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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 10/07/2022

Musica transgeracional.

Da Weasel no NOS Alive’22: de volta ao rap com aquele aroma a hardcore

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 10/07/2022

Parece que foi ontem. Na verdade, foi há 15 anos que os adoradores da “doninha” peregrinaram até ao antigo Pavilhão Atlântico (agora Altice Arena) para assistir ao concerto mais emblemático de sempre de uma das maiores bandas da história da música portuguesa. Naquele dia, 10 de Novembro, Pacman (actualmente conhecido como Carlão), Virgul, Jay, Quaresma, DJ Glue e Guillaz estavam no topo da sua forma, depois de, meses antes, terem editado Amor, Escárnio e Maldizer, aquele que acabaria por ser o último trabalho de originais do grupo da Margem Sul. Em 2010, os seis músicos decidiram colocar um ponto final no projecto, deitando por terra o sonho de os vermos novamente ao vivo envoltos numa produção de tamanha magnitude.

Foi no último dia do NOS Alive que essa esperança se reacendeu. Os Da Weasel foram o grande trunfo que o festival anunciou para a sua edição de 2020 mas, devido à pandemia, foi preciso esperarmos mais dois anos até que o sonho se materializasse. É, por isso, normal que a uma hora do início do espectáculo já grande parte dos visitantes do evento se encontrassem reunidos em frente ao palco principal — o novo documentário Da Weasel: Agora e Para Sempre esteve em exibição enquanto a banda não chegava e ajudou a elevar ainda mais as expectativas.

Foi com feedbacks e distorções que a presença do sexteto se fez notar. “Loja (Canção do Carocho)” deu o mote para o que se seguiria a partir dali — esperava-nos uma hora e meia de concerto em torno da melhor discografia portuguesa a casar o hip hop com o hardcore. Seguiram-se “Essência” e “Força”, mas foi no primeiro de vários regressos ao passado que mais se ouviu o público em uníssono, em “Dúia”. Já “Jay” trouxe-nos reminiscências dos “tempos de garagem” e é a eterna vénia ao baixista João Nobre, ele que foi dos principais responsáveis pela sonoridade thrashy que andou sempre de mãos dadas com o percurso do grupo. “GTA” e “Nigga” também seguiram essa mesma linha a nível estético e contracenaram no alinhamento com os seus singles mais radio friendly — “Re-tratamento”, “Dialectos da Ternura” e “Toque-Toque” são, muito provavelmente, aquelas que conseguiram ir ao encontro de mais gerações.

Pela performance, ninguém diria que estes seis compinchas tinham estado tanto tempo sem actuar juntos. Apesar das falhas nos versos que aconteceram num ou outro tema, o concerto foi sempre fluído e decorreu sem quaisquer entraves — em “Toque-Toque”, a entrada em falso de Pacman ainda o fez pedir aos colegas para recomeçar do início, mas não se abriram quaisquer excepções e foi o rapper quem teve de ir atrás do prejuízo. Guillaz e DJ Glue estiveram sólidos e a guitarra de Quaresma continua a ser das coisas mais cristalinas que encontramos na imundice sónica da banda. Já o baixo de Jay quase que só se dava por ele quando os outros instrumentos se calavam. Apesar de ser um dos melhores letristas da sua época, Pacman continua a ter no flow o seu calcanhar de Aquiles, enquanto a projecção vocal de Virgul não parece ter envelhecido um único ano — questionamo-nos até se não terá um trompete no lugar das cordas…

Tal como era hábito no passado, até os interlúdios e outros contam na hora de delinear um espectáculo. O final de “Jay”, por exemplo, teve aquele delicioso “diálogo” entre guitarra e baixo que se escuta no disco. “Bomboca (Morde a Bala)” foi a maior descarga de energia possível em menos de um minutos, enquanto “Bora lá fazer a p*** da revolução” nos fez parar e reflectir por breves momentos. “Outro Nível”, “Todagente” e até mesmo “God Bless Johnny” mostraram que “clássico” é a tradução para “velho” no dicionário dos Da Weasel. “Tás na boa”, uma das mais pesadas de sempre, foi aquela que deu o concerto por terminado.

Não teve as mais de duas horas de duração do mítico concerto de 2007 nem houve um único convidado a pisar o palco — nem mesmo Manel Cruz, que tocaria pouco depois também no NOS Alive. Teve, sim, um mar de pessoas famintas como nunca para assistir a mais um concerto da “doninha”, isto numa altura em que essa rapaziada deve andar perto de comemorar os primeiros 30 anos desde o nascimento do projecto — quem sabe, a altura perfeita para um segundo round nos concertos em nome próprio no grande pavilhão do Parque das Nações.


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