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O que significam as 11 nomeações de Kendrick Lamar para os Grammys?

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

 

São 11 as nomeações coleccionadas por Kendrick Lamar para os Grammys de 2015 cujos resultados se conhecerão a 15 de Fevereiro próximo. O rapper está nomeado em importantes categorias como Álbum e Canção do Ano (“Alright”) disputando as cobiçadas distinções com artistas como The Weeknd ou Taylor Swift. Lamar está ainda nomeado para Melhor Álbum Rap e Melhor Performance Rap (uma vez mais com “Alright”) além de acumular ainda outras nomeações por colaborações com Taylor Swift ou Flying Lotus. E esse é um facto relevante.

K.Dot já havia conquistado dois Grammys na edição relativa a 2014, mas acumular assim tantas nomeações é um facto inédito e talvez o sinal mais claro de que a indústria está a acusar o toque das transformações de que tem sido palco. Os Grammys foram sempre e tradicionalmente espaço de consagração para as criações da própria indústria: a música cozinhada nas cúpulas, nos gabinetes de A&R das maiores editoras, que alcançava sucesso comercial (não necessariamente sucesso crítico) foi sempre aquela que a instituição Grammys preferiu distinguir. Kendrick, já se sabe, é um outro tipo de artista: alguém que vem das margens subterrâneas dessa mesma indústria, que se fez a si mesmo, que não encaixa no perfil do fantoche pop que vê cada um dos seus gestos ser operado por alguém numa posição superior. E talvez por isso mesmo tenha a capacidade para, no mesmo ano, surgir ao lado do maior fenómeno pop do presente, Taylor Swift, e ainda assim ser capaz de trabalhar com um nome que é de outra galáxia, infinitamente mais longínqua, como Flying Lotus.

Por outro lado, a indústria ameaça distinguir alguém que assumiu um relevante papel político durante o ano, que cedeu o tema “Alright” para ser banda sonora dos protestos #BlackLivesMatter nas ruas da América. Os Grammys, como os Óscares, são o produto de uma indústria conservadora e por isso mesmo vê-los a apontar como possível canção do ano um hino como “Alright” tem que significar que algo mudou. E merecerá uma leitura política caso o tema logre mesmo coleccionar o Grammy respectivo.

Claro que estas considerações só farão sentido se, de facto, no próximo dia 15 de fevereiro Kendrick Lamar sair do Staples Center em Los Angeles com uma série de galardões debaixo dos braços. Aí sim, teremos a certeza da força que Lamar personifica. Ele poderá muito bem ser o mais importante artista da sua geração, mas esse filme ainda agora começou. Inegável é, no entanto, o sinal que estas nomeações transmitem: algo está a mudar e somos todos parte dessa mudança. Aguardemos, serenos, os resultados.

 


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