pub

Publicado a: 29/01/2018

7 Dias, 7 Vídeos

Publicado a: 29/01/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] THE REST

Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?

7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal no terreno do hip hop. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto novo, com tanto por onde espreitar e escutar.

 


[Kali Uchis] “After The Storm” feat. Tyler, The Creator & Bootsy Collins

Partilhada apenas em áudio numa primeira instância, Kali Uchis fez com que “After The Storm” chegasse também em vídeo durante a semana que passou. Nadia Lee Cohen, a mulher por detrás do êxito visual de “Gilligan”, assina a realização do clipe que serve como a primeira apresentação de Kali Uchis ao seu público em 2018 — aproxima-se agora o seu disco de estreia, um projecto a manter debaixo do radar e que poderá elevar a americana de descendência colombiana a um novo patamar de popularidade.

Tyler, The Creator dá uma ajuda à artista de 23 anos, que não é nova nas colaborações com o mentor dos Odd Future — Cherry Bomb e o mais recente Flower Boy têm participações de Kali Uchis em diversas canções, incluindo “See You Again”, o tema que a fez subir ao palco no programa de Jimmy Falon para acompanhar Tyler.

Também Bootsy Collins é uma presença a ter em conta. O baixista dos Parliment-Funkadelic, que antes fez parte da banda que acompanhou James Brown no seus anos de ouro, também já tinha colaborado com Kali Uchis no seu último LP a solo, World Wide Funk.

 


[Ocean Wisdom] “Don” (prod. Pete Cannon)

“Don” é uma viagem no tempo ainda maior que o habitual na carreira do rapper da High Focus. O flow rápido que lhe é característico assenta que nem uma luva numa composição breakbeat de Pete Cannon. Haverá ainda algum MC com valências suficientes para rimar neste registo? Fica o desafio lançado.

E não é tudo, longe disso. “Don” é o terceiro avanço de Wizville, o próximo disco do britânico. Nos três temas do álbum já adiantados é Ocean Wisdom quem brilha — e muito — completamente a solo, no que aos versos dizem respeito, claro. No entanto, o segundo LP de originais do rapper parece vir munido que algumas participações no mínimo bombásticas — dos veteranos do grime Dizzee Rascal e P Money aos históricos do hip hop UK Rodney P e Roots Manuva, a quem se junta ainda o lendário Method Man. Wizville começa a dar sinais de ter os condimentos necessários para colocar o Reino Unido no centro das atenções.

 


[RUSSA] “Imperatriz” (prod. MAF)

Não é de mais relembrar a importância na diversificação do género dos militantes do hip hop. Numa cultura maioritariamente masculina, as mulheres têm-nos dado sinais de que também elas têm algo para acrescentar ao movimento, depois de o hip hop ter estado durante tantos anos refém de Lauryn Hill — a eterna promessa do rap feminino norte-americano cujo primeiro e único disco a solo ainda deixa saudades, não esquecendo também o percurso primordial que percorreu nos Fugees.

Em Portugal é Capicua — que até já deu o co-sign à newcomer num par de ocasiões – o exemplo máximo de um movimento urbano que tarda em dar a conhecer novos e legítimos exemplos no feminino, dignos de um lugar de destaque na história nacional da cultura urbana. RUSSA chega com as garras para fora, disposta a mostrar que o seu caso não será mais uma vitória moral, como várias outras que lhe antecederam e que desapareceram do radar com a mesma velocidade com que surgiram.

É no laboratório da Kimahera que está a desenvolver o seu grande plano para este primeiro trimestre do ano — o disco de estreia que conta com as produções de MAF, Holly e Sickonce. “Imperatriz” e “Entre Lisboa e Londres” são as duas amostras sónicas desse trabalho já disponibilizadas, que deixam anteceder um projecto conciso no horizonte da rapper sediada no Algarve.

 


[Nina R.A.E.] “Lose It”

Sim, elas estão mesmo aí. Embora a jogar num campeonato completamente distinto que o exemplo anterior — hip hop vs r&b / português vs inglês — também Nina R.A.E. é uma aposta séria made in Portugal que aponta para as sonoridades urbanas.

“Lose It” é um tema de carácter social bastante forte, numa altura em que tantos casos de cariz sexual e envoltos de polémica têm vindo ao de cima com denúncias que apontam em todas as direcções nessa grande indústria das artes. Moda, televisão, cinema, música… Não há área que escape e as mulheres têm-se mostrado unidas para combater a falta de respeito que têm sentindo por parte de alguns homens de poder nestes meios.

Mensagem à parte — sem nunca esquecer a importância destes casos e do papel determinante da arte no combate aos maus exemplos –, Nina R.A.E. mostra-se num nível bastante superior àquele que exigiríamos a um artista que acaba de lançar o seu primeiro tema. Sim, pode não parecer, mas “Lose It” é de facto a primeira música de sempre na carreira da portuguesa, actualmente a residir a Inglaterra. Beatoven, Zacky Man e Dodas Spencer são os músicos/produtores responsáveis por todo o trabalho de bastidores que colocou Nina R.A.E. neste registo. Um caso para acompanhar.

 


[Evidence] Weather or Not

Pode soar a batota, mas a verdade é que o mais recente disco de Evidence preenche os requisitos necessários para ganhar um lugar nesta rubrica. Além de toda a sua história e importância no circuito alternativo do hip hop norte-americano, Weather or Not foi carregado para o YouTube num registo audiovisual bastante fora do comum. O stream do disco não se prende aos típicos clipes de vídeo em loop e, durante os 55 minutos de duração do álbum, podemos mesmo fazer uma viagem de carro por uma Los Angeles chuvosa – sem repetições.

The Jokerr é quem nos conduz nesta travessia proposta pelo novo LP de Evidence. Um daqueles projectos que ficará nas nossas memórias como um dos mais importantes do ano de 2018, que ainda vai bem no início. Nottz, DJ Premier, Samiyam, The Alchemist e o próprio Evidence são alguns dos beatmakers em destaque neste Weather or Not, um álbum que também tem trunfos no capitulo dos MC convidados — Defari, Jonwayne, Mach Hommy, Styles P ou Rapsody assinam versos ao lado do Weatherman.

 


[Fumaxa] “Active Boyz” feat. Chyna & DJ Kronic

Já lá vai pouco mais de meio ano desde Made in Chyna, o EP de estreia que deu a conhecer o rapper Chyna, lado a lado com Fumaxa, que ficou encarregue da produção do curta duração. O rapper de Massamá tem-se destacado pela ginástica verbal com a qual articula os seus versos e “Active Boyz” não é excepção. O novo single no qual participa saiu em videoclipe e a realização é de Nincandro Fernandes.

O tema vem servido com o carimbo da Headbangerz Music e dá-nos uma visão da cultura hip hop em Portugal, representada neste vídeo com 3 três artistas de gerações distintas. Ao veterano DJ Kronic foi-lhe atribuída a função de riscar o tema, que serve como um aviso para o movimento nacional: eles estão aí, no activo e estão prontos para causar estragos sob a forma de ondas sonoras.

 


[slowthai] “T N Biscuits”

Diz-me o que ouves e dir-te-ei onde podes encontrar mais. Podia ser esta a premissa do YouTube, não fosse a plataforma número um mundial no segmento dos vídeos, também ela estar infectada com toda essa praga dos algoritmos informáticos, que nos tentam levar cada vez mais por um caminho que a indústria sugere, ao invés de nos colocar ao encontro daquilo que realmente andamos à procura.

Embora assim seja na grande parte dos casos, a verdade é que se formos tomando atenção a todas sugestões que nos surgem empilhadas à direita do vídeo que estamos a assistir, vai-se tornando possível fintar alguns obstáculos — são centenas de possibilidades mas que no fim nos fazem ver que valeu a pena o tempo “perdido” a fechar e abrir separadores no browser. Este “T N Biscuits” é um desses casos, uma agradável sugestão que me fora oferecida por um pedaço de código de programação alojado num endereço digital. slowthai, o seu autor, também não é muito menos aleatório que todo este processo de descoberta — a sua insistência no grime, bem afastado do centro de Londres, faz dele um caso de estudo dentro do condado de Northamptonshire.

Espreitando o seu canal no YouTube, damos de caras com mais dois videoclipes que, para já, se estão a tornar num vício. A dentadura dourada e os vídeos repletos de filtros de baixa fidelidade, combinados com as batidas e, claro, as rimas — Ring ring ring, answer my phone / Getting sick of my own ringtone – fazem de slowthai uma personagem completa que merece atenção.

pub

Últimos da categoria: 7 Dias, 7 Vídeos

RBTV

Últimos artigos