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Ilustração: Riça
Publicado a: 10/04/2019

Do hip hop para qualquer lado: Crónicas de um HipHopcondríaco é da autoria de Manuel Rodrigues.

Crónicas de um HipHopcondríaco #18: Heróis de ontem e hoje

Ilustração: Riça
Publicado a: 10/04/2019

Já aqui falei da jogada de sorte – o melhor Shazam da minha vida, numa altura em nem sequer existia tal plataforma – que me levou até uma loja de discos em Vilamoura para comprar o meu primeiro álbum de Wu-Tang, The W (2000), casa-mãe do clássico “Gravel Pit”, a tal música, banda sonora de um jogo de basquetebol, que me fez virar o mundo às avessas numa busca frenética. Terá sido este o meu primeiro contacto directo com o lendário colectivo de Staten Island, contudo, não foi esta a primeira vez que os meus ouvidos se cruzaram com Method Man, um dos elementos-chave dessa tão respeitada família.

Como muitos dos jovens que enquadraram a sua adolescência nos anos 2000, também eu tive uma gigantesca pancada pelos Limp Bizkit. É verdade. E digo-o sem qualquer tipo de pudor. Houve tempos em que a banda de Fred Durst ocupou uma boa parte do meu quotidiano, ainda eu andava a gatinhar nesta coisa do hip hop. Regra de três simples: se Marshall Mathers LP (2000), de Eminem, foi o primeiro álbum dentro do género que comprei, tinha eu uns escassos 14 anos, significa que Significant Other (1999), dos Limp Bizkit, foi consumido pela mente de um puto de 13. Dá para compreender.

Os Limp Bizkit sempre viveram num estranho limbo. Se por um lado eram odiados pelo público mais ligado ao metal e às grandes bandas dentro do estilo, também não eram respeitados, por outro, pela comunidade hip hop. Além de ser um vaidoso de primeira, Fred Durst, o vocalista dos caps da New York e das Adidas Superstar, nunca foi dotado de grande destreza verbal. Os conteúdos estavam a milhas dos de Zack de La Rocha, dos Rage Against the Machine, e o vigor muito aquém do que era possível encontrar nos Beastie Boysou até nos Public Enemy, bandas que o homem de “My Generation” consumiu na sua adolescência e que terão influenciado a sua caminhada. Ainda assim, Durst tinha um certo carisma que o levava a ser acarinhado por alguns parceiros de profissão, o que resultou em participações com Xzibit, Lil Wayne e DMX, entre outros.

Significant Other foi um dos álbuns dos Limp Bizkit que mais ouvi, só perdendo, muito provavelmente, para Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water, a rodela que reúne os êxitos “My Way”, “My Generation” e “Take a Look Around”, canção que pede emprestada a melodia da série Mission: Impossible originalmente escrita pelo compositor argentino Lalo Schifrin. Mas é de Significant Other que se trata. Adorava a capa, que mostrava uma caricatura em estilo graffiti de Fred Durst, de mic na mão e com a indumentária do costume, mas apreciava ainda mais o interior, recheado de temas como “Nookie”, “Break Stuff” e “Re-Arranged”, todos eles singles, todos eles representativos do espólio da banda formada em Jacksonville.



Havia, não obstante, uma canção que eu estimava em especial, “N 2 Gether Now”. Este tema, numa toada mais hip hop que as restantes do álbum, colocava Fred Durst lado-a-lado com Method Man – havia inclusive um videoclipe que mostrava os dois artistas a partirem de um simples frente-a-frente num videojogo para uma luta com espadas envolvidas. Porém, sentia-se a discrepância entre os dois rappers. Fred era completamente esmagado por Method Man, que, além de ter um timbre muito específico, bem mais harmonioso que o do seu parceiro, era ainda dotado de um flow singular. Isto para alguém que se preparava para ingressar a sério na cena hip hop revelou-se uma descoberta única, quase como quem encontra uma galáxia nova a partir do seu telescópio caseiro.

Depois de ter mergulhado a fundo na obra dos Wu-Tang Clan e, por conseguinte, na de Method Man, descobri aquele que é, muito provavelmente, o melhor tema da sua fase mais underground, “Method Man”, presente em Enter the Wu-Tang (36 Chambers). E digo underground por uma razão meramente mediática, isto porque o homem de “N 2 Gether Now” viria a lançar várias canções de mira apontada para o mainstream, como “All I Need”, que conta com a participação de Mary J. Blige, e “How High Part II”, com o seu companheiro Redman e a voz de Toni Braxton no refrão. Esta última integra a banda sonora do filme com o mesmo nome, lançado em 2001, onde contracenam Method Man e Redman, nos papéis de Silas e Jamal, respectivamente, dois estudantes que descobrem as propriedades benéficas do THC e as usam em seu benefício. Eles eram, portanto, as figuras principais da película.

Há coisa de dois dias foi lançado o trailer da sequela, How High 2. Para espanto de muitos e, em alguns casos, revolta de outros, Method Man e Redman já não fazem parte do elenco. Para o seu lugar entraram, aparentemente, Lil Yachty e D.C. Young Fly. Os tempos mudam, como é óbvio, e as estrelas de ontem já não são as de hoje. Deixei de ouvir Limp Bizkit há muitos anos atrás e não me parece que vá ver a segunda parte do filme estreado em 2001. Contudo, continuo a ser mega fã de Method Man e dos Wu-Tang Clan. E é por isso que tenho encontro marcado com o colectivo no próximo dia 12 de Maio de 2019, em Glasgow, num evento que trará também a palco Public Enemy e De La Soul, intitulado Gods of Rap. Mimo.


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