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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Bernardo Casanova
Publicado a: 05/09/2021

A tirar o pó ao microfone.

xtinto na Casa do Capitão: repisar palcos sem armadilhas

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Bernardo Casanova
Publicado a: 05/09/2021

“O que me tirou o covid já nem piso palcos”…

Parece que foi noutra vida a noite em que xtinto deu o primeiro concerto em Lisboa, uma apresentação a solo no Musicbox (assinalada pela presença do ReB na plateia e marcada pela entrevista da Tranquilow no fim do concerto), no dia 9 de Janeiro de 2020. Parece não: foi mesmo.

Entretanto o mundo fechou, mudou e reabriu (a conta-gotas, por enquanto), e a nova vida tem-nos permitido espreitar brechas de uma normalidade distante, um misto de um passado sepultado e de um futuro prometido ao virar da esquina. Setembro deste ano era mês de promessas, mas a presente realidade dita outra contenção. Já aprendemos a gerir as expectativas quando o amanhã, que sempre parecera garantido, se tornou incontornavelmente incerto.

Foi nessa frequência que xtinto, no passado dia 2 de Setembro, subiu ao pequeno palco da Casa do Capitão, no Beato — um espaço que tem promovido showcases de uma variedade de artistas, firmados e emergentes, de reconhecida qualidade, e que tem, pelo menos como o conhecemos, os dias contados (aproveitem os últimos cartuchos!) —, para uma “reapresentação” — nas suas palavras — na capital lisboeta, como cabeça de cartaz de mais um evento It’s a Trap com DJ sets de Rodrigo Balona e João Moura, antes e depois da actuação principal, seguido pela sessão It’s a Trap Push The Culture a cargo de Mizzy Miles.

O que o Covid-19 tirou há-de, mais tarde ou mais cedo, devolver. E os palcos, a pouco e pouco, vão sendo reconquistados e as plateias repovoadas. A entrada do rapper que lamentava em “Android” a ausência da mais nobre manifestação do seu ofício foi, por isso, feita a medo — ou em contenção, melhor dizendo. Apoiado pelos áudios originais de “Jurássico Barco” e “Pentagrama”, xtinto depressa se desprendeu da ferrugem inicial e rapidamente oleou a engrenagem do motor que vai dos zero aos cem versos em poucos segundos. Ainda deu uns quantos solavancos, como seria de esperar de alguém que se viu impedido de actuar durante mais de ano e meio; porém, Francisco Santos voltou a imprimir, em vários momentos, a intensidade a que nos habituou nos seus dois últimos EPs e que nos surpreendeu ao vivo nessa gloriosa noite em que pisou e esmagou o palco do Musicbox. 

O rapper de Ourém não desceu sozinho; trouxe consigo Billy Verdasca para o apoiar enquanto DJ, ele que é o grande responsável pela componente visual dos lançamentos do parceiro. A eles juntaram-se ainda BIYA, para completar o “Esquema”, e benji price, que saiu da penumbra de onde vinha a atirar as backs para revelar “Éden” e iluminar o terraço. Ainda assim, os arrepios mais intensos fizeram-se sentir nos períodos solitários de xtinto à boca de cena, desde a citada “Android” ao “interlúdio” de cortar a respiração, com pontuais interrupções no alinhamento para a capellas tirados a ferros da memória.

Em menos de nada, o concerto chegou ao fim, e o público não se dava por satisfeito, pelas melhores das razões. A legião que segue, fielmente, xtinto é uma corporação unida e inquebrável como poucas há no rap nacional, pelo que a exigência de “só mais uma” foi feita em uníssono e bem alto. O pedido não foi correspondido, mas a espera mais longa já terminou. Contenhamos então, novamente, a ansiedade de querer sempre mais — afinal, “mal Setembro passe ‘ele’ acorda em paz” e retoma o concerto inacabado.


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