[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados
Bob O Vermelho lançou o seu primeiro álbum na passada terça-feira. O rapper e writer é um dos pioneiros do hip hop eborense.
É a melhor altura para o lançamento: Évora está em destaque no circuito do hip hop português graças à programação d’O Bairro, um festival que acontece na cidade alentejana durante a próxima semana e para o qual Bob O Vermelho contribuiu como consultor.
Com colaborações de peso, que não estão restringidas ao distrito de Évora, O Vermelho reuniu “amigos de longa data” neste seu primeiro LP a solo, um marco importante numa caminhada que leva 18 anos. Valas, Badja, DJ Sims, Pródigo, Mr. Razor, ILL Mike ou D.Beat fazem parte do leque de convidados em O Vermelho, que teve a sua produção assegurada por nomes como Xeg, Danny Stone, James Gold, Raze ou OH-SHIT. A edição ficou a cargo do Sistema Intravenoso, de DJ Sims.
Lançaste há um par de dias o teu disco de estreia mas a tua caminhada enquanto MC já é longa. Fala-nos um pouco sobre o teu percurso e o que andaste a fazer até chegares ao álbum O Vermelho.
É verdade. Talvez seja um álbum que peca por tardio, mas… finalmente chegou! Não te sei dizer o dia nem talvez o ano mas possivelmente começo a escrever as primeiras rimas em 2000. Antes das rimas, o meu primeiro contacto com o movimento foi através do graffiti. Em primeiro lugar, fui um writer e só depois um MC. Como writer tenho tido uma “carreira intermitente”. Como MC nunca parei, apesar de editar apenas o meu álbum de estreia quase 20 anos depois da primeira rima. O percurso até ao álbum foi feito com muitos projectos a meio que nunca viram a luz do dia e, junto das famílias certas (Sistema Intravenoso e Matilha 401), cheguei ao dia de hoje com O Vermelho. Tenho também o meu próprio estúdio (Resistência Estúdio) de onde saíram grande parte dos projectos editados por pessoal de Évora e arredores.
Este O Vermelho é uma compilação das letras que guardaste desde então ou decidiste num determinado momento começar a escrever única e exclusivamente para o álbum?
Este álbum resulta do continuar de um projecto, que inicialmente seria um EP, com um colega de armas de Évora. Passou a ser um álbum meu em que apenas se “aproveitou” uma das músicas que já estava perto de estar finalizada. Tinha algumas letras escritas e outras por escrever, também mudei alguns instrumentais. Pensei na estrutura do álbum e nas participações. Adicionei a minha avó e o álbum ganhou a vida que tinha que ganhar. Nunca gostei de me sentar sozinho numa mesa por isso seria impossível fazer um álbum em que não sentaria uns 20 à mesa comigo. Uma forte característica do álbum é a dualidade MC/DJ. Aqui com grande responsabilidade do DJ Sims que me acompanha, ou melhor dizendo, nos acompanhamos desde sempre.
Fala-nos dessa junção de talentos que promoves n’O Vermelho. São artistas que já conhecias? Existiu algum critério na escolha dos convidados e produtores?
É, acima de tudo, um álbum com amigos. Praticamente amigos de longa data. Uns com quem cresci a fazer rap, outros cujo tempo se encarregou de colocar no meu caminho. Queria ter uma participação exclusiva de cada elemento da Matilha 401. Queria ter elementos do Sistema Intravenoso. Queria ter alguma junção entre a Matilha 401 e o Sistema Intravenoso. Isso fica conseguido na última faixa do álbum. Fiz também uma faixa em que juntei várias gerações de MCs e chamei-lhe “Os Eborígenas Devem Estar Loucos” — outrora o título de uma compilação que ainda penso vir a fazer. Foi também uma forma de puxar pelo pessoal mais novo. Não olhei ao skill de nenhum convidado como sendo dos primeiros critérios de escolha. Claro que tinham que saber o que estavam a fazer, quer fosse nas rimas, na produção ou na masterização. E não me importei que o álbum fosse carregado de participações.
A data de lançamento coincide com a programação d’O Bairro no Artes À Rua, onde também vais actuar. Foi algo pensado?
Inicialmente não foi pensado. Não tinha uma data de lançamento definida. Apareceu a oportunidade de se fazer um festival de hip hop em Évora e então cruzei as duas coisas. Deixei-me atrasar bastante na edição dos vídeos que gostava de fazer antes do lançamento. Troquei aqui um pouco a ordem às coisas e, bem ou mal, avancei desta forma. Neste festival servi, digamos, como um consultor, numa colaboração com a Câmara Municipal de Évora, a organizadora da festival. Fiquei com a responsabilidade de, dentro de um núcleo mais ligado a Évora, organizar uma cronologia para o festival, em que indicava alguns nomes para as actuações. Considero a abertura de horizontes por parte da CME uma enorme vitória pela qual eu já andava a lutar há uns anos. Espero que sejam o primeiro de muitos!