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Publicado a: 21/12/2015

2015: O ano da coroação de Sua-Alteza Lamar

Publicado a: 21/12/2015

[TEXTO] Bruno Martins [FOTO] Direitos Reservados

 

Já são poucas as dúvidas de que Kendrick Lamar é a grande figura da música em 2015 e para isso bastaria olhar para grande parte daquelas listas de balanço de fim de ano que vão saindo todos os dias e que, invariavelmente, colocam K.Dot no topo ou nos lugares cimeiros. Este ano, Kendrick regressou aos discos com toda a força, para se sentar num trono bastante disputado – ou acampar à lorde nos jardins da Casa Branca.

Há uma enorme marca distintiva de carácter no MC de Compton, algo que lhe confere um respeito quase universal que começa nos pares que vêem nele uma voz definidora no género. Kendrick é, como lhe chamou Rui Miguel Abreu aquando a saída do último To Pimp A Butterfly, um menino-prodígio: “Quando o pequeno Kendrick estava a aprender a gatinhar [1987], Jay-Z, com 18 anos, já se movimentava nas rodas de freestyle de Brooklyn à procura de fazer um nome; Notorious B.I.G., com apenas 15 anos, já vendia drogas nas ruas de Nova Iorque ao mesmo tempo que procurava um escape nas rimas; e Dr Dre, com 22 anos, já tinha deixado para trás a sua World Class Wreckin Cru’ e criado os N.W.A..”

Ora, hoje chegou-nos a notícia de uma belíssima prenda de Natal antecipada: o rei tem passagem marcada por Portugal no próximo ano, no festival Super Bock Super Rock – dia 16 de Julho – e nós já começamos a contar os dias para o segundo concerto de Kendrick em Portugal, depois de há dois anos ter-se estreado no Porto, no festival Primavera Sound.

Três anos depois, a certeza de que nos chegará um Kendrick diferente – quase trintão. As diferenças começarão por notar-se no óbvio, como o alinhamento, provavelmente já muito pontuado pelas faixas To Pimp A Butterfly, “um álbum em que se declara ‘eu acredito no futuro. Porque não podemos ficar-nos pelas ruas para sempre’”. Mas a atenção e o carácter definidor de Kendrick faz-se notar a cada dia que passa. Rui Miguel Abreu escreveu, a 1 de Julho de 2015, que “Kendrick está a mudar o hip hop, a obrigá-lo a crescer, a olhar mais longe, a ousar sair para fora das suas apertadas fronteiras.” Há quem diga que os troféus Grammy podem não valer muito, mas não deixam de ser os principais galardões da indústria musical. E, em 2015, Kendrick coleccionou 11 nomeações – veremos quantas vai levar para casa.

No início do mês, publicámos aqui no Rimas e Batidas um ponto-de-vista a propósito desse verdadeiro feito de Lamar, um “sinal mais claro de que a indústria está a acusar o toque das transformações de que tem sido palco”. Entre as 11 nomeações, o rapper marca presença em importantes categorias como Álbum (To Pimp A Butterfly) e Canção do Ano (“Alright”), disputando as cobiçadas distinções com artistas como The Weeknd ou Taylor Swift. Está também nomeado para Melhor Álbum Rap e Melhor Performance Rap (uma vez mais com “Alright”) além de acumular ainda outras nomeações por colaborações com Taylor Swift ou Flying Lotus.

“Os Grammys foram sempre e tradicionalmente espaço de consagração para as criações da própria indústria: a música cozinhada nas cúpulas, nos gabinetes de A&R das maiores editoras, que alcançava sucesso comercial (não necessariamente sucesso crítico) foi sempre aquela que a instituição Grammys preferiu distinguir. Kendrick, já se sabe, é um outro tipo de artista: alguém que vem das margens subterrâneas dessa mesma indústria, que se fez a si mesmo, que não encaixa no perfil do fantoche pop que vê cada um dos seus gestos ser operado por alguém numa posição superior. E talvez por isso mesmo tenha a capacidade para, no mesmo ano, surgir ao lado do maior fenómeno pop do presente, Taylor Swift, e ainda assim ser capaz de trabalhar com um nome que é de outra galáxia, infinitamente mais longínqua, como Flying Lotus”, vincou Rui Miguel Abreu.

Por outro lado, o concerto do Super Bock Super Rock pode acontecer já com canções novas. Além do novo disco, Kendrick tem sido muito requisitado para colaborações e pode até estar para aparecer uma mixtape – a 16 de Fevereiro – feita a meias com J. Cole (estaremos atentos). Outra participação – já editada e aqui muito elogiada por Sidónio Teixeira – foi a que fez em Compton: A Soundtrack, mais recente disco nascido da criatividade de Dr. Dre, no meio de outros gigantes, como The Game, Eminem, 50 Cent ou Busta Rhymes: “A participação soberba de Kendrick Lamar – muito igual a si mesmo e que, quase sozinho, impede que o álbum seja uma queda total no abismo.”

A proximidade entre Lamar e Dr. Dre faz-se sentir cada vez mais: foi o ex-membro dos N.W.A. e patrão da Aftermath ter apostado num contrato discográfico para o miúdo que tinha acabado de compor Section 80 e hoje, ao reconhecer todo o talento de Kendrick Lamar, Dre confessa que tem o sonho de fazer uma digressão europeia com Snoop, o Eminem, o Kendrick Lamar a que quer chamar Beats & Rhymes (Rimas e Batidas). Um passo de cada vez. Nós, apesar de desejarmos muito essa tour, para já vamos ficar muito felizes de ver em Lisboa a festa a acontecer. “We gon’ be alright!”

 

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