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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 04/07/2022

Um retrato digno da história de uma banda que marcou uma geração.

Na antestreia de Da Weasel: Agora e Para Sempre, um documentário que teve tempo para se aprimorar

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 04/07/2022

No passado dia 23 de Junho, o Rimas e Batidas esteve presente na apresentação de Da Weasel: Agora e Para Sempre, documentário a estrear esta segunda-feira, dia 4 de Julho, às 22h50, na RTP1. O evento, com a chancela da Antena 3, teve lugar na Academia Almadense, uma sala que se encontrava repleta de amigos, caras conhecidas e fãs prontos para acolher a banda que influenciou (e continua a influenciar) gerações e gerações.

Na iminência do seu breve regresso aos palcos, a 9 de Julho no NOS Alive, passados anos de uma longa ausência, pudemos ver em antemão um documentário idealizado por Bruno Martins, a quem coube dar o mote: “Aquilo que vamos ver pela primeira vez é o resultado de um trabalho que demorou dois anos”; e não desiludiu. O processo culminou em algo como 30 minutos de uma peça audiovisual que alterna entre uma entrevista íntima aos Da Weasel e animações dos pequenos momentos que vão sendo relatados — não deixem os Gorillaz verem estas ilustrações…

Após a visualização do documentário (que tem realização de Catarina Peixoto, produção por Filipa Torrado Ramos e ilustração/animação por António Piedade), houve conversa conjunta em palco, onde se contaram alguns detalhes sobre o makingoff desta obra e se revelaram áudios de personalidades como Rui Massena, Henrique Amaro e José Mariño, que falaram um pouco sobre este grupo, uma banda “que não passava na rádio, mas entrou pelas escolas e, de repente, estava na Antena 3”.

Houve ainda microfone aberto para que membros da audiência pudessem fazer perguntas, o verdadeiro momento onde foi palpável a influência desta banda e o seu significado para tanta gente: de testemunhos emocionados de fãs com voz tremida, a pais que expressaram o seu agradecimento pela influência positiva na vida dos filhos ou a pergunta que todos queriam fazer: será este um regresso para ficar? 

Numa tentativa – embora falhada – de satisfazer a curiosidade, trazemos a notícia de que a resposta foi constantemente desviada para a responsabilidade e foco no concerto no NOS Alive. Mas uma coisa ficou bem assente: se algum dia existir um anúncio de um regresso mais longo, esse será feito em primeira mão em Almada. Por enquanto, existe a certeza de que teremos concerto esta semana: “Nunca estivemos tão bons nem a tocar tão bem como estamos a tocar agora.”

Aproveitámos a ocasião para entrevistar a banda, Bruno Martins e ainda Dino D’Santiago, músico transformado em fã que nos falou um pouco sobre o impacto que a Doninha teve na sua carreira.



De que maneira é que os Da Weasel te influenciaram durante o teu crescimento e na tua maneira de criares musicalmente?

[Dino D’Santiago] Da Weasel é muito responsável por eu ter a coragem de seguir a música, muito graças ao Virgul, que numa fase inicial da minha vida chega a casa dos meus pais e diz que me leva para o Porto para trabalhar com os Expensive Soul, bancando tudo; durante vários anos eu segui em tour com os Da Weasel, a fazer companhia ao Virgul, de Norte a Sul do país. E depois influencia muito cresceres com o Virgul, o Carlão, o Quaresma — que me trazia muita música, foi quem me introduziu a D’Angelo –, o Guilherme — que era um consumidor de álbuns, então trazia muita coisa também, como The Roots, etc. — e o [DJ] Glue, que se tornou uma das pessoas com quem mais andei. Felizmente já trabalhei com os três, Carlão, Virgul e Glue, e continuam a ser as minhas maiores referências, portanto até hoje ainda não consegui assistir a um concerto com a mesma emoção que sinto com os Da Weasel. 

E seria um sonho uma colaboração?

[Dino D’Santiago] Eu sinto que já passei uma vida de colaborações com eles, ‘tás a ver? A maior colaboração que os Da Weasel me podem dar é eu poder assistir na primeira fila, como sempre foi, e depois no final poder dar um abraço a cada um deles. Melhor que isso é impossível. 

Tens alguma música preferida deles? Uma que te tenha marcado mais? 

[Dino D’Santiago] Wow… é que eu nem sei se vão tocar esta, mas foi um tema que eu ouvi o Virgul a cantar no soundcheck [começa a cantar] “Faz o que quiseres, p’ra mim tá tudo bem/ Okay, okay”. Esse é um dos temas que mais me tocou, mas são vários, depende também da fase da minha vida. Acho que Da Weasel tem essa transversalidade, de atravessar a nossa vida de todas as formas, com mensagens para tudo.



Como é que receberam da Antena 3 esta ideia de se fazer um documentário sobre vocês? Ficaram todos logo unanimemente a bordo desta aventura?

[Jay] Ao princípio, e eu falo por mim, tive algumas dúvidas, mas depois correu tão bem, que não havia como não resultar com o trabalho que acabámos de ver.

[Carlão] Sim, é isso, a ideia original era só ser aquela entrevista onde estamos nós todos, só que, como estava o Bruno ou o Nuno Reis a dizer, realmente acontece a pandemia e eles desenvolvem isto para uma escala muito maior.

Também como disseram, era algo que supostamente era só para durar seis meses e acabou por demorar dois anos. Estão todos satisfeitos com o resultado ou mudavam alguma coisa? 

[Jay] Muito contentes, acho que foi do caraças. 

[Os restantes concordam]

Falaram muito de influências no documentário e do peso que grupos como Public Enemy e várias bandas de rock e metal tiveram para vocês. Como é que se sentem em saber que agora também vocês são uma influência, para toda uma nova era de artistas?

[Jay] É delicioso e é com imenso orgulho que nós ouvimos muitos músicos, mesmo, a dizer que nós influenciámos a carreira deles. Claro que sim. Sabemos o que é quando vais à procura de inspiração e nós fizemo-lo e continuamos a fazê-lo, então fazerem exatamente isso connosco enche-nos de orgulho e estamos super felizes e orgulhosos de fazer parte da formação desses músicos.

Aquela sensação de orgulho de que o vosso papel está feito.

[Carlão] [Risos] Sim, é incrível, principalmente quando tens pessoal aí da nova geração que está a fazer coisas muito boas e relevantes no panorama nacional e refere-se a nós como uma das influências, portanto aí já está ganho.

Se agora voltassem, que é algo que está toda a gente a perguntar, embora não queiram revelar, e sabendo que Da Weasel são intemporais, voltariam exactamente na mesma wave, no mesmo registo musical, ou acham que poderiam ir por um caminho mais virado para o que mais se ouve na actualidade? 

[Jay] Eu acho que vamos tocar no Alive [risos] e só estamos a pensar no Alive [risos]. 

[Risos de todos]

E o que é que esperam do Alive?

[Carlão] Eu acho que estão todas as condições criadas para ser realmente uma noite muito especial. Todas as razões e mais algumas. O pessoal está com fome de festivais, não é, têm todos estado a correr muito bem. Há uma grande massa, sentimos que há uma grande vontade também de muito público de nos ver, o concerto esgotou há algum tempo e é um palco privilegiado com muitas condições, bom som, luzes, a cena toda e ainda hoje estava a dizer a um amigo meu… eram precisos muitos azares, não só um, mas muitos azares, para não ser uma noite incrível. Era preciso ser-

Cair um trovão.

[Carlão] Ya! Só se acontecer isso.

Mesmo assim acho que faziam a festa. E, agora indo ao Alive, passados estes anos todos, podem estar também a apresentar-se a uma audiência que talvez não vos conheça tão bem ainda, a pessoas mais novas, por exemplo, o que pode vir a agitar de novo as águas de uma maneira muito interessante.

[Jay] Há muitos fãs que entretanto conheceram os Da Weasel e já nós tínhamos acabado e provavelmente nunca nos viram ao vivo, ou que eram muitos novos na altura em que parámos. Vai ser um reencontro com essas pessoas todas que vão lá estar para nos ver e vai ser um reencontro com os nossos fãs também.

[Quaresma] Com os nossos fãs e com os filhos, muitos com os filhos também.

[Guillaz] E com os netos [risos].

[Carlão] Calma, calma.

Carlão, disseste que a tua música preferida para tocar ao vivo era a “Mundos mudos” na entrevista, admitiste que ainda te arrepia, até hoje. Qual é para vocês aquela música que mais gostam de tocar ao vivo?

[Quaresma]O que quiseres”.

[Jay] “Mundos mudos” e adoro tocar “O puro“. 

[Virgul]Toque Toque”. 

[DJ Glue] Pedaço de arte“.

[Guillaz] “Mundos mudos”.

E o que ficou daquela altura de Da Weasel até hoje? A cena mais memorável na vossa cabeça?

[Carlão] Eu acho mesmo que não mudávamos nada, eu começava nos concertos de Johnny Guitar, e ia até aquele que para mim foi o melhor o concerto de sempre dos Da Weasel, que foi no Pavilhão Atlântico. Da Weasel é uma banda que, por muita história que tenha, acho que sempre cresceu muito ao vivo. Aquilo que estava no disco era ok, mas ao vivo as cenas explodiam, exponenciava, então esses dois momentos para mim ficam sempre.



Quando é que surge esta ideia para um documentário sobre os Da Weasel? E porquê?

[Bruno Martins] Dou já a resposta do porquê, também, porque tudo isto surgiu, estávamos nós em 2018… 2019 talvez, que com tudo isto da pandemia já estou aqui um bocadinho perdido nos anos. Na Antena 3 nós temos este hábito, gostamos muito de música, gostamos muito de cultura pop, de olhar para ver não só o presente, mas perceber o que vale a pena ser celebrado em termos de cultura pop e música e apercebemo-nos que estavam a chegar os 25 anos do primeiro disco dos Da Weasel, não o EP, mas o primeiro disco que ia fazer 25 anos em 2020. E lembrámo-nos que é um disco que merece ser celebradíssimo, uma banda que merece ser celebrada, e a ideia foi mesmo essa: celebrar o primeiro disco dos Da Weasel. A verdade é que celebrar um disco dos Da Weasel… se ainda há bocado me estavam a dizer que 30 minutos para a história deles é pouco, fazer um documentário ou fazer um apanhado só sobre o primeiro disco dos Da Weasel iria saber-nos a nós a pouquíssimo e não iríamos ficar satisfeitos só com isso. E, então, decidimos atirar-nos à história, à possível história dos Da Weasel, porque de facto não é uma coisa que tenha sido assim tão explorada até hoje e acabou por ser isso. Deu-se a feliz coincidência de em Julho de 2019 eles terem anunciado o reencontro no NOS Alive e para nós isso foi um: “Bom, vamos a todo o gás nisto”. E assim foi. Lançámos a proposta à banda, já com as ideias mais ou menos definidas para não irmos só naquela de “olha, gostávamos de fazer um documentário sobre vocês!”, fomos com um: “queremos fazer um documentário desta forma, para vos juntar, à conversa, uma coisa diferente, com ilustração para não ser sempre igual”.

Porquê esta ideia de o fazer em ilustração e animação?

[Bruno Martins] Nós já tínhamos trabalhado com o António Piedade, o ilustrador e animador, num vídeo de celebração dos 25 anos da Antena 3. Ele fez parte da Academia RTP e gostámos muito de trabalhar com ele e do trabalho dele, um vídeo que curiosamente foi narrado pelo Carlão, então pensámos: “Temos que fazer mais coisas com o Piedade”. E assim foi, quisemos fazer as coisas de uma forma diferente.

E foi logo a primeira escolha ou ainda pensaram em ir buscar imagens e vídeos de arquivo? Havia material para tal?

[Bruno Martins] Possivelmente! Se fôssemos ao arquivo da RTP, que é um bom aliado que nós temos até noutros documentários que temos feito, até da Implantação da Rapública, os arquivos RTP têm sido um bom aliado da Antena 3, mas neste caso dissemos mesmo: “Vamos fazer as coisas de uma forma diferente”, para também não ser sempre a mesma coisa. Agora, recorremos a imagens de arquivos para nos inspirarmos para as ilustrações.

Com todos os imprevistos e setbacks foram mudando alguma coisa?

[Bruno Martins] Mudámos muita coisa nestes últimos dois anos, porque tivemos mais dois anos para fazer o documentário. Mudámos muita coisa sobretudo em termos de animação… ou melhor, não mudámos, tivemos tempo para aprimorar e para pôr mais camadas, para limar, para pintar de uma forma digna.

A quem coube o trabalho de escolher as músicas que entraram no documentário?

[Bruno Martins] Acabou por ser uma mistura de todos. Bom… fui eu [risos]. Não, mas fomos fazendo muito um trabalho de equipa, até nas próprias animações e ilustrações, mas foi tudo muito debatido e discutido. Eu dei o exemplo há pouco daquela cena da guitarra, do Jay, da guitarra marada que aparece no tema “Jay”.

Que afinal existe.

[Bruno Martins] Existe, está no estúdio do Carlão. Numa das gravações que nós estamos a fazer para o Implantação da Rapública fomos falar com o Carlão ao estúdio e ele tinha lá uma guitarra e eu agarrei naquilo e ele disse que era a guitarra marada do Jay. Eu disse: “temos que tirar uma fotografia a isto, mano, e dar ao Piedade e dizer que esta parte aqui tem que aparecer”. Foi um trabalho completamente de equipa.

E o que é que para ti foram os Da Weasel? Antes da parte profissional já eras fã.

[Bruno Martins] Os Da Weasel têm essa glória do lado deles de terem conseguido fazer uma fusão natural de uma forma muito orgânica de vários mundos que eu gostava muito. Do rock, depois o hip hop, conseguiram fazer isso de uma forma extraordinária. E depois, obviamente, a palavra, os poemas do Carlão, aquilo que ele escrevia.

Que até depois teve o projecto Algodão.

[Bruno Martins] Exactamente. Mas esse lado poético de Da Weasel — para um adolescente algumas vezes com o coração partido ou enamorado –, doía, salvava, aconchegava, fazia rir, ou seja, as canções dos Da Weasel foram muitas vezes uma companhia para a vida.

E continuam a ser.

[Bruno Martins] E continuo a vibrar imensamente com as canções deles.

Tens uma preferida?

[Bruno Martins] Tenho muitas, tenho discos preferidos-

Diz um top 3 [risos].

[Bruno Martins] Pá, assim de cor-

Aquelas que ainda te dão um frio na barriga.

[Bruno Martins] Vou sempre pensar naquelas de coração partido, nas “Duía” e no “Agora e para sempre”, naturalmente. Isso são as canções que me vieram à memória porque me fizeram muito essa companhia. Mas depois há outras canções, até de intervenção, um bocadinho mais sociais, que abordam temáticas sempre actuais e muito relevantes.

Tens alguma parte preferida do documentário?

[Bruno Martins] Tenho algumas, deixa-me pensar aqui um bocadinho. Olha, gosto muito da entrada logo, da vista que se tem de Almada, deles os dois, dos dois manos no quarto. Há uma coisa que eu gosto muito no documentário, modéstia à parte, que foi a honestidade e a franqueza e o à-vontade com que a banda falou do Armando Teixeira, da Yen Sung, de nomes que passaram pela banda. Falam deles com carinho e simpatia, é uma página de história deles que ficou e gosto muito disso, desse bom coração que eu sei que os Da Weasel têm. 


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