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Fotografia: Manuel Lino
Publicado a: 22/04/2022

A autora de Manga dá voz ao tema.

Batida sobre “Bom Bom”: “É especial e não há nenhuma parecida no novo disco”

Fotografia: Manuel Lino
Publicado a: 22/04/2022

Com “Bom Bom”, canção com videoclipe gravado na Casa Independente, em Lisboa, Batida inicia o caminho para o seu próximo álbum a solo, Neon Colonialismo (o mesmo título do programa que conduz na Worldwide FM), e que sai em Outubro pela Crammed Discs, editora com que já tinha trabalhado nos discos com Konono N°1 (de 2016) e Ikonoklasta (de 2021).

Não é difícil imaginar esta música nas listas do que melhor se fez em 2022, reunindo todos os ingredientes para iluminar casas por esse país fora: a visão comunitária de Pedro Coquenão, a interpretação de Mayra Andrade e os contributos indispensáveis de Botto Trindade e Octa Push chegam e sobram para convencer até os mais cépticos.

É um bombom. E bem bom, um doce que nunca se torna enjoativo. Enviámos algumas perguntas a Pedro e Mayra para desvendar o que usaram para deixar esta faixa tão apetitosa…



Lê-se no press que já se conheciam há algum tempo, mas que só o confinamento vos juntou. E fala-se de equidade e dignidade e de valores comuns. O que também dá a ideia de que será praticamente impossível para ti colaborar com alguém se não existir afinidade de visões da vida, chamemos-lhe assim. Que luz comum encontraste com a Mayra?

[Batida] Uma luz amarela torrada, dourada talvez. Cruzei-me com a Mayra em contextos sempre positivos. Identifiquei-me com a ética de trabalho, que não é frequente encontrar e, claro, aprecio muito a qualidade como artista. Houve sempre empatia e reciprocidade na vontade em fazer algo. Sim, temos uma ligação familiar ao continente africano e tudo o que isso implica, com uma necessidade de devolver e representar mas também de contribuir com algo nosso. Penso que, havendo referência fortes e valores comuns assim, torna-se uma questão de tempo. Haja tempo! O confinamento deu-nos esse tempo e perspectiva para falar do que falamos na música.

A letra é da autoria do Pedro. Houve alguma necessidade tua de retocar alguma coisa? E como foi interpretá-la? Reviste-te imediatamente nas palavras?

[Mayra Andrade] Eu achei logo a letra do Pedro muito boa, não houve necessidade, para mim, de alterar nada, até porque a letra foi, também, o resultado de muitas trocas e de muitas conversas sobre a música, sobre o que ela evocava a cada um de nós. E ele conseguiu, com um grande brilho, contar essa história nas palavras dele, com esse calão angolano e com esta dimensão de hino que esta música tem e que esta batida e melodia também evocam. 

Também há Botto Trindade e Octa Push nos créditos. Podes guiar-nos pelo processo de criação da faixa? Como é que chegaram a este resultado final e como é que estas pessoascontribuíram para isso?

[Batida] O processo foi sempre partilhado com a Mayra. O momento para esta canção em particular deu-se com uma iniciativa musical minha que envolvia tanto de melancolia quanto de movimento/dança implícitos, ainda que de um jeito mais delicado, talvez. A melodia surgiu em partes soltas e as palavras encaixaram-se, conversando, comprometidas com o ritmo e com a mensagem, sem concessões em nenhuma delas. Fizemos tudo sem equipas envolvidas até ao último momento e tudo bateu certo. Tudo se encaixou. Tenho muito orgulho nesta música, video e no que conseguimos fazer.

Sobre o Botto Trindade: é uma lenda da música angolana e, se noutros tempos o samplaria naturalmente, aqui achei bom sentar-me com ele, mostrar-lhe a música e poder tê-lo a acompanhar-me com a magia dele. Uma maravilha. Obrigado, Mano a Mano! Os Octa Push são-me próximos desde que os conheci… a caminho de Nairobi. Temos trocado muita coisa desde então. Aqui acrescentaram pequenos detalhes como se fossem os meus músicos de sessão de sonho.

Este é um single do novo álbum sobre o qual só se sabe, para já, a editora e o mês de lançamento. Que mais podes revelar nesta altura?

[Batida] Penso que ainda não se pode dizer mas, sendo escrito, acho que não há problema: chama-se Neon Colonialismo.  Como sempre, tenho colaborações, diálogos e tributos, entre artistas que falam português e outros que não, uns que são mais remisturas, outros que usam samples e outros totalmente feitos do zero. Sobre os convidados… podemos ir vivendo uma coisa de cada vez, não? Até porque eu faço sempre o mesmo mas de maneiras diferentes. Talvez o mais importante seja assumir que estou feliz e que esta música não é mais uma entre outras. É especial e não há nenhuma parecida no disco.

Há também um apropriado vídeo para acompanhar o que se ouve. E voltas à “tua” Casa Independente para gravá-lo. Só poderia ser ali gravado? 

[Batida] Tudo o que faço costuma ser inspirado pelas pessoas e pelos espaços em que o faço. Não me costumam sair coisas desligadas e totalmente fechadas em mim. A Casa Independente tem sido um espaço seguro para o meu trabalho e resulta muito de uma cumplicidade assumida com a Inês Valdez. Numa entrevista há pouco tempo, em resposta à pergunta do porquê, saiu: “por afecto” e soou bem. O vídeo poderia e esteve para ser feito em vários lugares mas este, agora, só faz sentido ali. Parte da primeira linha da canção e do assumir aquele espaço como uma verdadeira Casa, onde já dormi e tem um palco. Só faltava mesmo ter mar para ser a Casa dos meus sonhos. Não sendo, é uma Casa onde posso artisticamente dar vida a sonhos, como o deste vídeo.

Em 2021 colaboraste com Laura Mvula, Bk’ ou Juls. Para ti, e para além de teres de te integrar nos universos musicais dos outros, existe alguma diferença fulcral na forma como abordas canções que não são em teu nome próprio? É sempre um trabalho de interpretação, por assim dizer, ou não consegues retirar-te da equação?

[Mayra Andrade] As três colaborações que citas são casos muito diferentes: no caso do Juls, havia um beat em que eu compus a melodia e a letra, portanto, não é como chegar e interpretar algo que não me pertencesse de alguma forma. Com o Bk’, existia uma música e um espaço para eu criar, também compus a melodia e a letra da parte em que canto. A colaboração com a Laura Mvula foi o soundtrack do filme The Harder They Fall do Jeymes Samuel. A música é do Jeymes e foi-me pedido para fazer uma espécie de adaptação em crioulo do que contava a letra. Portanto, são três casos muito diferentes mas, em todos eles, é preciso eu reconhecer um espaço que é meu, para me abandonar a explorar coisas e a criar em cima de uma base já existente. Não me tem acontecido eu fazer colaborações com as quais não sentisse que pertencesse àquele lugar, de alguma forma, ou pudesse acrescentar algo à narrativa e estética da música. 


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