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Publicado a: 19/08/2017

THEESatisfaction anunciam o fim… e novos princípios

Publicado a: 19/08/2017

As norte-americanas THEESatisfaction acabam de anunciar oficialmente a sua dissolução. Em comunicado, o duo de Seattle explica que “após sete anos de criação, de digressões, de alargamento de horizontes e ultrapassagem de barreiras, as THEESatisfaction decidiram terminar”. Cat e Stas deixam, no entanto, mais novidades: “Decidimos crescer e levar as nossas carreiras individuais para o próximo nível”.

“Tendo estado na estrada todos os anos desde que começámos com poucas pausas, é agora tempo para descansarmos, reflectirmos e crescermos independentemente. Agradecemos às nossas famílias, amigos, fãs, à nossa agente Robin Taylor e à nossa editora Sub Pop pelo apoio continuado”, concluem.

As THEESatisfaction sublinham que apesar do grupo ter terminado, em sete anos ambas conseguiram criar uns espantosos 18 projectos que continuarão disponíveis na sua página Bandcamp, incluindo os dois álbuns que as trouxeram até Portugal – awE NaturelE de 2012 e o mais recente EarthEE, de 2015, dois passaportes que lhes valeram passagens pela ZdB, em Lisboa.

Cat e Stas aproveitaram igualmente o comunicado para levantarem o véu sobre o futuro.

“Eu, Cat, agora respondo ao nome SassyBlack. Continuo a cantar e a produzir. Podem checar o meu álbum mais recente, New Black Swing. A artista faz ainda saber que planeia ir para a estrada no Outono e que tem uma campanha Kickstarter a correr.

 



Cat faz ainda saber que Stas continua a responder ao nome Stas Thee Boss – identidade com que participa na compilação Solar Power de que por aqui demos conta -, que permanece à frente do programa Street Sounds na rádio KEXP de Seattle e que continua a editar música, caso do projecto S’WOMEN.

 



O derradeiro trabalho das THEESatisfaction, Earthee, mereceu de Rui Miguel Abreu crítica nas páginas da Blitz que agora reproduzimos por aqui.

THEESatisfaction
EarthEE
Sub Pop

Toque feminino

4/5

A ideia de um futurismo negro – e entenda-se “negro” aqui como uma coordenada racial e não como um adjectivo emocional – tem-se revelado importante na música afro-americana desde Sun Ra, passando pela Nova Iorque de Bambaataa e pela Detroit de Derrick May, até à Los Angeles de Flying Lotus e mais além. As THEESatisfaction têm o condão de a essa corrente acrescentarem uma perspectiva feminina. Que vingou com “QueenS” do primeiro álbum e agora se aprofunda com EarthEE. Stas e Cat não estão tão interessadas em oferecer-nos canções como em abrir-nos as portas do seu processo criativo e no novo álbum volta a imperar a atmosfera de um trabalho em progresso constante, como se nos competisse unir as peças dispersas de um puzzle, como se a nossa audição, desejavelmente crítica, fosse a peça final que completa a imagem. Os beats são pós-hip hop, de recorte abstrato e electrónico, subtraindo alguma da sexualidade mais suada do funk e acrescentando um toque de refinamento feminino que é, nelas, uma questão de militância. Este é, decididamente, um daqueles discos que vai ganhando com sucessivas audições. RMA

A última passagem do duo pela sala lisboeta da ZdB também inspirou o nosso director a escrever algumas linhas.

 

Os mitos também assentam em pilares que tudo têm a ver com a ideia de psico-geografia: lugares com energia própria, ímans de práticas específicas: pense-se no Bronx em meados dos anos 70 e na ligação entre a desconstrução do groove funk até ao seu tutano rítmico e um lugar que tinha mais semelhanças com a Beirute pós-bombardeamentos do que com o glamour de Manhattan; e pense-se, claro, na chuvosa Seattle e nas incontáveis bandas de garagem: o rock, afinal de contas, foi sempre remédio contra o tédio, certo? Boredoms, Tédio Boys… O que tem isso a ver com as THEESatisfaction? O que vocês quiserem: a verdade é que a dupla de Stasia “Stas” Irons e Catherine “Cat” Harris-White, tal como os seus “vizinhos” Shabazz Palaces, parece interessada em elevar-se acima dessa geografia específica, apontar ao cosmos e inventar uma nova identidade, uma nova forma de estar, de pensar, de soar, de grafar até, mas isso há muito que é regra na comunidade artística ou activista negra que de Sun Ra a Malcolm X e daí até Prince ou Afrika Bambaataa sempre procurou nos novos nomes uma forma de reforçar novas identidades.

Com dois álbuns no activo – awE NaturalE de 2012 e o recente EarthEE – as THEESatisfaction posicionaram-se na dianteira de uma nova escola soul, integrando um sentir cósmico que há muito atravessa a música negra e um activismo vincado ao nível da identidade sexual para afirmarem não a diferença, mas a igualdade. Que os discos tenham saído com carimbo editorial da histórica Sub Pop é apenas mais um pormenor do derrube dos tais mitos. Mais importante do que o selo ou a cidade que lhes serviu de habitat NaturalE, é a música vibrante, apontada ao futuro mas com consciência de linhagem que as THEESatisfaction têm vindo a produzir. “Whatever you do”, cantam elas, ligando-se ao que antes produziram alguns elementos da Native Tongues ou os antepassados directos Digable Planets, “don’t funk with my groove”. Frase mais complexa do que à primeira vista possa parecer. Mas para a descodificar, nada como apanhar a cumplicidade de Stas e Cat em cima de um palco. É aí que a relação entre dois corpos e duas mentes, entre duas vozes, entre as palavras que cada uma debita, entre tudo isso e os beats de recorte futurista, ganha verdadeiro sentido e se abre a novas leituras à medida que a mescla que daí resulta colide com os nossos ouvidos. Venham elas.


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