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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 19/12/2019

Em Fevereiro, o trio lançou Ilha de Plástico, o seu álbum de estreia.

A Casa de Natal dos Montanhas Azuis: o regresso à Culturgest com “uma palete maior de cores e ritmo”

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 19/12/2019

No princípio de 2019 recebemos a excelente notícia de que se juntariam três importantes músicos portugueses para um novo projecto em colaboração. Ficámos ainda mais satisfeitos quando ouvimos o produto final dessa junção, o disco Ilha de Plástico. Um trabalho ímpar no panorama destes meios musicais, que não é jazz, não é electrónica, não é música experimental. Não é música erudita, nem música popular. É o aglutinar disso tudo. Juntos pela capacidade de criar melodias, como nos confessaram, os Montanhas Azuis viram-se mestres no desenvolvimento de timbres e paisagens sonoras oníricas de uma qualquer ilha do nosso subconsciente.

Vários meses depois, e já com feedback (bastante) positivo do álbum e diversas apresentações ao vivo, regressam amanhã ao sítio onde começaram esta aventura, e desta vez trazem novidades nos arranjos e novo material também. No “lugar” de Pedro Maia, que não fará parte deste espectáculo, há uma grande casa (da autoria de José Álvaro Correia) a ocupar o palco, outra alteração em relação ao que se passou em Fevereiro.

Em trio, os músicos teriam de segurar freneticamente todos os instrumentais, trocar de posições regularmente, para que a ilha não saísse do lugar. Desta vez, o elenco é maior: Tomás Franco de Sousa (You Can’t Win Charlie Brown) ocupa-se das percussões electrónicas; Ana Araújo (Dead Combo/Mikado) trata do piano e baixo eléctrico; Mariana Dionísio (In Igma, de Pedro Alves) e Leonor Arnaut (Chão Maior, grupo do qual também faz parte Norberto Lobo) ocupam-se com dar voz aos instrumentais.

Na primeira metade do ano, o ReB conversou com Bruno Pernadas e Marco Franco sobre Ilha de Plástico e concerto na Culturgest. Esta semana, Norberto Lobo juntou-se aos restantes membros para falar sobre esta Casa de Natal, o regresso a este palco e o próximo trabalho – ainda em processo de composição e selecção.



Antes de mais – e como falámos no princípio deste ano –, queria começar por perguntar: qual é o balanço deste 2019? Como sentem que foi o feedback do disco e dos concertos? E, principalmente, como acham que as músicas evoluíram desde o lançamento e primeira apresentação?

[Bruno Pernadas] Nós fizemos o disco, [mas] já tínhamos tocado antes. O que aconteceu desde a Culturgest foi: fizemos muitos concertos e, durante os mesmos, começaram a surgir muitos momentos de improvisação. Eu acho que isso é a parte mais interessante do grupo: irmos tocar ao vivo e depois, entre as músicas, existirem momentos de improvisação que levam a música para outros sítios — às vezes até mais interessantes (desculpem) do que o que aconteceu antes.

[Norberto Lobo] ‘Tá-se tão bem!

[BP] E essa evolução só aconteceu porque havia esta matriz, que eram as canções, e depois os concertos. Então, esses interlúdios acabaram por surgir, e às vezes são mesmo os momentos mais…

[Marco Franco] Mais irrepetíveis.

[BP] Não, os momentos mais dinâmicos e onde está a haver uma comunicação que não foi de todo pré-concebida. Acho que é isso. Isso foi, para mim, a grande mudança até agora.

[NL] Até há uma faixa no álbum que vem de um desses momentos!

[BP] Pois é, pois é. [A] “Marianas”.

Ah, a das “Marianas”, sim. Era a que tinha sido gravada ao vivo, também.

[BP] Sim, é uma gravação ao vivo.

[NL] Uma dessas jams.

Houve alguma música que sentiram que evoluiu um bocado mais? Que no disco estava duma maneira e depois pensaram que ao vivo podiam, se calhar, alongá-la.

[NL] Eu acho que todas. Acho que todas ganharam uma vida própria depois de começarem a ser rodadas.

E como sentiram que foi o feedback do disco?

[BP] No geral foi positivo.

Fiquei especialmente tentado a perguntar isto quando vi o anúncio deste concerto: estes novos arranjos são um complexificar da ideia inicial do disco? Foi uma orquestração que viram desenrolar-se com esta evolução das músicas? Se calhar terem mais músicos foi o complexificar disto?

[BP] Não, porque não é complexo. A única diferença é que temos uma palete maior de cores e ritmo. Mas não veio complexificar.

[MF] [É] como um bolo de noiva, que tem várias camadas.

A percussão electrónica é uma adição óptima, visto que anteriormente usavam drum machines, certo? E o piano e o baixo eléctrico são o adensar do espectro sonoro e tímbrico destas faixas. O mais curioso acaba por ser a integração das vozes nestes instrumentais. Como se deu esta inserção no Ilha de Plástico?

[MF] A ideia foi do Norberto.

[NL] As vozes surgiram quando estávamos a pensar nessas tais novas cores que podíamos acrescentar — acho que nós os três gostamos muito de vozes, notoriamente a voz feminina — e tivemos logo essa ideia. “Há aqui algumas malhas [em] que podíamos ter uns coros e tal”. Foi um bocado intuitivamente, acho eu. Foi das primeiras coisas que nos lembrámos.

Lá está, foi só acrescentar camadas, ou seja, estão a acabar por fazer mais ou menos as mesmas melodias e os mesmos arranjos? Ou são novos…?

[NL] Depende muito das faixas, há umas que nós tínhamos uma ideia muito específica, outras que não. E além disso, tanto a Leonor como a Mariana são improvisadoras, portanto elas também trouxeram muitas ideias, que nem nós às vezes íamos pensar nelas, não é? Elas próprias tiveram ideias muito interessantes, portanto foi um misto.

[BP] Tinham que ser cantoras como a Leonor e como a Mariana neste projecto.

[NL] Improvisadoras.

[BP] Improvisadoras livres [e] super criativas. Se fossem outras pessoas…

Se calhar iam-se cingir um bocadinho mais ao que estava já feito.

[BP] Não iam fazer nada, estava o caldo entornado. Iam ficar super limitadas porque…

[NL] E à nora.

[BP] … a matriz não era a de cantarem arranjos. Elas são quase tão criativas como nós neste concerto.

[NL] Quase… [São] mesmo!

[BP] Elas estão a fazer aquilo que lhes apeteceu fazer. Não houve assim propriamente uma… houve uma direcção, houve uma ideia que foi partilhada, mas ninguém está a escolher as notas que estão a cantar. Elas é que escolhem as notas, o registo, as sílabas, tudo.

[NL] Sim, numa malha ou noutra se calhar havia uma linha melódica que era mesmo importante estar lá.

Estes músicos que escolheram para trabalhar convosco são maioritariamente pessoas com quem já tiveram algum contacto musicalmente, certo? Também já tinham trabalhado num projecto do Norberto, uma das cantoras

[NL] Sim, o projecto do Yaw Tembe, na verdade, que é uma banda chamada Chão Maior, e a Leonor é a cantora desse projecto. Portanto, eu e o Marco já tínhamos trabalhado com a Ana Araújo, já tivemos inclusive uma banda.

[BP] Como é que se chamava?

[NL/MF em uníssono] Microméchant.

[NL] E pronto, éramos os três fãs da Ana. O Tomás é um colaborador do Bruno.

[BP] Eu sei que o Tomás gosta muito de Montanhas Azuis, gosta de música electrónica e gosta de música experimental assim com sonzinhos pequeninos a aparecerem de vários sítios, de várias componentes electrónicas e de sintetizadores. A Ana eu já conheço também desde 2005/2006. A Leonor conhecia porque ela é do meio do jazz e a Mariana também já conhecia, já a tinha visto cantar com o Norberto, portanto foi fácil. A única questão que se colocou foi se púnhamos mais instrumentistas ou não, mas a partir dos primeiros dois ensaios percebemos rapidamente que não ia acrescentar assim muito mais.

Relativamente à ideia de trazer outros músicos para além de, lá está, terem essas novas camadas, foi também um bocadinho para se libertarem?

[BP] Para mim foi porque quando toco em trio nos outros concertos, faço muitas vezes o baixo e a harmonia e garanto isso em quase todos os temas. Nunca faço muito mais do que isso. E agora posso não ter que fazer os baixos, por exemplo. E já é, para mim,…

[NL] … uma libertação.

[BP] Uma libertação! E ter mais solos porque está alguém a tocar, temos uma secção rítmica. Para eles, não sei se é assim tão diferente.

[NL] Para mim eu sinto o mesmo em relação às melodias. Sim, porque normalmente sou eu que faço as leads, que agora já não tenho que fazer sempre. Também dá uma liberdade para às vezes nem sequer tocar, digamos.

Se calhar até é um bocadinho mais fácil perceber ou ler a sala. Quando se está a tentar controlar tudo é um bocado mais intenso.

[BP] Pois, e há umas melodias — há bocado não referi, disse que era tudo improvisação, que tinha sido tudo no processo criativo, mas não – que a Leonor e a Mariana estão a cantar que são do Norberto e do Marco. Só para não ficar a ideia de que foi tudo criado durante os ensaios. Agora é que me estava a lembrar.

Quanto ao sucessor do Ilha de Plástico, quão avançados estão no processo da feitura do disco?

[MF] De um próximo disco? Não sei.

Disco ou próximo trabalho.

[MF] É assim, está numa pré-fase. Já existe música nova, o número dos temas já está a atingir, digamos assim, aquele número que dá para fazer um álbum. Mas isso agora vai depender muito dos próximos tempos. Um álbum não é assim uma coisa imediata de fazer. Até pode ser, mas…

Pronto, o comunicado de imprensa dá a entender que já estavam em vias de…

[BP] Já estão muitas músicas novas feitas, que até as vamos tocar. Não temos é data de gravação.

[MF] Sim! Já temos músicas que vamos tocar.

[NL] Nós basicamente vamos tocar dois discos. Vamos tocar o antigo e o próximo. Mas como o Marco ainda vai fazer 27 malhas nas próximas duas semanas.

[MF] E eles só vão gostar de uma…

E acham que nessas novas malhas já se reflectem um bocadinho estas novas camadas e novos músicos? Ou vai ser também à base dos sintetizadores, um bocadinho à semelhança do primeiro disco?

[BP] Ainda temos de decidir em que temas é que participa quem. Portanto, ainda não sabemos muito bem a instrumentação. Mas os sintetizadores pequeninos, esses Casios, vão lá estar, sim.

[MF] Isso vai-se manter! Isto de qualquer forma é uma banda que se gravarmos é uma coisa in loco, tudo ao mesmo tempo, um bocadinho à jazz.

Este concerto é o fechar deste ciclo do Ilha de Plástico ou é só um festejo natalício?

[BP] É mais um festejo natalício. Isto é um espectáculo que foi criado propositadamente para este evento. Nós não faríamos isto se não fosse aqui através da Culturgest.

[NL] Nem sabemos se vai haver mais algum.

Sim, estavam a dizer-me que não havia mais nenhuma data planeada, pelo menos para já, com este formato, por isso vai ser mesmo só aqui.

[BP] Sim, com o Show Casa de Natal eu acho que vai ser só aqui. Vai ser só na sexta.

[NL] Aliás, nem temos meios para reproduzir esta parafernália toda.

Sim, eu tive de passar por lá para vir para aqui, e vi como é que estava. Eliminou logo a minha questão: ia perguntar se iam ter os visuais do Pedro

[BP] Isso é possível que no futuro sim.

Já vi que para este concerto vai ser um bocadinho impossível com o tamanho da casa.

[BP] Não, para este não. Possível era, só que não.

Só se fosse projectado na casa!

[BP] Dava para usar a projecção na mesma, mas não: vai ser “só” [a casa].

[NL] Provavelmente vamos voltar a trabalhar com o Pedro, claro, porque gostamos muito de trabalhar com ele e acho que também tem tudo a ver com a banda.


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