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Publicado a: 13/01/2018

Um império a apontar o caminho da vanguarda na ZdB

Publicado a: 13/01/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Hélder White

Está oficialmente aberta a nova temporada de concertos. Na passada quinta-feira, O Gato Mariano levou os seus amigos para uma aula de hip hop alternativo e electrónica experimental no DAMAS, e, sem tempo para descansar, a Galeria Zé dos Bois convidou uma equipa promissora que trouxe uma dose de música para pensar enquanto se dança.

A primeira artista a entrar foi Gloria Adereti, cantora britânica que, após uma curta pesquisa pré-concerto, continuava a ser um grande ponto de interrogação. A única incógnita que, passado poucos minutos, se transformou numa certeza. A sua voz esteve sempre lá em cima — a demonstração que sabia cantar, e muito bem –, Gaika nas costas a atirar beats e uma atitude de diva, no bom sentido, que, com o acompanhamento certo, a poderia levar para os patamares de ilustres contemporâneas como Kelela, FKA twigs ou Dawn Richard. Uma passagem rápida que também contou com uma declaração de amor a Lisboa, “a sua cidade favorita”.

 


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Do r&b que pisca o olho à electrónica mais experimental para o grime de Flohio. E o começo não foi o melhor: não atinou com o instrumental duas vezes seguidas e sentiu-se a frustração. O melhor? Conseguiu transformar o falhanço inicial na “bebida energética” para o resto da actuação. A rimar em beats “intragáveis”, à partida, para um MC, Funmi Ohio arrasou totalmente com uma intensidade e uma maleabilidade que confirmam as boas críticas que têm saído na crítica internacional. “SE16“, um banger produzido pelos God Colony, fechou a setlist e deixou a certeza que Flohio ainda vai dar muito que falar…

808INK teriam sido o melhor concerto da noite se estivessem a jogar em casa ou seja, com o seu público (ou a audiência certa). Enérgica desde o primeiro segundo, a dupla britânica esforçou-se para colocar a energia — palavra importante para o Spectacular Empire — nos píncaros, algo que aconteceu esporadicamente. E não foi por falta de tentativa de puxar a audiência para o seu espectáculo. 808Charmer e Mumblez Black são, sem dúvida, um duo que, em palco e no estúdio, se entende às mil maravilhas. Musicalmente, o produtor e o MC procuram terrenos diferentes — quantos grupos samplaram Arctic Monkeys e James Blake? –, mas também acabam por chocar com sonoridades exploradas por Drake ou J Hus, falando de nomes actuais, um sinal dos tempos que vivemos: as barreiras diluíram-se entre o que faz barulho “lá em cima” e o que mexe as águas “cá em baixo”. Desejos para 2018? Vê-los em Londres.

 


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A primeira coisa que ouvimos na chegada à ZdB foi: “A que horas toca o Gaika?” O nome mais mediático do cartaz era o último a entrar em cena, mas a sua presença fez-se sentir durante toda noite: deu música a Gloria, apresentou todos os membros do seu “império” e encerrou com a sua actuação. Antes de tocar os seus temas, o artista mostrou algumas faixas que fizeram parte do seu crescimento. E não deixa de ser engraçado que “Turn Me On”, uma canção mediatizada em Portugal pela série televisiva Morangos com Açúcar, partilhe espaço com “Man”, de Skepta, e “Swimming Pools (Drank)”, de Kendrick Lamar nessas escolhas…

Numa performance que durou cerca de 30 minutos, o autor de SPAGHETTO, trabalho que saiu pela mítica Warp, entregou uma série de canções que, através da modificação da voz, criaram um ambiente sinistro que poderia manifestar-se na banda sonora de um qualquer filme d culto distópico. Uma espécie de Kanye West britânico que teria em Yeezus a base da sua sonoridade. A partir daí, tudo é novo. The Spectacular Empire é um colectivo (não-oficial) avant-garde, uma mistura de tantas linguagens diferentes que é difícil não nos deixarmos deslumbrar pela novidade. E num tempo de saturação, o que é que pode ser melhor do que isso?

 


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