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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/09/2024

O versátil artista luso-angolano regressa a Lisboa para apresentar ao vivo o seu mais recente EP.

YANKEMA: “Durante algum tempo tentei encontrar-me como artista melódico, mas senti que faltava alguma coisa — era o rap”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/09/2024

Por cima de beats drill, conjugando rimas trabalhadas com melodias cativantes, muito também graças à sua ginga angolana, YANKEMA demonstrou o seu potencial com o mais recente EP, EUROTOUR, editado em Agosto e que será apresentado esta sexta-feira, 6 de Setembro, no Musicbox, em Lisboa. É o seu concerto mais importante até agora e o artista de 25 (quase 26) anos estará acompanhado dos Trinity 3nity, que também participam no disco.

“Quis apresentar uma maneira diferente de fazer drill, quis apresentar o take do YANKEMA a fazer drill”, explica ao Rimas e Batidas. “Quis mostrar o skill que adquiri desde o meu último projecto e dar muita ênfase às barras. No projecto anterior dei muita ênfase à parte melódica e neste quis mostrar como escrevo. Sobretudo no ‘Na Road’, o som em que me sentei mais para escrever. Curto muito dos outros, mas apostei mesmo no ‘Na Road’, queria mostrar o meu skill. O EP tem um conceito, as músicas estão todas ligadas entre elas o final de uma está ligada ao início da outra, há transições e o conceito tem a ver com imigrares à procura de condições melhores, para assumires os teus sonhos, etc. Tem a ver com a minha vivência, de ter estado em Londres, em Lisboa, de ter conhecido outros locais na Europa no caminho e de ter bebido muito dessas influências, mas sem retirar as minhas raízes africanas e angolanas.”

YANKEMA é o nome artístico de Keanu Magalhães, rapper de Luanda que cresceu num meio particularmente ligado à música. O pai tornou-se DJ nas discotecas da capital angolana na década de 70, numa altura em que a música pop e a electrónica se cruzavam em força na pista de dança. “Então sempre tive essa ligação com a música por parte da família. Desde pequeno que os meus pais sempre me incentivaram a seguir cenas ligadas à música. Ouvia o meu pai a tocar e aprendi cenas de DJ, depois tive aulas de piano.”

Por outro lado, os seus tios estavam ligados ao movimento hip hop local. “Eles estavam muito presentes na cena rap de Luanda. Um dos meus tios foi um dos fundadores de um dos colectivos mais conhecidos nos anos 2000, a No Stress Music. Ele fazia mais a parte de captação de vídeo, mas sempre houve essa ligação, o pessoal que cantava com ele depois esteve ligado aos Kalibrados, ao NGA.”

De forma muito natural, Keanu Magalhães aproximou-se do rap. “A minha base é muito o hip hop raiz. Naquela altura eles ouviam, e também era muito tendência em Angola, rap com conteúdo político. Valete, Azagaia… E dos states era Jay-Z, Nas… Cresci com essas influências por parte dos meus tios.”

Começou a fazer música de maneira despreocupada por volta dos 15 anos. “Quando comecei, foi a explosão do trap soul. Estive mais ligado ao R&B no meu início e foi nessa altura que explodiram o Tory Lanez, o PARTYNEXTDOOR ou o Drake mais melódico. Foi assim que comecei, a explorar o trap soul e o R&B.” Formou uma dupla com um amigo, Bill John, que já fazia música, e começaram a gravar e a lançar alguns temas. Também conhece SleepyThePrince desde essa altura e daí que tenham colaborado nalgumas ocasiões, tendo também ambos integrado o projecto WeMakeMusic & Wayout.

Entretanto, mudaram-se para Lisboa. Keanu Magalhães na altura ainda assinava na música com o seu nome próprio veio estudar Publicidade e Marketing no IADE e ficou perto de meia dúzia de anos na capital portuguesa. Nesse período, foi acumulando experiências na música e trabalhando nalguns projectos.



“O nosso público era mais angolano, então começámos a ter actuações em festas organizadas no Dock’s ou no Hawaii e depois passámos para outras festas angolanas em Lisboa. A dupla fazia sentido porque o Bill John sempre esteve muito ligado ao hip hop então eu era o vocalista do grupo, fazia a parte melódica, e ele era o gajo das barras.”

Entretanto mudou-se para Londres. Criativo multidisciplinar, foi tirar um curso na área da moda e manteve-se a fazer música, assumindo o nome de YANKEMA alcunha que os amigos usavam desde que era pequeno e apostando cada vez mais no rap.

“Na altura foi a explosão da Wet Bed Gang, do T-Rex e de muitos artistas melódicos, mas com base no rap. E para mim fazia sentido apostar mais no rap e não fazer apenas a parte melódica. Porque cresci mesmo com a raiz do hip hop, o meu rapper favorito é o Sam The Kid. Durante algum tempo tentei encontrar-me como artista na parte melódica, mas sempre senti que faltava alguma coisa. E foi aí que percebi que havia gajos muito bons a misturar as duas vertentes e revi-me muito naquilo.”

Seja como Keanu Magalhães ou como Yankema, uma rápida pesquisa online serve para constatar que o músico tem estado bastante activo nos últimos anos, a lançar singles e projectos de forma regular. Estreou-se como YANKEMA com o EP 1998, editado o ano passado, mas antes já tinha discos como TOUR (2022) e XVIX (2021). Embora seja um artista da nova geração, em que o formato mais rápido do single está tão presente, gosta da ideia de conceber projectos conceptuais onde possam desenvolver uma narrativa ou uma peça artística mais coesa.

“O meu rapper favorito de todos os tempos é o Sam The Kid e o álbum que me fez apaixonar por hip hop foi mesmo o Pratica(mente). Foi o disco que mudou a minha trajectória como artista. E desde que comecei a fazer música a sério que disse que gostaria de tentar fazer um pouco daquilo em todos os meus projectos. Ou seja, adoro criar projectos com conceitos, até porque a minha mente é muito visual, e parto muito do princípio de uma história e depois vou fazendo as músicas consoante isso. E gosto muito do formato dos EPs porque posso contar pequenas histórias.”

As vivências entre Luanda, Londres e Lisboa os três L’s que definem o seu percurso até agora também o tornaram num músico mais eclético e versátil, acredita. Pressente-se o gosto por várias tendências do rap, pelo R&B mais melódico, mas também diz que certamente foi influenciado pela música popular angolana, brasileira e portuguesa.

“A forma como se faz música hoje é algo em que me revejo muito, porque os artistas têm muitas influências. A maneira como o hip hop e o trap se reinventaram — e vês gajos melódicos com influência, sei lá, de funk ou de jazz… Revejo-me muito nessa componente melódica e acredito que influencia muito a maneira como faço música hoje em dia”, explica.

“Quando vim para Lisboa, a minha namorada da altura gostava muito de fado, então foi aí que também fui introduzido um pouco à música popular portuguesa. Já ouvia em casa, mas ao tentar apreciar mesmo o estilo de música foi com ela. Também fez parte das minhas influências. E gosto muito da cena da Ana Moura ou do Mike11, pessoas que misturam o fado tradicional e o tornam mais urbano.”

Já em Londres foi exposto ao drill, subgénero do rap muito em voga na capital britânica. “O que mais influenciou a minha música na minha vivência em Londres foi mesmo a língua. A minha dicção como artista mudou muito por conviver com pessoas que falam o inglês mais britânico, mas de Londres, que tem tem muitos ‘t’ e ‘d’, e acho que isso influenciou bastante a minha maneira de rappar.”

Além de usar a voz e o dom da escrita, YANKEMA também compõe e produz. “Sempre estive ligado à produção, também comecei aí, mas nos últimos anos é que aprendi mesmo a produzir e tenho estado a tentar fazer essa transição para produzir toda a minha própria música. Quando não tens, tens que ir atrás. Partiu muito da autossuficiência, de querer fazer ao máximo com que a minha arte dependa menos de terceiros, e também por paixão própria, por curiosidade, sempre gostei muito de produzir. Às vezes tenho ideias na cabeça e elas não se concretizam porque eu antes não tinha os meios para fazer essas ideias acontecerem. E é algo que quero continuar a fazer cada vez mais nos meus projectos.” Eurotour conta com dois beats da sua autoria (na primeira e na última faixa do projecto) e pós-produção sua nos outros temas.

Faltam poucos meses até ao final do ano, mas YANKEMA não pretende abrandar. “Estou a preparar um projecto maior não digo que seja um álbum, porque acredito que ainda não estou pronto para um álbum, porque é uma responsabilidade muito grande, mas talvez uma mixtape. É muito grande para ser um EP, mas não é consistente o suficiente e ainda não tem aquilo que para mim é necessário para ser um álbum. Estou a pensar lançá-lo até ao final do ano, vamos ver como é que as coisas correm. E neste período vou tentar lançar singles. Este foi um ano para demonstrar consistência e é para continuar.”


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