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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 28/04/2023

A doninha abriu as portas da sua toca para revelar Uma Página da História.

Da Weasel: “A ideia era contar o que não foi contado. E descobrimos muitas coisas”

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 28/04/2023

30 anos depois da fundação do grupo no quarto em Almada que os irmãos João e Carlos partilhavam quando tinham 22 e 18 anos a doninha abriu como nunca antes a sua toca para relatar Uma Página da História, a biografia oficial dos Da Weasel, que foi lançada em livro esta quinta-feira, 27 de Abril.

A autora, Ana Ventura (que já tinha assinado a biografia dos Xutos & Pontapés e de Magazino), entrevistou separadamente os seis elementos que compõem a banda há mais de 20 anos: João Nobre, Carlão, Quaresma, Guilherme, Virgul e DJ Glue. Cada um partilhou as suas memórias e perspetiva sobre os acontecimentos que marcaram o trajeto do grupo.

O resultado é um livro aprofundado de 564 páginas e 950 gramas (José Mariño fez as contas na apresentação oficial do livro, decorrida ontem no Lux Frágil) que, embora pesado, se lê com uma grande fluidez. Para isso muito contribui o facto de apresentar um formato de história oral. Ou seja, a voz de Ana Ventura só está inscrita no prólogo. 

Durante todo o livro, são os próprios Da Weasel que vão explicando como se desenrolou a história da banda. Ana Ventura foi a organizadora de todo este enorme fio condutor que foi conduzindo com mestria, intercalando os diversos pontos de vista, que se vão enriquecendo uns aos outros. Pelo meio, há histórias mais conhecidas e outras inéditas, resumem-se os grandes acontecimentos e desvendam-se pormenores deliciosos. 

No dia do lançamento, o Rimas e Batidas sentou-se com os seis Da Weasel para uma conversa sobre a biografia oficial da banda. O grupo vai atuar a 14 de julho no MEO Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia, e o mote é que “veio para ficar” — embora não se saiba ainda em que moldes. Certo é que haverá mais um capítulo a relatar a história dos Da Weasel: a banda vai organizar uma “mega exposição” para celebrar o seu legado.



Pareceu-vos logo que era o momento certo quando vos propuseram abrir a vossa toca e falar da vossa vida e carreira?

[João Nobre] Não, foi inesperado e foi estranho. Bem, a haver um momento certo seria agora, de facto. Já temos uma história para contar. Mas foi inesperado. Nunca fizemos nada minimamente parecido. Era uma intrusão, mas acabámos por fazê-lo. Ainda refletimos, ponderámos, tivemos algumas conversas, mas decidimos avançar e teremos dado uma resposta rápida.

Já tinham pensado alguma vez em fazer algo deste género?

[JN] Não [risos], nunca nos passou pela cabeça.

Vocês regressaram no ano passado aos palcos com o concerto no NOS Alive, estreou um documentário da Antena 3 sobre vocês, foi agora anunciado que vão ter uma exposição e o livro também é um marco fulcral nesta era de celebração dos Da Weasel. 

[JN] Sim. O que explica um pouco isso foi a ausência, foi a questão de termos desaparecido do mapa. Naturalmente que as pessoas ficaram, por um lado, tristes por ter sido inesperado, mas foi este constante assédio e esta constante vontade de ter os Da Weasel por perto… As pessoas querem saber mais, têm saudades e é natural que desperte esse tipo de interesse. Acho que é a única explicação que pode haver.

O Carlão diz a dado ponto no livro que vocês são “muito gajos”, no sentido em que não falam muito sobre aquilo que sentem, mas aqui necessariamente acabaram por falar. Como foi ler aquilo que os outros disseram? Porque as entrevistas foram feitas em separado.

[DJ Glue] É descobrir cenas que nem tu próprio sabias bem [risos].

[Guilherme] Passa por aí, precisamente. Um já não se lembra de uma coisa, outro já não se lembra de outra. E vão-se juntando as peças. Até ficámos admirados. Mas foi fixe, nesse sentido. Conseguimos juntar as peças e ter um livro com muitas memórias e histórias.

[JN] E por vezes há seis perspetivas diferentes da mesma questão [risos].

[Carlão] Exato [risos].

[JN] Eu digo preto, ele diz branco, o Glue diz azul… Enfim, é incrível.

[Carlão] Acho que aquilo que o livro tem de muito interessante é este registo de discurso direto. Foi apelativo para nós o fazermos, porque a cena correu muito bem, com as conversas em separado, com um ritmo porreiro. E depois é apelativo também para o leitor, de estares a ler a coisa desta forma. Acho que é uma aposta boa da Ana e a coisa rola muito bem. Porque se fosse outro tipo de biografia, tipo “em 1997…”, não era tão sedutor e tão interessante.

Neste processo tiveram de recuar no tempo e apelar às vossas memórias, que parecem bastante frescas. Isso também leva, obviamente, a que tenham refletido sobre as vossas carreiras, sobre a vossa vida em Da Weasel. Acabaram por colocar as coisas em perspetiva, nesse sentido? Se calhar nunca tinham pensado tanto sobre a banda como agora.

[Carlão] Ainda agora estava a pensar um bocado nisso. É estranho, como o meu irmão disse, fazer um livro. Mas, à medida que a coisa foi avançando, desde o primeiro disco até ao Alive, são uns quantos anos e aparece a tal perspetiva de estarmos a rever estes momentos todos e isso é muito engraçado. Este nosso património já é qualquer coisa [risos], a brincar, a brincar. E o livro também nos ajuda a perceber isso.

[DJ Glue] E, se não houvesse o livro, se calhar haveria memórias que nunca irias voltar a ter. 

[Carlão] De certeza. E isto ajuda muito, até pela perspetiva dos outros, como aquela fotografia que descobres e funciona como trigger para ires buscar uma série de coisas. O livro tem esse poder. Cenas que o pessoal diz e que tu já não estavas nem aí, e outras que não estavas e continuas a não estar porque já não te lembras mesmo [risos].



Houve coisas específicas que optaram por não abordar? Houve conversas nesse sentido? Ou estavam dispostos a abrir o jogo e a toca como nunca tinham feito antes?

[JN] Essa era a ideia, mesmo, contar o que não foi contado. E como tem sido dito, descobrir coisas. Realmente, com este livro descobrimos muitas coisas [risos], sobre nós próprios, sobre os outros, enfim, sobre a nossa própria história. É incrível, é um exercício engraçado e rico.

Do lado do público, que conhece os Da Weasel enquanto banda, pode dominar muito bem os álbuns e as músicas, mas às vezes não tem acesso às dinâmicas internas de um grupo, neste caso às personalidades dos seis elementos. Também é aí que está o interesse para o público querer ler este livro?

[JN] Sim, claro, é a curiosidade de querer saber o que está por trás. Os bastidores das bandas, os relacionamentos, a maneira de lidar com as coisas. Isso também passa no livro.

[Carlão] Sendo que, naturalmente, há uma coisa ou outra que a nós também não nos faz sentido partilhar porque se calhar também é demais. É da nossa intimidade. 

Aproveitaram o livro para desmistificar mal-entendidos sobre os Da Weasel? Ou acreditam que a banda sempre foi muito bem compreendida por quem está de fora?

[JN] Há um comentário muito curioso num tema nosso que está no YouTube, o “Bomboca (Morde a Bala)”, um tema muito punk e hardcore, e depois os comentários são díspares. E vem lá um a dizer “ah, vocês não conhecem mesmo esta banda porque os gajos vêm do punk e do hardcore e do metal”. Isto é um exemplo para explicar que há muitas coisas que as pessoas vão finalmente entender ao ler este livro. E algumas ideias que não percebem… Naturalmente, não tinham como perceber. Ou qual é a origem da nossa essência, as raízes, etc. Vai ajudar a desmistificar muitas coisas. A sensação que tenho naqueles comentários é que fizemos aquilo sem saber como e disparámos um tema assim só porque sim [risos]. Há uma certa discussão e depois vem lá um dizer isso mesmo. Este é só um exemplo muito particular de muita coisa que se calhar vai ser desmistificada.

No livro vocês admitem várias dúvidas quando estavam prestes a regressar aos palcos com o concerto no Alive, que se questionavam sobre se faria sentido, se ainda seriam relevantes o suficiente. Para muita gente, de fora, era evidente que o público ainda vos queria ouvir e o concerto do Alive foi a prova disso mesmo. O processo do livro também vos fez valorizar a vossa própria história? Obviamente que vocês viveram-na e conhecem-na melhor do que ninguém, mas também vos deixou com essa sensação?

[Carlão] Sem dúvida.

[Virgul] Naturalmente, porque acaba por nos fazer refletir um pouco e perceber, realmente, tudo aquilo que vivemos e a longevidade que a banda tem ou teve. De outra forma, se calhar não pensamos nisso. Acho que os Da Weasel foram uma coisa muito normal. Vivemos sempre muito descontraídos e sem pensar muito no que é que vivemos. E isto faz-nos sobretudo também ficar gratos. Fogo, já curtimos bué, já vivemos e fizemos coisas muito fixes todos juntos. Estamos expectantes para saber como é que as pessoas vão reagir. Porque, lá está, há montes de histórias que mesmo nós não sabíamos [risos]. E revelar assim alguma coisa vai ser…

[JN] O que vais fazer quando a tua mãe ler o livro?

[Virgul] Eh pá, pois [risos].

João, numa entrevista à Lusa mencionaste a “mega exposição” de Da Weasel que vai haver. Também ficámos curiosos com isso. É mais uma forma de celebrar o legado da banda?

[JN] Eu não tinha ideia de que iria ter esse tipo de repercussão [risos]. Eu até disse na entrevista que o meu manager me iria matar. Ainda não podemos revelar, mas será uma coisa que irá celebrar a nossa história. Desta vez não em livro, mas materializada mesmo com alguns objetos que fazem parte da nossa história. Fizemos uma recolha intensa e uma pesquisa mais intensa ainda e vai ser um momento muito especial e marcante, de grande dimensão.


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