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Publicado a: 06/06/2018

Thundercat: “Não seria a pessoa que sou hoje se não existisse a Brainfeeder”

Publicado a: 06/06/2018

[ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

O baixista e produtor norte-americano, que lançou Drunk, o seu mais recente álbum, no ano passado, regressa a Portugal daqui a dois dias. Dennis Hamm e Justin Brown — “dois músicos espantosos” — acompanham Thundercat na apresentação ao vivo no NOS Primavera Sound.

Numa curta conversa telefónica, o artista falou com o Rimas e Batidas sobre a sua paixão por desenhos animados, a dinâmica de trabalho da Brainfeeder ou as colaborações com ilustres como Kendrick Lamar, Donald Glover e o “monstro” Anderson .Paak.

 



Estou ansioso pelo concerto no Primavera, espero poder apanhá-lo. Podias começar por falar sobre este espectáculo: quem está contigo em palco e o que podemos esperar?

Bem, normalmente tenho comigo um trio. Piano e bateria, normalmente tocados pelo Dennis Hamm e pelo Justin Brown, respectivamente. Dois músicos espantosos. É este o nosso trio, baixo, bateria e piano, e vamos tentar tocar muitas notas. [risos]

Estou certo que sim! Podes falar sobre as dinâmicas de tocar em palco ou estar em estúdio? Qual é o ambiente em que sentes encaixar melhor enquanto artista?

Penso que é o estúdio… Quer dizer, a verdade é que cresci a tocar ao vivo, portanto, é difícil dizer. Eu adoro gravar… adoro mesmo. Adoro criar coisas novas, mas também de tocar ao vivo, e acho que eles funcionam de mão dada e sinto que isso é muito, muito, muito importante.

Tens ideias novas quando tocas à frente duma audiência e és capaz de depois trazê-las para estúdio? Costuma acontecer?

Acontece por vezes, sim. É uma grande parte disso.

Queria que me falasses da versão Chopped not slopped do Drunk. É um projecto muito divertido. O que achaste dele?

Eu adoro a versão. Sinto que é tão especial, man. É o que sinto. Nós fizemos o vinil disso. Sinto que foi a coisa certa a fazer com o álbum, soava muito… consistente. Eu senti que essa versão é a que deve ser ouvida do álbum, sabes? Nós ouvimos durante muito tempo antes de lançarmos a versão Chopped, e ela nunca nos deixou; simplesmente parecia certo, e ainda parece. Fiquei muito grato por a terem feito.

Fazes parte da Brainfeeder: como trabalham, enquanto família, meio criativo… como é que te relacionas com eles?

Bem, a Brainfeeder é… para ser honesto contigo, eu adoro a Brainfeeder. Muitos dos meus amigos são bastante criativos e, mesmo que com o passar do tempo isso vá mudando, naturalmente, continua a ser um grupo que pensa muito da mesma forma. Simplesmente colaboramos, conhecemo-nos e trabalhamos constantemente de diferentes maneiras. Ficas sempre contente quando vês os teus amigos a trabalhar… fico feliz pela mera existência da editora. Não seria a pessoa que sou hoje se não existisse a Brainfeeder.

Tu e o FlyLo colaboraram para a composição da banda sonora de um episódio de Atlanta. É uma série incrível: como foi que isso aconteceu?

O Donald Glover é um bom amigo nosso e trabalhamos juntos de vez em quando; ele chegou até nós com a proposta, achou que era uma boa ideia. Eu estava assustado no princípio. Pensava, “nunca escrevi ou compus música assim”. Não sabia o que fazer e o Donald orientou-me, mais ou menos, e disse-me “faz o que fazes naturalmente”. Começou por aí, penso. Encontrávamo-nos uma vez por outra para trocar algumas deixas/notas, falar sobre formas de transportar aquilo para a série e… certamente senti que o timing cómico da música e o skit se alinharam, acho que ficou um bom resultado. E acho que o Donald sente o mesmo.

Sim, eu achei que era o par perfeito, até porque há uma dimensão cómica no teu trabalho.

Foi óptimo, eu gostava mesmo de fazê-lo mais no futuro. Mas sim… o Donald é incrível. Adoro o gajo.

Ficaste tão surpreendido quanto o resto do mundo com a “This Is America”?

[risos] Não fiquei surpreendido. Fiquei, sim, muito feliz que ele tenha feito uma declaração tão audaz, e numa altura em que tudo é muito difícil. Como sabes, o mundo está a passar por muito agora… Mas a verdade é que sempre foi assim. Mas estou só feliz que o Donald não tenha parado o “golpe” que estava destinado a desferir.

Tiveste a oportunidade de falar com ele depois do lançamento do vídeo? Deste-lhe os parabéns?

Não. Eu tento deixar os meus amigos em paz depois de grandes acontecimentos porque imagino que estejam milhões de pessoas a congratulá-los. Mas eu levo a coisa como se estivesse presente na mesma sala quando estou estou a ouvir a música, percebendo-a da minha forma. Sinto que ele sabe que eu estava lá em espírito. Senti um grande orgulho nele nesse momento.

Também fiquei orgulhoso dele e nem o conheço, por isso imagino. A música está a cumprir o seu propósito numa altura terrível. Existiram alguns statements incríveis nos últimos tempos, não só do mundo da música mas também de todo o tipo de artistas. É a forma de lidar com o homem que está no poder? A arte tem uma missão neste momento?

Eu acho que a arte sempre foi um reflexo do que se estava a passar na sociedade. E acho que estão claramente ligados. Até certo ponto, todos sentem o peso do que se está a passar com este tipo de liderança e tu tens que ter bastante cuidado com o que retiras disso. Ao mesmo tempo, não consegues deixar de sentir certas coisas e é isso que a arte é. É expressão. E sim, muitos artistas estão a expressar exactamente o que sentem sobre isto. Tens pessoas como o Donald Glover a fazer canções como a “This Is America”… Todos os dias são intensos, é o melhor que consigo fazer. Que mundo…

Sem dúvida. Falaste sobre deixares os teus amigos em paz depois de momentos importantes, mas já passou algum tempo desde que o K. Dot ganhou um Pullitzer. O que é que sentiste? Já lhe deste os parabéns?

Sim, estivemos em contacto desde que fizemos o álbum DAMN., e estou orgulhoso dele. Estou contente com a evolução dos meus amigos, contente que façam coisas doidas. Não sei o que é que vem a seguir, mas sinto que o Kendrick é um daqueles artistas que realmente diz o que sente. É fantástico conhecer pessoas como ele — e saber que existem actualmente.

Voltando a Drunk, tiveste a oportunidade de colaborar com Michael McDonald e Kenny Loggins, que, suponho, representam uma parte dos teus gostos e influências. Se já estiveres a pensar num novo álbum… quem é que gostarias de convidar?

Para ser honesto, não sei. Tento não pensar nisso dessa forma. Tento criar de uma forma mais orgânica; logo se vê o que acontece. Existe muita gente com quem gostaria de colaborar, mas, ao mesmo tempo, eu crio de uma maneira muito vagarosa.

É a música que dita quem é que deve entrar? É a música que te diz do que é que precisa?

Sim.

Estiveste em Portugal antes, se não estou em erro com o Miguel Atwood-Ferguson. 

Não, não estive.

Desculpa, tinha a impressão que teria acontecido. Já estiveste no nosso país?

Sim, claro.

Para tocar? Como é que falhei isso?

Sim, para actuar. Já foi há alguns anos.

Do que é que te lembras?

Lembro-me de ser um país bonito. Lembro-me de comer um bife gigante. Existe uma fotografia minha a segurar um bife do tamanho da minha cabeça. E lembro-me de tocar. Foi fantástico.

Bem, tu vais tocar num dos melhores sítios para comer no nosso país, por isso acho que vais amar novamente a experiência. Mudando de assunto: como já confessaste várias vezes, és um grande fã de desenhos animados; o que é que andas a ver ultimamente?

Existem alguns desenhos animados que estão a passar por aqui, man. Tenho visto muito Amazing World of Gumball — é fantástico. Também ando a ver Grave of the Fireflies (pela centésima vez), que é incrível. Estou sempre a ver desenhos animados.

Ok, última questão. Vamos ter novos projectos com a tua colaboração a sair em breve?

Sim, existem alguns. A pessoa com quem vou trabalhar mais no futuro é o Anderson .Paak. Sim, o Anderson é um monstro. Temos trabalhado um bocado, mas gostava de trabalhar ainda mais…

Ele também toca em Portugal este Verão.

Actualmente, o Anderson é um dos meus artistas favoritos. Adoro vê-lo a fazer a sua cena. Já o conheço há anos, e é óptimo vê-lo a tornar-se nisto.

 


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