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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/11/2024

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… ZEP

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/11/2024

A bateria é uma peça essencial da grande maioria dos géneros musicais. É um instrumento que se ouve em temas atrás de temas, auxiliando incontáveis abanares de cabeça pelo mundo fora e guiando os ouvintes qual metrónomo bombástico. A coordenação é fulcral a cada baterista, e é importante dominar a destreza dos vários elementos que compõem a bateria e simultaneamente conjugá-los e separá-los entre si, num malabarismo sonoro que parece fácil ao ouvirmos os seus melhores intérpretes. E é aí que Zep Barnasconi entra. 

O percurso do jovem músico holandês de 22 anos, mais conhecido como ZEP, começa atrás de uma bateria para crianças e poucos anos depois em palco com os Funkanizers, uma banda que formou aos 13 anos e que tocava uma combinação de jazz, funk, hip hop e rock, presságio do que seria o cruzamento de estilos da música que Barnasconi viria um dia a fazer. Apesar da banda não ter durado, o talento e vontade de musicar continuaram bem vivos no artista, ingressando no Conservatório de Amesterdão para estudar bateria. Actualmente, além do seu trabalho a solo também colabora com músicos como FÄIS ou ao lado de Wessel Slager no duo NEWARK. Mas seja qual for o meio, pelo trabalho de produção de ZEP percebemos que estamos perante um baterista.



A sua primeira música chega em 2021. “A BOTTLE OF” alia um rock pesado a uma batida de hip hop, com acordes de guitarra psicadélicos que servem como o culminar do riff industrial. Soa estático no papel, mas há pequenos apontamentos que Barnasconi vai acrescentado à repetição que provam a excelente noção que o baterista tem do momento em que cada som tem de aparecer. Temas como “DON’T BREAK YOUR NECK” ou “ROADTRIPPIN’” — este último que lembra Minus & MrDolly — são compostos por loops orelhudos que vão crescendo dentro de si mesmo, e compasso a compasso ZEP acrescenta densidade sonora às suas músicas. 

Outra das suas destrezas é a capacidade que tem para fazer música das mais variadas fontes sonoras: em “TAPED” ouvimo-lo transformar fita-cola num ritmo suado de visibilidade reduzida e “LOST.zip” começa com um sample do fecho de correr de um casaco e termina com uma aparente infinitude de sons de percussão que compõe um beat efervescente, semelhante a “TUBED” e o seu transe convidativo de notas agudas. Depois de dar os primeiros passos pela sua própria voz através da experimentação de “MOSHQUITO”, em 2024 chega o primeiro single em que o ouvimos verdadeiramente a cantar por cima das suas composições, “SLEEP HERE”, que é um dos destaques da curta discografia de ZEP. A sua entrega lembra-nos King Krule numa batida de drum and bass, e, acompanhado por um baixo despido e perigoso, o artista canta versos de pessimismo com uma entrega derrotista. Apesar de não soar a algo muito animador, é executado com perícia e isso faz toda a diferença.

Notamos uma aproximação à música electrónica, mas continua a ser na comunhão entre vários géneros que Barnasconi se sente mais confortável. No seu mais recente single “TRYING TO SAY SOMETHING”, um ritmo acelerado de jazz desagua em graves ribombantes e termina com um baixo a desintegrar-se através de notas com groove. O título e o sample que se ouve incessantemente aludem para ZEP nos estar a tentar dizer alguma coisa. Deixem-no falar, através das baquetas, palhetas ou como mago dos loops — ele sabe o que está a fazer.


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