 2018 contavam ao Espalha-Factos que, com o Maus Êxitos, vocês tentavam saber quem eram os D’Alva naquela fase. Com o SOMOS sinto que voltaram a fazer essa introspeção, de tentar entender quem eram agora.

[Alex] Acho que um artista deve sempre tentar descobrir novas partes naquilo que faz, mas só não quisemos ser repetitivos. Acho que vamos estar sempre à procura de coisas novas e de novas formas de fazer aquilo que nós fazemos. Também há outro fator aqui, que é, feliz ou infelizmente, entre cada álbum de D’Alva há sempre um intervalo de quatro anos e em quatro anos acontece muita coisa na tua vida. No primeiro disco, eu estava a sair da adolescência. No segundo, eu estava mega assustado a entrar na vida adulta. No terceiro, há crises diferentes, mas estão lá. Então, sinto que a nossa música cresce connosco.

No concerto no Lux, lembro-me que disseste que a “Só A Pensar”, ao iniciar este novo ciclo para vocês, quebrou um bloqueio criativo pelo qual passaram. Que aconteceu entre o Maus Êxitos e a criação dessa faixa que levou ao tal bloqueio?

[Alex] Nós estávamos a trabalhar com uma equipa diferente da que temos agora e as pessoas que comunicavam e geriam D’Alva não tinham a mesma visão que a banda. E as opiniões que essas pessoas traziam para cima da mesa fizeram-me ter uma crise de identidade em que achava que as pessoas não gostavam da nossa música e até ponderei deixar de fazer música. Então, houve assim esse bloqueio de eu não fazer ideia, mesmo, de quem é que sou enquanto pessoa, e fazer essa música ajudou a desbloquear isso e a voltar a ganhar confiança naquilo que nós fazemos. Mas foi chato estares a trabalhar com pessoas que te faziam acreditar que ninguém queria saber do teu trabalho. Felizmente, agora estamos com o Great Dane, que é pessoal que acredita bué em nós.

Acho que isso se notou no concerto do Lux. É a família D’Alva agora a funcionar.

[Alex] [Risos] Ya.

Mas é engraçado, porque quando saiu o teledisco da “Só A Pensar”, vocês reutilizaram uma personagem do videoclipe da “Física ou Química“. Deu uma sensação de continuidade apesar do tempo passado.

[Alex] Ya, sim. O Ben criou essa personagem e, por um lado, sentimos que podia ser uma entidade que poderia acompanhar o resto da narrativa. Nós sentimos que desde a “Frescobol” até à “Demais“, que lançamos o vídeo ontem [dia 14 de Fevereiro], há um fio condutor. Se calhar, tens ali a “Mas Só Se Quiseres“, em que fazemos um desvio daquilo que se calhar é esperado de nós, mas de resto, sinto que há sempre um fio condutor.

Voltamos à ideia da música crescer com a identidade da banda.

[Alex] Exatamente. Quando Ben chegar, se calhar ele pode dar mais detalhes sobre voltarmos a recorrer a essa personagem.

Como passaram da “Só A Pensar” para um disco inteiro? Não deve ter sido um processo fácil, até pela pandemia.

[Alex] Nós fizemos a “Só A Pensar” mesmo antes de rebentar a pandemia. E acho que foi logo na primeira semana de estarmos todos confinados, eu estava ao telefone com o Ben e disse-lhe que a ideia que nós tínhamos para o vídeo era o que estava a acontecer na realidade – a ideia era captar lugares que são familiares e que parecessem inóspitos. Então, achei que nos devíamos esforçar para lançar aquilo na altura, porque ia refletir aquilo que estava a acontecer na vida das pessoas. Mesmo a letra, tem um tom tão introspetivo que, sem nos apercebermos, fazia sentido coletivamente com aquilo que estávamos a experienciar.

Depois isso evoluiu para um conceito de disco.

[Alex] Ya, exatamente. E há uma cena que gosto de dizer: acho que em todos os álbuns há sempre uma canção que é a mãe do álbum, que vai ser o pontapé de saída para tudo o resto que vem se segue. A “Só A Pensar” claramente teve esse papel [no SOMOS]. Foi a primeira e até nos apercebemos qual era a paleta sónica que queríamos ter. Acho que há muitos elementos que estão presentes em todo o álbum que estão presentes nessa primeira música.

Há uma coisa que o SOMOS me deixou a pensar, que na altura nem me apercebi, mas que me veio à cabeça recentemente. Por exemplo, o how i’m feeling now, da Charli XCX, é um disco de pop pandémica, e acho que o SOMOS é um disco de pop pandémica. E o how i’m feeling now é um disco mega terapêutico e eu queria perguntar se a criação do SOMOS ajudou-vos, de alguma forma, a lidar com aquilo que vos rodeava durante todo esse período?

[Alex] Posso dizer que sim. Não sei se é felizmente ou infelizmente, mas eu, para D’Alva, só consigo escrever sobre coisas que são experiências. E mesmo as canções que o Ben escreveu a letra na íntegra, há certas partes em que ele tentou espelhar coisas que eu estava a atravessar. Nós somos melhores amigos, e nessa altura mais do que nunca, ficamos mais próximos, embora estivéssemos a viver a quilómetros de distância um do outro. Então, para nós, eu diria que é o nosso quarantine album, tal como a Charli tem o how i’m feeling now. O SOMOS, em grande parte, é muito acerca das experiências que tivemos. Até mesmo a “Sala de Espera”, relata a forma como o Ben, o Gonçalo e a Isaura, se conectavam online-

A jogar Warzone, como contaram no Lux!

[Alex] Ya, mas eu não jogo! [Risos]

Essa música tem uma componente muito forte pela presença da Isaura. Vê-la no Lux a cantar e a dançar foi bonito.

[Alex] Sentimos isso também no Kalorama, sabes? E acho que o Kalorama foi a primeira vez que a Isaura voltou a pisar um palco após o período de tratamento que teve de atravessar, e acho que até a fez sentir que se calhar ela tinha mesmo vontade de fazer isto outra vez. Ela está a lançar música nova e acho que a escrita dela está melhor do que nunca. E não só. Sinto que ela está mais corajosa. Usa menos metáforas para escrever certas coisas e é mais direta a retratar as emoções que canta.

[Ben aparece à mesa para se juntar à conversa]

Bem, o Ben chegou! Acho que posso aproveitar para agarrar na questão dos vídeos. O Alex contou-me sobre o boneco da “Física ou Química” aparecer no videoclipe da “Só A Pensar” – e em mais uns quantos vídeos vossos – e estávamos a falar da linha de continuidade que se gerou a partir daí.

[Ben Monteiro] Isso tem todo um lore por trás que eu e o nosso amigo [Angie Silva], que realizou o vídeo da “Fisíca ou Química”, críamos. Ele tinha a ideia de que era bom existir um personagem que fosse meio ambíguo, que não se percebia muito bem qual era o papel dele ali, e que dependendo do contexto que tens, pode parecer um vilão ou não. Depois, estivemos duas semanas só a desconstruir a ideia e chegamos ali a um backstory que nos fazia sentido, mas que optamos por não descortinar. 

Ou seja, há um backstory não revelado.

[Ben] Ya, nós não íamos fazer só por fazer, nem ele. No início, quando começamos com a nossa ideia para a “Física ou Química”, era ser a “Só A Pensar” e a “Física ou Química” num só vídeo. Por algumas tecnicalidades e também por divergências criativas com o nosso management da altura, a coisa acabou por não acontecer, mas na nossa mente a ideia foi sempre que as duas coisas estivessem ligadas. Outra coisa: quando fizemos a “Só A Pensar” não imaginávamos que ia haver uma pandemia. Portanto, o nosso headspace estava muito diferente no que diz respeito ao universo que este personagem ocupa. Mas uma das coisas mais importantes é que isso era uma altura em que estávamos a redefinir quem é que nós éramos e já havia mesmo esta questão do Gonçalo [de Almeida] fazer parte da banda. Durante imenso tempo, mesmo nas nossas redes sociais, não havia a nossa fotografia, mas havia a desta personagem que nos representava, quase como uma espécie de logótipo, percebes? Sem ser. Como o nome de uma banda muitas vezes quer dizer o que quer dizer, tipo Bring Me The Horizon. Tu não pensas no que é que o nome quer dizer, é só o espaço que ocupa no teu imaginário. Portanto, é um bocadinho isso. Mas há um backstory, e nós em princípio vamos trabalhar com o Angie outra vez – parece que ele pega sempre nos últimos vídeos de cada disco. Portanto, se calhar, vamos fechar um capítulo ou continuá-lo. 

O Ben mencionou a inclusão do Gonçalo na banda. Em conversa com a Timeout, vocês mencionaram que ele está in desde o EP a solo do Alex [Não É Um Projeto]. Portanto, como surgiu a inclusão dele de forma oficial agora na banda?

[Alex] Acho que fazia simplesmente sentido. A nossa própria estrutura, o pessoal que está nos bastidores, sofreu algumas alterações devido à pandemia. A pandemia foi muito violenta, não só para nós, mas também para todo o setor da cultura. Lembro-me de estar a ir a festivais em 2020 e os promotores que se atreveram a arriscar a fazer festivais estavam com dificuldades porque não havia sequer pessoas para ir montar um palco. Houve muita gente que saiu deste ramo ou que foi para o estrangeiro.

[Ben] E ainda agora há essa dificuldade.

[Alex] Ya. E então, para nós, fez sentido, não só porque o Gonçalo está connosco desde o início, mas a forma como ele toca é mesmo um ponto fundamental para a forma como fazemos música. Nós fazemos música até mesmo a pensar na forma como ele toca.

[Ben] Eu não sei se tu estavas no Lux mas-

Estava!

[Ben] Pronto. Muita gente que priva connosco entendeu porque é que ele faz parte. Ao vivo, acho que é aquela parte que é imprescindível. Já tentámos tocar com outras pessoas e não é [igual]. Há ali qualquer coisa. Aliás, acho que nós temos todos um bocadinho isso, mas a coisa ao vivo transforma-se. E é muito importante porque nós, acima de tudo, somos uma banda que quer tocar ao vivo, e quando tens um baterista com um in print tão demarcado, fazia sentido tornar a coisa “oficial”. Mesmo esta questão da COVID. Ele, como nós, praticamente só vivia de tocar já, e de repente parou tudo e, portanto, também foi outra forma de compensar todo o sacrifício que ele já tinha feito. É mais uma fonte de revenue diferente e de responsabilidades para ele. Acho que ele ainda se está a habituar à ideia porque nós poupávamos o resto da malta de uma série de burocracias. Mas faz parte.

[Alex] Mas ele também nos pára para pensar. É alguém que pensa como nós e que entende aquilo que nós queremos fazer. Acho que o Gonçalo nunca vai ter uma visão diferente do que é a visão para esta banda. Portanto, vamos estar sempre os três alinhados.

[Ben] E muitas vezes ele traz-nos de volta para a visão da banda.

[Alex] Exato, exato.

[Ben] Ele não se pronuncia muito, mas quando se pronuncia está muito na muche. Ele é literalmente o silent partner.

Ele contribuiu, de alguma forma, para a escrita do SOMOS ou o processo manteve-se dividido 50/50 entre vocês?

[Ben] Este disco já teve todo o input dele. Gravou, compôs connosco, produziu comigo. Está a resposta dada [risos]. Mas lá está, é tudo desenhado como ele toca. Às vezes, eu podia ter uma ideia de como ia ser e ele dizia que não ia tocar daquela maneira e que se podia fazer como ele achava que fazia sentido nas mãos de um baterista. E foi assim que ficou.

Sobre o processo de escrita, estava a falar com o Alex sobre processos de descoberta e identidade e da linha de continuidade que se cria entre o SOMOS com o Maus Êxitos e o #batequebate. Tendo em conta isso, e que o SOMOS é um disco extremamente nostálgico e muito envolvente, acho que este é o disco mais pessoal de D’Alva. Concordam?

[Ben] Acho que sim. Até acho que é o disco mais pessoal para o Alex enquanto intérprete. É o primeiro disco que o grosso das canções usam palavras como tu, eu, e personaliza o fundamento da coisa. O que te faz sentir que é um disco envolvente, já agora?

Isso foi uma coisa que me surgiu esta semana [risos], quando estava a ouvir o novo disco da Caroline Polachek [Desire, I Want To Turn Into You]. Eu adoro o Pang e o novo dela deu-me bué clique porque o universo daquilo envolveu-me logo. E logo a seguir ouvi o SOMOS para preparar isto e veio-me o clique de que é todo um universo sonoro que se cria ali.

[Ben] Isso é fixe e ainda bem que dizes isso. Tens razão!

[Alex] Eu estava a pensar porque estava também a olhar para o nosso catálogo anterior. Na verdade, acho que nós sempre fizemos música que é pessoal, mas neste disco, por muitas razões, se calhar é-me permitido dizer certas coisas que antes não me permitia a mim próprio dizer. No Maus Êxitos, tu tens “A Carta”, que foi escrita antes do meu coming out, e escrevi-a com o Ben. Agora, tens outras canções em que se calhar eu permito-me dizer outras coisas e falar de certas emoções por, se calhar, já não ter certas pressões que eram impostas, muitas vezes, por mim próprio. E agora há uma liberdade diferente para escrever dessa forma.

[Ben] Do meu lado, acho que essa abertura sempre existiu. Acho que seria errado dizer que a escrita está mais simples, mas acho que a escrita está sem gordura, sabes? [Risos] “O que queremos dizer? Isto.” Então, por que é que temos de passar a ponte e subir na outra? Há alturas em que é bom fazer isso e há alturas em que se é isso que queres dizer, é isso que queres dizer. E eu penso que, na pós-pandemia, as pessoas também precisam disso, sabes? Eu acho que nós estamos a sentir isso, a ser mais straight to the point. Mas, para mim, é muito importante… Nós dividimos a escrita, mas não sou eu que canto e, portanto, é sempre importante que, seja o que for que está a ser dito, ele [o Alex] tem de estar híper confortável a dizê-lo. No final do outro disco, quando saiu a “Física ou Química”, acho que estávamos muito desconfortáveis na nossa própria pele. Segundo disco é sempre aquela coisa de, para umas pessoas, estás a provar que de facto não foi só um ato de sorte ou que sabes o que estás a fazer. E fazer um disco do início ao fim é mesmo muito chato, para nós ou para outra pessoa. E quando chegámos ao fim, estávamos um bocado confusos, sabes? E foi preciso, lá está, cortarmos laços com uma série de pessoas, com quem trabalhamos, para ficarmos livres das expectativas dos outros. Nós tínhamos de perceber quem éramos e, para isso, tínhamos que parar. E foi isso que fizemos. Depois a pandemia obrigou-nos a parar ainda mais. Mas acho que andou tudo à volta disso. Mesmo sendo diretos, é bom que exista um lado estético bem vincado, mas perceber que, desde o início, a ideia foi não manipular muito as coisas e ser mais ser straight to the point.

[Alex] Aliás, antes de chegares, eu estava a dizer que sinto que, neste álbum, nós simplesmente deixámo-nos ser. E foi a primeira vez que eu disse isto, e agora estou a pensar que, ya, não é à toa que o álbum se chama SOMOS. Mas, na verdade, nós escolhemos o nome do álbum antes sequer de escrevermos o álbum [risos].

[Ben] Mas, tipicamente à D’Alva nessa altura, we overthink the heck out of it.

[Alex] Sim, we did. 

Ficam “Só A Pensar”, portanto. [Risos]

[Ben] Um bocado, ya. [Risos]

Isso é a componente terapêutica do disco, na realidade.

[Alex] Sim, e para nós terapia é uma cena bué importante.

[Ben] Para nós os três, na verdade. Temos esse cuidado uns com os outros, e há coisas que até demoraram mais tempo a acontecer, mesmo neste disco, porque não estávamos bem ou porque havia um de nós que não estava pronto para fazer algo. Felizmente, as pessoas que estão à nossa volta, o nosso management, o estúdio onde trabalhamos, respeitam esse lado dos criativos. A saúde mental é uma coisa muito importante e não nos vamos matar por causa do que fazemos. Há coisas que podem esperar uma semana. E óbvio que uma das coisas importantes da terapia é dizer, não é? Quando tu dizes, as coisas ganham outra dimensão. E a “Só A Pensar” acho que apela um bocadinho a isso mesmo [risos]. Acho que, neste disco, as letras se explicam a elas próprias mais do que outras. Nas outras [letras] tivemos sempre o cuidado de vermos se há um sítio onde alguém se pode encostar e emprestar as suas próprias experiências ao que estamos aqui a dizer – isto é pop, não é? -, mas aqui [no SOMOS], tentamos que fosse para nós. E muitas foram para o Alex. Houve coisas que escrevi para obrigá-lo a dizer, para ser terapêutico.

[Alex] [Risos] Ya, sim.

Isso também demonstra o elo próximo que continua a existir entre vocês.

[Ben] Ya, e há coisas que eu também tenho de cantar. Mas eu nunca conseguiria, qualquer pessoa que produza, que ela esteja a cantar coisas que não lhe sejam próximas de alguma maneira. Ou é mesmo uma narrativa, ou é ficção total, ou então não. Porque eu imagino sempre que a pessoa, e se então for uma canção que corre bem, ela vai ter de cantar isso, se for preciso, até ao final da sua carreira. Portanto, tem que fazer sentido de alguma forma, não é? Não pode ser só um recalco.



O SOMOS é um disco muito colaborativo. Vocês trouxeram a Isaura, o Primeira Dama, a Joana Espadinha, a Ana Cláudia, a Cláudia Pascoal, e isto são as pessoas que são features. Depois, tens malta como a Rita Onofre que coescreveu a “Demais”-

[Ben] O Virgul também tem um crédito numa música, não tem?

[Alex] Tem, tem, na “Coração à Discrição“.

[Ben] Vê lá man – o Virgul.

[Alex] Houve uma altura que trabalhámos muito com ele. O último álbum do Virgul nós escrevemos com ele as letras todas.

[Ben] Foram todas?

[Alex] Todas, e inclusive há uma música que o Ben também tem créditos de produção e composição. Então, há alturas em que os processos misturam-se, em que mostramos uma música ao Virgul, ou trabalhamos na música dele, mas depois ligamos o microfone para a nossa-

[Ben] Há muita gente que não sabe, mas ele tem muitos créditos a compor linhas vocais para bué gente. Ele é uma máquina de fazer linhas vocais. É uma cena ridícula e adapta-se a qualquer estilo. Então, acontecia estarmos a trabalhar numa cena com ele e, “já agora, vou pôr aqui a gravar duas vezes e faz o que te vier à cabeça.” Mas sabes que, com a música, tu crias alguma maturidade quando trabalhas com mais pessoas. No início, queres controlar muito aquilo tudo porque sentes que a tua identidade está muito agarrada àquilo. Entretanto, tu percebes, como tudo na vida, quando encontras as pessoas certas, quando as deixas entrar no que é teu, torná-lo também delas, a tua ideia, que era prata, passa a ouro. Fácil. Tem é que ser as pessoas certas, tem é que ser pessoas em quem tu confias e que sabes que vão gerir bem o teu bebé. E pá, depois levam sempre as canções para outro lado. Por exemplo, a música com a Isaura. A Isaura tem um estilo de escrita muito diferente do nosso. Eu já trabalhei com ela imensas vezes, o Alex também, e eu estava com receio de como a coisa ia casar. E, na verdade, está 50/50. Há coisas que é mesmo a maneira dela dizer as coisas e há outras que é a nossa maneira de dizer as coisas. 

[Alex] Mas voltando ao início da tua questão, não sei se a acabaste por concluir ou se-

O Ben começou a responder! Eu ia perguntar como foi incluir essa gente toda no universo do SOMOS.

[Alex] Houve aqui uma coisa muito engraçada. No início da pandemia, toda a gente ficou com muita pica. “Eu vou fazer yoga, eu vou aprender quinze línguas, eu vou ficar bué fit a ver workouts no Youtube”-

[Ben] Eu vou fazer pão! [Risos]

[Alex] E depois tu percebes que não dá para fazer tudo. Se calhar, tens teletrabalho, tens filhos que vão ocupar o teu tempo. E, para nós, houve bué aquela pica de que toda a gente se ia gravar em casa e, portanto, ‘bora fazer bué collabs, ‘bora colaborar com toda a gente. Felizmente, conseguimos manter muita dessa pica para o pós-pandemia, mas-

[Ben] Mas já tínhamos a ideia de fazer mais colaborações neste disco, justamente por estarmos sempre a colaborar com outros nas coisas deles, e sentimos que, quando trabalhas com um artista super pop ou um bué obscuro, isso traz de ti coisas diferentes. Então, e se fizéssemos isso para nós? A ver o que acontece. Ainda há bocado falaste na Rita, com a “Demais”. Era uma música muito densa emocionalmente. A primeira versão, a letra era gigante, o Alex parecia um rapper, e para mim sempre foi, “isto é lindo! Mas porque é que andamos aqui [às voltas]? ‘Bora direto.” E a primeira linha é uma coisa-

[Alex] “Eu não sei como chegar ao Japão”.

[Ben] Ya, que é uma frase tão estranha a vergar da boca do Alex e na nossa música. Nós meio que estávamos só à procura de melodias mais simples e ele disse isto e ela: “Wow!”. E sendo que a Rita vem até de um universo mais alternativo, ela dizer “Wow, isso é ótimo”, é… E eu, “Wow, isto é tão estranho que acho que é ótimo, ‘bora manter”. E ele ficou: “A sério?”

[Alex] Sim, porque quando compomos, só fazemos gibberish, e eu deixei de fazer isso. Eu comecei a dizer palavras aleatórias e, felizmente, isso tem funcionado. Geralmente, até é a primeira coisa que digo que acaba por ficar na canção.

[Ben] E aqui foi estranho, mas o imediato foi que parecia uma letra do Miguel Araújo ou assim, sabes?

[Alex] Ya, ya. “Anda Comigo Ver os Aviões”. Dá esse feeling.

[Ben] Ya, mas em inglês isto passava tão bem, não é? “I don’t know how to get to Japan”. Soava [bem]! Por que é que em português não há de soar? E pronto, ficou. “Camões ou Platão”? “Plutão”? Quem é que mete isso numa letra? We do.

[Alex] Mas nós até somos conhecidos por meter palavras pouco ortodoxas nas letras e fazê-las funcionar bem.

Não sei quantas músicas pop, em português, têm a palavra Nietzsche lá para o meio.

[Alex] Qual é a banda que mete Nietzsche ou Pascal numa letra?

Em 2020, aquando do lançamento da “Só A Pensar”, contavam ao ReB sobre a vossa intenção deste disco ser mais colaborativo, e eu tenho curiosidade: houve alguma feature que vocês quisessem para este disco que não aconteceu e ainda gostavam de ver numa música de D’Alva no futuro?

[Ben] Houve features até bastante grandes que não entraram. Aliás, houve um muito grande, Altice Arenastatus, que não entrou por uma série de razões. Depois houve outros igualmente grandes que não fazia sentido neste set de canções. Esses, gravados e tudo, mas [tivemos de dizer], “Está bué bom, não faz sentido aqui”, porque quisermos respeitar o álbum. Mas sim, houve aí nomes maiores e eu não digo “maiores” porque estou aqui com um humble brag. Não, são essencialmente maiores do que nós [risos], e seria interessante ver o que causava nas pessoas se esses nomes estivessem lá. Aí, sim, seria uma coisa ainda mais pop nesse verdadeiro sentido. Seria estranho, mas para mim seria interessante ver o que acontecia.

Na “Canções”, a faixa com o Primeira Dama e com a Joana Espadinha – gosto muito dessa música e adoro o Primeira Dama nessa –

[Ben] Também! A música é construída à volta do verso dele, não sei se tens noção. 

O verso dele é delicioso.

[Ben] Ya.

Mas essa música abre com o Alex a cantar “Tu queres canções para começar o dia” e eu queria-vos perguntar: quais são as vossas canções para começar o dia?

[Ben] Wow!

[Alex] Isso depende da altura da vida, mas recentemente é a “This Is Why“, dos Paramore. A música saiu no final do ano passado e foi a música que eu mais streamei no ano passado, para teres noção a quantidade de vezes que ouvi essa música.

[Ben] Eu não ouço música. Ou oiço podcasts, ou notícias. Gosto muito de pôr no Youtube notícias para saber o que está a acontecer. Foi um hábito que ganhei com a pandemia. Ou ponho aquela playlist de lo-fi girl, sabes? 

[Alex] Que ela está a estudar, não é?

[Ben] Sim, exatamente. Ou então, durante imenso tempo era o último do Stromae [Multitude]. Antes disso era Tame Impala e antes disso era Tame Impala e Phoenix. É conforme os discos que saem e os discos que compramos o vinil lá em casa. Mas o ano passado foi muito Stromae. O que é engraçado, porque o nosso disco não soa nada a Stromae.

[Alex] Pois não! Mas imagina, antes do Kalorama, fiz bué exercício, e então, para fazer exercício, metia o Suicide Season dos Bring Me The Horizon [risos]. Então, durante muitas manhãs, a nossa música era isso. [Risos]

O Alex mencionou Paramore. Já perguntei a ele sobre isso a abrir, e agora pergunto-te a ti [Ben]. Que achaste do novo disco?

[Ben] Ainda não ouvi todo! Só ouvi os três singles, mas hoje e ontem, por acaso, ouvi um bocadinho mais e, até agora, gostei imenso de tudo o que ouvi. Mas ainda não consegui ouvir com ouvidos clínicos, estás a ver? Mas faz bué sentido com o que fizeram antes. Mas eu acho que eles têm um problema. Tudo o que ela [Hayley Williams] canta, aquilo vai soar muito bem. Por muito que eles tentem lo-fi her voice, ela tem uma grande voz. E a banda é bué boa. Eles são muito bons a compor, o baterista é muito bom. As pessoas com quem se rodeiam para trabalhar são muito boas. A cidade onde eles vivem é cheia de músicos brutais. Portanto, lá está, eles estão a tornar-se mais indie, mas boa sorte a tentar fazer isso, porque não dá. É tudo muito bom. Mas está mais refinado. Se calhar é como nós. Estamos a ficar um bocadinho mais refinados, não é?

Foi precisamente por isso que abri a conversa com os Paramore! 

[Ben] Acho que sim. Nós até fizemos uma música, que não entrou no disco, que era bué Paramore.

[Alex] Era bué After Laughter.

leftovers deste disco?

[Ben] Há e vão ter que acontecer. São bué bons.

B-sides?

[Ben] Ya, quem sabe. Ou então sozinhas.

Vocês já colaboram há mais de dez anos e, durante esse tempo, a pop já mudou muito. Como, tendo em conta essas mudanças, continuam a arranjar forma de criar alguma da pop mais genuína que por aí anda?

[Alex] Acho que parte muito de nos permitirmos sermos honestos e até mesmo deixar-nos fazer aquilo que sentimos que temos de fazer. Há uma altura em que até perguntam porque é que não fazemos coisas de outra forma e de outra maneira, ou até mesmo porque não colaboramos com artista A, B ou C, e eu não sei, mas-

[Ben] Na pop, particularmente em Portugal, há duas maneiras de estares. Ou andas no jogo de seguir o que é trendy

[Alex] E vais atrás.

[Ben] E é legítimo. Isso é trabalho no final do dia. E pá, e se formos honestos, há uma hipótese de 50% de, se quisermos estar com alguns artistas, de quererem colaborar connosco. Pelo menos, 50/50, está lá.

É um sim ou não.

[Ben] Mas não é só isso! Há alguns que de facto nos respeitam bastante, em particular pelo trabalho que já fizemos para outra malta. Mas, quando nós aparecemos com o primeiro disco, nós não sabíamos bem o que estávamos a fazer. Fizemos só e foi muito disruptivo. Já nessa altura estávamos a lutar por uma pop mais democrática e menos snobe e criar a ponte entre o indie, o alternativo e o mainstream, que não têm de estar de costas viradas. O segundo disco ainda foi mais introspetivo, e mais emo I guess, em particular pelo que o Alex estava a passar, mas nós também estávamos a passar por essa coisa. E a pop estava a mudar. Tinha passado tanto tempo desde o primeiro disco e não sabíamos como as pessoas olhavam para nós. Imagina, malta que estava na universidade, passado quatro anos, já não está na universidade. Já trabalham, alguns são pais, estás a ver? E decidimos cagar nas expectativas e fizemos o que conseguíamos fazer e que fazia sentido na altura. Neste, voltámos a tentar fazer o que fizemos com o primeiro, em que não vamos pensar nos outros. Aprendemos a lidar com as expectativas. E a pop mudou imenso entre estes três discos que, infelizmente, demoraram imenso tempo a fazer. Neste momento, a pop portuguesa é muito forte nos vários setores. Na cena indie, vês uma série de miúdos novos a vir com bué força. A malta toda da AVALANCHE, a malta ali do LEFT., as iolandas-

[Alex] A JÜRA.

[Ben] Ya, por aí fora. Tudo alternativo, ou tudo independente, mas a fazer coisas muito interessantes. E depois, na cena mainstream, tens o Ivandro, que está uma besta. Tens a Bárbara Bandeira que de repente está a tentar a ser uma pessoa que não há cá-

Uma pop star gigante.

[Alex] Exatamente, porque nunca houve uma pop star como ela cá.

[Ben] Ya, e tens rappers que se estão a tornar ultra mainstream, como o T-Rex ou os Wet Bed Gang, que estão gigantíssimos. E tens, fora das rádios, se calhar até mais alternativas, os portugueses a ocuparem mais espaço. Tens, sei lá, Os Quatro e Meias da vida. Goste, não se goste, estão gigantes, apanharam ali um buraco. Mas há outras pessoas que desapareceram. Se calhar eles pegam no público que curtia bué de João Pedro Pais, por exemplo. Se calhar é o ponto intermédio entre Capitão Fausto e João Pedro Pais. 

[Alex] Sim, sim, concordo.

[Ben] Tens muita coisa a acontecer. Tens muita gente profissional a compor para outros, produzir para outros, e a coisa cresce bué. Nós acabamos por fazer o gosto ao dedo a coisas diferentes e permite-nos, na nossa, mantermo-nos. E depois há este outro lado de sentirmos que ocupamos uma fatia que ninguém pode ocupar. Não foi necessariamente intencional, mas às tantas, tu tens estas questões, de porque é que este disco bateu mais e este bateu menos, etc., e quando as pessoas à tua volta, que tu confias, dizem que não tens de mudar nada porque temos uma identidade que, se alguém faz uma coisa um bocadinho semelhante, é logo, “Ah, parecem [D’Alva]”, e é aí que tu percebes que a coisa mais difícil para um artista fazer é conseguir identidade própria-

[Alex] Posso contar uma história?

[Ben] Sim, I guess.

[Alex] Houve uma vez em que a Isaura estava noutro estúdio e o produtor convida-lhe a entrar para ouvir a música que a banda que ele estava a produzir estava a fazer. Ela ouve a música até ao fim e no final a resposta dela é, “’Tá fixe pessoal, eu também curto bué de D’Alva”. [Risos]

[Ben] E nós nunca ouvimos que isso nunca saiu, pois não?

[Alex] Saiu, saiu, que eu sei o que é.

[Ben] Mas isso é a coisa mais importante. Tu ouves a voz do Alex e a maneira dele cantar e de dizer as palavras e, tal como o Tomás tem, nos Fausto, 1000 gajos a tentar fazer o que ele faz. E para que é que vais atrás dessa coisa? Por que não criar a tua própria cena? Para mim, o que D’Alva é e trabalhar com o Alex é: por que é que tenho de me inibir de coisas que eu gosto genuinamente de ouvir e que me apetece fazer? Portanto, that’s the name of the game. É assim que D’Alva começa e é assim que tem de continuar. 

Existe algum artista pop que vos excita bué?

[Ben] Caroline Polachek.

[Alex] Charli XCX. Christine and the Queens. Eu curto imenso de Dua Lipa, por exemplo. 

[Ben] E as pessoas que trabalham com ela porque ela é o tipo de artista com bué gente à volta. O que os The 1975 fazem agora também é muito interessante ao nível de esticar ainda mais-

Os The 1975 são, para mim, uns dos maiores inovadores sónicos da pop da última década.

[Ben] A ser banda. Para mim, o que The 1975 estão a fazer é dizer que é ok seres uma banda, é ok tocares os teus instrumentos e é ok ires atrás das tuas ideias. Posso dizer que, quando cortamos laços com o nosso management anterior, foi uma decisão nossa. Já tinha dado o que tinha a dar, foi bom, aprendemos bué coisas, mas queríamos perceber para onde íamos a seguir. E a certa altura, quando começamos a procurar gente nova para trabalhar connosco, houve muita gente que nos disse que gostava bué, mas que se fosse o Alex, trabalhava o Alex. Queriam um artista a solo, não queriam uma banda, porque uma banda dá trabalho, são muitas cabeças. Mas eu acho que os The 1975 têm isso bem resolvido. Um faz isto e outro faz aquilo. E nós temos isso também bem resolvido. É um bocado chato quando é para criar alguma coisa, há sempre uma ideia sobre uma ideia sobre uma ideia, mas chegamos sempre [a algum lado]. Mas acho que eles fazem isso. Independentemente da música, alargar o que a pop pode ser. E não estão a fazer nada de necessariamente novo, só não é numa altura que é tão popular fazer aquilo. Portanto, eles são a banda que todos estes gajos big da pop adoram. Eu lembro-me quando os vimos no…-

Super Bock?

[Ben] No Super Bock. E lembro-me de estar a ver um story do Roosevelt, que tem um som bué vincado, a dizer que o som de bateria dos The 1975 era, tipo, fogo, percebes? Ele queria fazer aquilo e não se permite fazer aquilo. Eu gosto bué de The 1975 mas ainda não ouvi este disco [Being Funny In A Foreign Language] inteiro de uma ponta à outra. Evito sempre. Da nossa banda, sou sempre o último a ouvir, porque a nossa cena há alturas que está tão próxima que é melhor nem ouvir sequer.

[Alex] Mas acho que agora podes ouvir com vontade. Nós já estamos numa página diferente e eles também.

[Ben] Sim, mas nós também faríamos um disco assim facilmente.

[Alex] Faríamos, faríamos.

Mais folk?

[Ben] Bué facilmente. Já esteve em cima da mesa puxar esse lado. Mas acho que é altura de continuarmos com o que estamos a sentir agora. Vamos ser smart e nossos amigos, para já. Mas as canções é que vão sempre ditar para onde vamos a seguir.

No próximo dia 24 vão tocar no M.Ou.Co, no Porto. Imagino que não vão conseguir trazer todos os convidados que trouxeram ao Lux, mas existe alguma surpresa reservada para os vossos fãs na Cidade Invicta?

[Alex] De malta que participou no Lux, vamos ter garantidamente a Ana Claúdia e a Joana Espadinha. Elas vêm connosco na carrinha. Mas também é possível termos alguém local a fazer mais qualquer coisa.

[Ben] Acho que quase metade das pessoas vão lá estar.

Além desse concerto, o que há mais de futuro para os D’Alva? Mais concertos este ano?

[Ben] Esperemos que sim.

[Alex] Queremos tocar. Mas nós praticamente, semana sim, semana não, temos conversas para saber como correram as coisas que fizemos e o que é queremos fazer a seguir. Já falamos de fazer música nova.

[Ben] Nós temos ideia de coisas que queremos fazer, mas uma coisa boa deste disco, para mim, é que obrigou o Alex a ficar full-time na música. Com a pandemia, não foi possível, e o Gonçalo também teve de arranjar um part-time, mas as coisas estão a ficar busy o suficiente para justificar a nossa atenção e acho que tudo o que fazemos está melhor que nunca justamente por causa disso. Acho que sinto, sem grande esforço, as ideias bem focadas, a coisa está fixe. Acho que estamos bué na nossa praia.

[Alex] Mas não sei se essa foi a melhor escolha de palavras. Não sinto que este álbum me tenha obrigado, mas foi a cena de também saberes que é possível, tu vais conseguir não ter um emprego 9 to 5 e a banda em que estás vai ser suficiente para conseguires fazer a tua vidinha. Mas é a cena de como te disse no início da entrevista, antes do Ben chegar. Antes, estávamos com pessoas que nos fizeram, e em particular que me fizeram, não acreditar naquilo que estávamos a fazer.

[Ben] Ou da forma que estávamos a fazer.

[Alex] Depois passamos por um processo em que comecei a acreditar. E mesmo que mais ninguém acredite, eu acredito. Ganhei uma postura mais agressiva, em que em vez de ficar à espera que me abram à porta, eu dou um pontapé na porta. E mais do que isso, temos pessoas à nossa volta que estão dispostas a empurrar para a frente connosco.

[Ben] Há tanta música boa que tu nunca chegas a ouvir e não é pelo artista ou pelas canções. É por tanta coisa à volta.

[Alex] Epá… Vou dizer, que se lixe! No álbum anterior nós já queríamos fazer o Lux, mas as pessoas que trabalhavam connosco não acreditavam que conseguíamos fazer aquilo que fizemos no dia 2 de fevereiro. 

[Ben] É verdade!

[Alex] E agora? Damn! O meu maior conselho, para qualquer banda, para qualquer artista, é que nunca faças nada com ninguém que não acredita da mesma forma que tu acreditas em ti. Portanto, ya. Nós existimos, em primeiro lugar, porque o Ben acreditou em mim, e agora estamos com o pessoal do Great Dane que acredita em nós. São essas pessoas que queres ter contigo.


pub

Últimos da categoria: Entrevistas

RBTV

Últimos artigos