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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 08/05/2024

A rapper norte-americana actua no Porto e em Lisboa.

Akua Naru: “Queria um álbum só com canções de amor, não é muito comum no hip hop”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 08/05/2024

Inspirada pelos escritos de bell hooks, Akua Naru lançou no mês passado o seu mais recente álbum, All About Love: New Visions, um disco construído durante os tempos difíceis da pandemia onde explora o tema do amor e o seu “poder fortificante”.

Este é um projecto concebido com a sua banda, mas também com o apoio da orquestra de cordas Ensemble Resonanz. Para este trabalho, Akua Naru colaborou ainda com nomes como Tony Allen, Eric Benét, Angelique Kidjo, Tune-Yards, Questlove, Georgia Anne Muldrow, Christian Scott, Rah Digga, Mulatu Astatke, Bernard Purdie e Cody ChesnuTT, entre outros.

Dias antes de apresentar o novo álbum em Portugal actua na sexta-feira, 10 de Maio, no Hard Club, no Porto; e dia 11 no B.Leza, em Lisboa falou ao telefone com o Rimas e Batidas sobre All About Love: New Visions.



O que a fez querer explorar o tema do amor com este disco?

Para ser honesta, foi sempre algo que quis fazer. Havia vários projectos que eu imaginava ou que pensava que adoraria fazer e estava na altura de fazer este. Durante a pandemia, comecei a pensar que seria muito fixe finalmente fazê-lo. Queria fazer um álbum que fosse todo sobre canções de amor. Não é algo que encontres propriamente no hip hop, ao contrário de outros géneros, como o R&B. Pensei que seria incrível. E à medida que ia relendo o trabalho da bell hooks, All About Love: New Visions, onde ela apresentava novas visões sobre o seu livro original, All About Love, pensei que seria uma boa ideia aplicar a mesma abordagem. 

E estava a reler o trabalho da bell hooks já a pensar num disco, ou foi mesmo esse o catalisador que serviu de inspiração?

Não, estava a ler porque sou fã da mente dela. É um livro que revisito ao longo dos anos — quase todos os anos o releio —, e à medida que o estava novamente a reler, simplesmente pareceu-me diferente na maneira como me relacionava com aquilo. Isto é aquilo que eu preciso de estar a fazer, pensei. Desta vez impactou-me a um nível mais profundo. E fez-me pensar que era a altura para fazer este projecto sobre amor. Na pandemia aconteceu tanta coisa, muitas pessoas perderam as suas vidas, as coisas mudaram, tornaram-se assustadoras durante muito tempo, e algumas dessas experiências forçaram muitos de nós a clarificar aquilo que é mais importante: para mim, tem de ser o amor enquanto poder fortificante.

Mais do que nunca, é importante celebrar e reflectir sobre o amor?

Não quero dizer “mais do que nunca”, porque desde que somos humanos que o amor é o mais importante. Mas nos últimos anos, graças a diversas circunstâncias pelo mundo, fui obrigada a abrandar. E quando as pessoas estavam a perder as suas vidas e tudo aquilo por que trabalharam arduamente, havia tanto que não sabíamos e fez-nos reconhecer: o que é que importa mais? O que é o mais importante? Para mim, isso levou-me novamente a este texto. Que, por sua vez, me levou a este álbum.

Além da pandemia, pelo mundo e obviamente cada um tem a sua experiência parece existir uma sociedade cada vez mais polarizada. Sente que o amor é importante também nesse sentido, como aquilo que pode, de alguma maneira, remediar isso?

Quando falamos em All About Love, não podemos ser tontos e pensar que o amor vai curar tudo. Não é isso que estamos a dizer. A bell hooks está a dizer que vivemos num patriarcado capitalista, imperialista e supremacista branco. E por essa razão o amor é radical, revolucionário e urgente. E mais importante ainda: as pessoas do mundo têm de pensar sobre o que temos de fazer para nos retirarmos destes sistemas de opressão e de domínio, que nos possam fazer esculpir a justiça para a humanidade. E claro que vai ser preciso mais do que o amor. Mas talvez o amor pela humanidade nos urja a fazer escolhas melhores.

O amor pode ser uma ferramenta nesse sentido?

Acho que o amor pode urgir-nos a agir. Pode ser uma força motivadora para que talvez ajamos de formas que sejam benéficas para a humanidade. 

E teve imediatamente a ideia de não só criar músicas novas, mas também de reinterpretar canções da sua carreira para este álbum?

Sim, porque compus tantas canções de amor ao longo dos anos e acho que algumas delas passaram debaixo do radar das pessoas. Algumas eram deep cuts dos álbuns e muitas pessoas entraram apenas em contacto com o que estava online, ou com as canções que tiveram videoclipes, e havia tantas outras canções bonitas, que passaram a ter diferentes formas e cores à medida que as fomos tocando ao vivo e desde que foram originalmente gravadas. Senti que valia a pena revisitá-las e pô-las num álbum para que as pessoas interagissem com elas de uma maneira nova. 

E foi simples pensar na abordagem diferente que queria dar a cada uma dessas canções?

Não sei se foi simples, mas foi natural. Porque algumas das versões evoluíram ao longo do tempo enquanto as tocávamos ao vivo. E algumas versões convidavam-nos a parar e a pensar e a criar de maneiras diferentes. Foi bom, foi uma progressão natural. 

Como é que se juntou com a orquestra Ensemble Resonanz?

Durante a pandemia, eles convidaram-me para entrar num projecto que eles estavam a fazer. Viajei para Hamburgo, fizemos o projecto e passámos um óptimo bocado, tivemos grandes conversas. E sabíamos que queríamos trabalhar juntos outra vez. Por isso, fez-me sentido, enquanto ia pensando neste álbum, convidá-los para colaborarmos mais uma vez. E temos outros projectos que estamos a trabalhar em conjunto, por isso este é apenas o início entre diversos cruzamentos entre estas tradições, da música negra e da música clássica.

E também trabalhou com muitos outros músicos neste disco, do Tony Allen ao Questlove, passando pela Georgia Anne Muldrow e a Angelique Kidjo. Como foi esse processo?

Cada gravação foi uma experiência diferente. O que posso dizer no geral é que foi incrível. Cada oportunidade para trabalhar com um artista talentoso… Tu aprendes alguma coisa, cresces de alguma forma, expandes-te, vês as coisas de forma diferente e, para mim, isso faz parte da diversão disto. Não quero criar as coisas da maneira como sempre fiz, quero estar sempre a crescer e a expandir-me com a minha arte.

Mas era importante para si contar com estes músicos além da orquestra, que trouxe esse lado mais clássico?

Claro. Para mim é sempre importante contar uma boa história, de forma lírica e musical. E o que fizer sentido para alcançarmos isso… Por vezes envolve convidar outros artistas para espalharem a sua magia em cima do que já temos; depende da história que quero contar. E quando estou a criar algo, chega a uma altura em que sinto que já disse tudo aquilo que queria dizer, musicalmente e liricamente. Simplesmente sabes quando uma canção está pronta.

E como tem sido apresentar este álbum ao vivo?

Esta tour tem sido mesmo incrível, a maior parte da digressão tem tido concertos esgotados, temos tido conversas incríveis depois dos espectáculos, com as pessoas a dizer o quão têm ouvido a música ao longo dos anos e o que isso significa para elas; e como é que a música tem vivido com elas. Tem sido espectacular apresentar estas canções e ver como é que as pessoas reagem, essa é a alegria da performance. Adoro cada minuto. 

Também é uma experiência de amor.

Sim, porque é o que amo fazer. E quando as pessoas aparecem enquanto estás a ser o teu “eu” autêntico… Eu não estou a interpretar nenhuma personagem, não há nenhum papel a ser desempenhado, sou só eu a ser eu. E isto sou eu, é assim que eu pareço e assim que eu soo. Quando as pessoas aparecem e apoiam isso, é uma bênção, uma coisa bonita. É energizante. Quando um concerto foi avassalador acabámos de tocar em Montpellier, estava esgotado e o público foi incrível sentes-te revigorada. E muito em breve vamos estar em Portugal, eu adoro Lisboa, escrevi partes dos meus dois últimos álbuns no vosso país, e estou sempre entusiasmada com as experiências que vêm de uma tour

Houve algo aqui em Lisboa que a tenha inspirado particularmente?

Simplesmente gosto da cidade. Adoro a comida, o ambiente… Tenho uns amigos que têm uma casa a uma hora de Lisboa, e adoro ir lá. Nos últimos dois álbuns, The Blackest Joy e The Miner’s Canary, eu ia, ficava por lá ou arrendava um apartamento em Lisboa e simplesmente escrevia e trabalhava nas coisas. Fiz isso durante uns anos até à pandemia. Agora chegou o tempo de voltar.


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