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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/05/2023

Sabor a revolução.

Vem: um Loft na Lisboa gentrificada

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/05/2023

perspectiva de passar umas horas no centro de uma pista a ser massageado pelo som emitido por um par de Klipsch Belle bem acompanhadas por outro par de Tannoy Glenair, com tudo isso a ser movido a um combo de amplificadores Quad e Icon Audio e com os 1210 devidamente apetrechados por Shibatas e mediados por uma Isonoe, foi impossível de resistir e sobrepôs-se às alternativas de peso que nos propunha o programa do Amadora Jazz, por exemplo.

A Vem aconteceu na passada sexta-feira, numa localização secreta só partilhada com quem se inscreveu previamente, e foi uma absoluta delícia. Seguindo os preceitos estabelecidos pelo guru David Mancuso, a Vem apresentou-se desde logo como um evento inclusivo, estabeleceu regras de justo bom senso em relação ao comportamento (não vislumbrei uma selfie que fosse…) e não fosse o compreensível entusiasmo de quem não resistia a conversar no centro da pista, esquecendo que o som era debitado num volume que não lhes abafava a voz, tudo teria sido absolutamente maravilhoso. Uma mesa com fruta, a possibilidade de adquirir uma boa garrafa de vinho e a companhia ditaram o que se pode descrever como uma noite (praticamente…) perfeita.

Obviamente que a música debitada pelos dois DJs de serviço – os veteranos Mário Valente do Lounge e Rodrigo “Trol2000” da Peekaboo – foi parte fundamental da equação vencedora da Vem: grooves orgânicos, tocados com a classe de quem não precisa de sucumbir à ditadura da regularidade de BPMs e ainda assim consegue encontrar pontos de elegante fluidez entre as diferentes peças, oscilando entre geografias, géneros e épocas com o bom gosto que a ambos facilmente se reconhece. E isso significou uma selecção que se alargou de Lara Li – a festa Vem deve-lhe o nome – a Dexter Wansel, aos Meters e Guy Cuevas ou Azymuth entre tantas, mas tantas mesmo, outras peças incríveis (e o Shazam não foi para ali chamado).

Tudo absolutamente certo: caras conhecidas e empáticas, liberdade de movimentos, sorrisos amplos, abraços e uma harmonia total. No centro da cidade gentrificada, vítima de pressões culturais, políticas, económicas, imobiliárias, ideológicas e em breve também religiosas (vem aí o Papa…), encontrar uma pequena utopia de compreensão e liberdade, ainda que apenas por algumas horas, tem sabor de revolução. E embora ali não tenham aparecido cravos, surgiram balões que também fizeram erguer braços. E dançou-se como se ninguém estivesse a ver. Bonito.


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