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Fotografia: Gonçalo Barranqueiro
Publicado a: 08/09/2022

Com a cabeça entre Faro e o Rio de Janeiro.

Wet Bed Gang: “A nossa família do Brasil tem ficado cada vez maior”

Fotografia: Gonçalo Barranqueiro
Publicado a: 08/09/2022

Quando o assunto é rap português, há alguns nomes cravados a letras garrafais no quadro dos mais relevantes do momento: o dos Wet Bed Gang é obrigatório nessa lista. Somam sucessos intermináveis, têm enchido os recintos por onde passam (como é o caso do Festival F, onde pudemos conversar com eles) e vivem certamente uma época de glória enquanto músicos.

Depois de Ngana Zambi, o grupo brindou-nos com “Praça Onze”, faixa lançada há cerca de dois meses. Para além da interessante lição de história que prestam aos seus ouvintes com o videoclipe desta faixa – que aliás, conta com a participação especial do actor Rui Porto Nunes –, há uma camada adicional neste lançamento dos WBG: várias têm sido as aproximações que têm surgido à cultura musical brasileira, e este tema é mais uma delas. Depois de dividirem o palco com L7nnon, a convite do brasileiro, há poucas semanas — e onde até anunciaram estarem a trabalhar em conjunto –, o grupo, através de Gson, também deslizou em “EUROPA”, tema com o rapper brasileiro Teto (assim como Deejay Télio e Mizzy Miles).

Foi com os olhos postos no futuro do quarteto de Vialonga que aproveitámos a passagem dos mesmos pelo Palco Ria da sétima edição do Festival F, em Faro, para uma interessante conversa que apenas pecou pela sua curta-duração.



Queria começar pelo vosso mais recente lançamento, a faixa “Praça Onze”. Li algum do feedback da faixa e muita a gente a tem considerado quase como uma lição de história, especialmente o videoclipe. Gostava que me explicassem o conceito por trás do videoclipe, que acaba por ser a parte mais densa.

[Gson] Basicamente, o vídeo é uma tradução simples daquilo que acabaste de dizer, e bué bem, por trás do que era a Praça Onze. Praça Onze porque era a morada, a casa onde morava a Tia Ciata, que era uma mãe de santo do Candomblé. Na altura, as mães de santo baianas foram para o Rio de Janeiro e a maioria delas são descendentes directas de angolanos, então nós quisemos, indirectamente, fazer este casamento entre o o pai Europa e a mãe África no Brasil. E nada melhor que a casa da Tia Ciata, que é bué rica em cultura, desde o cavaquinho do tuga até à batucada angolana — que deu origem ao samba e ao semba mais tarde. Então, quisemos ir buscar um bocadinho disso tudo e o sumário disso é precisamente a Tia Ciata e a sua casa, que é a matriarca do samba.

Até no início do videoclipe o vinil que está a girar é histórico, supostamente o primeiro tema de samba gravado.

[Gson] Ya, ya. Chama-se “Pelo Telefone” e é um dos primeiras temas gravados de sempre de samba, dizem que há um ou dois que foram gravados antes, mas aquele que foi o que bateu mais, portanto é o que conta como o primeiro. “Pelo Telefone”, [que foi] gravado na casa da Tia Ciata!

Para além de tudo isso, têm-se posicionado cada vez mais perto e próximos do Brasil e da indústria musical brasileira. Há poucas semanas estiveram em palco com o L7nnon, Gson participou na faixa “Europa” com o Teto e o Deejay Télio também — o próprio L7 mostrou um teaser que indica que estão a trabalhar juntos em música nova. Gostava que me falassem um pouco sobre essa aproximação ao mercado brasileiro e o que é que estão a preparar para um futuro breve.

[Kroa] Nós estamos a pensar mudar o nosso nome para Gorillaz [risos]. 

[Gson] …não, mas a falar a sério: ya [risos].

[Kroa] E depois não só, né. Temos uma boa relação com o L7nnon, com o nosso boy Matuê, com os boys da Pineapple, temos boas relações com eles, são família. Não é bom tratar as coisas como business, é família. E a nossa família do Brasil graças a Deus tem ficado cada vez maior e, então, quando nós como grupo de música nos formamos como família, sempre que estamos a fazer projectos fora ou trabalhar com outros artistas estamos em família. E a nossa família do Brasil está a abraçar-nos bem. Portanto, é normal que saia festa para fora!



Por falares no Matuê, há dois anos entrevistei-o sobre o seu álbum Máquina do Tempo e ele no fim disse-me que os Wet Bed Gang seriam o nome de Portugal com quem gostaria de colaborar e também reparei que estiveram com ele quando andou por cá em Abril! Consideram que a faixa “Cocaína” foi o tema em que primeiro conseguiram abrir as portas e penetrar no mercado brasileiro?

[Zizzy] Claro que sim, na altura fechou-se o som com artistas que tinham muito peso lá no Brasil [e acrescentámos] a nossa pimenta. Eu, por acaso, não estou nesse som, mas é como se estivesse. Acho que foi o primeiro som que fizemos com zucas, né? 

[Kroa] Tivemos aquele antes, mas que acabou por não sair. Com aquele nosso puto que também esteve cá.

[Zizzy] Ya, ele ’tá a falar uma cena que é verdade, mas este foi o primeiro nas ruas, sim. Esperamos que haja muita história da Wet Bed Gang com o Brasil ainda, ya. 

Qual é a importância para vocês desta aproximação do rap português e brasileiro nos últimos tempos, de um aproximar de culturas pelo meio da música? O Prodígio rimou em vários beats do DJ Caíque no seu novo álbum, o Uzzy colaborou com o Sidoka e o Salah também, e têm havido cada vez mais colaborações entre os dois lados ultimamente. Gostava de ter a vossa opinião sobre isto.

[Zizzy] Acho que é uma cena que faz parte, acho que ainda é uma cena que ninguém talvez conseguiu ainda — penetrar o mercado brasileiro da forma que se quer –, não sei se vamos ser nós ou outro, mas se podermos contribuir para ser daqueles que abrem mais o portão, que o forçam mais, vamos fazer esse caminho e que a próxima geração aproveite, assim como nós estamos a aproveitar com esta geração antiga. É um processo, vamos ver, não sabemos o dia de amanhã.

[Kroa] Acho que a dica nem é tanto estar bué focado em chegar ao mercado brasileiro, parece que nos estamos a aproveitar do mercado ‘tar a bater. É do género, nós graças a Deus temos ouvintes em Angola, no continente africano todo, nós queremos é fazer a nossa música ser ouvida entre nós, os PALOP, que a nossa música seja ouvida em toda a CPLP. Queremos chegar a todos os portugueses de forma oficial. Não é bué tipo, “o Brasil agora está a bater”. Não, não é isso.

[Zizzy] É um bom desafio, por acaso.

[Gson] A cena é que há bué mercados dentro dos CPLP que são interessantes e que só têm uma beca mais de struggle porque a indústria da música, pelo menos digitalmente, tem mais dificuldades a nível de recursos. Mas tens mercados interessantíssimos. Angola é um mercado gigante, a própria Luanda também é um mercado gigante, Guiné, Moçambique, há bué mercado dentro da língua portuguesa. Se estamos a falá-la, queremos ir aos limites dela, e depois desses limites vamos inventar outros, né? Todos os mercados onde se fala português são obviamente do nosso interesse, porque há ali um pouco de cultura e um pouco de história deixada.

Para finalizar, ia-vos perguntar quem eram os artistas da cultura brasileira com que gostavam de colaborar sem ser o L7nnon e o Matuê, mas aproveitando a vossa última resposta vou abrir a pergunta a todos os artistas dos CPLP. Com quem gostariam de colaborar? 

[Gson] O nosso último álbum foi narrado pelo Bonga, ou seja, não é bem uma colaboração cantada, por isso gostava que o Bonga estivesse numa música nossa. 

[Zizzy] Eu não consigo dizer assim da CPLP, porque eu gosto bué de tudo… mas, olha, a Mainstreet é bué pesada, a cena brasileira ’tá toda muito fixe. Do mercado angolano também gostamos de muitos artistas, há malta com talento. 

[Kroa] Seu Jorge! Ya, adorava fazer um som com o Seu Jorge.

[Zizzy] Dizer-te assim um nome é complicado, vamos ouvindo várias cenas e vamos gostando de alguns artistas, há aqueles que estão sempre lá na lista, mas depois vamos rodando outros que nos aparecem e gostamos.

[Kroa] Uma coisa dá para garantir: o maior feat. lusófono da Wet há-de ser com a NENNY.


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