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Fotografia: Bernardo Casanova
Publicado a: 24/07/2021

"Em nome da Linha".

T-Rex no Teatro Tivoli BBVA: um dinossauro pronto para devorar tudo

Fotografia: Bernardo Casanova
Publicado a: 24/07/2021

“Mamã, desculpa todo o barulho, mas olha aqui”. Era Daniel Benjamim quem falava aí, deixando o alter-ego T-Rex por uns segundos, para se dirigir directamente à sua mãe, que se encontrava num dos camarotes da sala de espectáculos da Avenida da Liberdade. O rapper não é o primeiro (nem será o último) músico a agradecer à “cota” pela paciência na hora de ouvir a sua descendência a descobrir-se na divisão ao lado, mas é sempre comovente ouvi-lo, ainda para mais quando está uma sala à pinha e em total alvoroço à sua frente. E, a essa hora, ainda a procissão ia no adro…

A primeira de duas apresentações do autor de Gota D’Espaço no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, aconteceu esta sexta-feira. A recepção foi, não usando qualquer tipo de eufemismo, completamente histérica desde o início, da recepção da mensagem que não se poderia fotografar ou gravar o concerto (uma missiva completamente ignorada) ao baixar das luzes para a entrada do homem da noite, que teve em palco a companhia de DJ Vavaa e o hype man Smyle.

E se a faixa homónima do seu mais recente projecto serviu para testar as vozes de quem estava ali, “Duvidava” seria responsável pelo primeiro tumulto na sala, com os corpos a saltarem automaticamente das cadeiras para o pânico geral dos responsáveis do espaço — mal sabiam que teriam de fazê-lo mais umas quantas vezes. Também foi logo aí que Rex se apresentou enquanto ginasta lírico e performer de fina flor, um executante que parece ter saído do mesmo saco cósmico de Travis Scott — a única diferença foi ter “caído” na Linha de Sintra em vez de em Houston — não precisando de beat por trás nem de auto-tune (como demonstrou no acapella de “Save Me”) para sobressair.

Apesar da aparente postura de rockstar dos tempos modernos — o estilo e a energia estão lá –, o rapper demonstrou durante as suas intervenções entre canções que é alguém tranquilo (num exercício de inspira-expira para acalmar os ânimos, por exemplo) e que não estava ali para partir literalmente a casa (os pedidos para as pessoas se manterem sentadas nos seus lugares foram mais regulares do que se poderia esperar). Mandar tudo abaixo vai ter de ficar mesmo para quando encabeçar alguns dos festivais de Verão do próximo ano.

A energia ficava nos píncaros quando os bangers eram disparados — “Sally” e “Tinoni” foram outros momentos altos nesse capítulo –, mas o “Fernando Alien” é, também, um lamechas que tem feito das melhores faixas de r&b em português nos últimos anos. A execução da tríade “Trampolim”, “Soft” (curioso que tenha sido aí que decidiu despir o casaco) e “Mau Tempo” deve ter garantido uma série de mensagens de alguns dos presentes para os seus antigos companheiros. Tiro (no coração) e queda (no mesmo erro) — metam as culpas no T-Rex, que ainda teve a audácia de tocar “BigBoss Type” e “R&bsr&b$” e prolongar o sofrimento de quem achava até aí ter resolvido todos os seus assuntos românticos.

No teste de fanatismo, a base de entusiastas no Tivoli passou com distinção. Uma sala o mais cheia possível a cantar praticamente todos os temas do alinhamento é uma prova irrefutável de que Rex é matéria pop que não tardará a contagiar toda a gente. “É Assim”, um dos seus novos singles, tem dominado a música de fundo de muitas stories de Instagram e carrega consigo o potencial de ser esse hit transgressor que atravessa gerações, mas só o tempo dirá se é, efectivamente, isso. Porém, podemos garantir uma coisa para já: ao vivo, é uma bomba que precisa de pistas abertas para ser dançada da maneira indicada.

Quem não poderia faltar à festa era a sua Mafia73, com quem cantou “Ya’ Amor”, “Tsunami” e “Nuvem”, fase do espectáculo em que a intensidade diminuiu, muito por culpa da discrepância evidente de aptidões que existe entre Rex e os restantes “mafiosos”. Para além dos seus companheiros de grupo, houve ainda “Tempo” para se estrear ao vivo um dos grandes singles de 2020 com Lon3r Johny, Bispo e FRANKIEONTHEGUITAR a ladearem T-Rex para uma sentida interpretação que, mais uma vez, ganha outra camada emocional na entrega do último.

O obrigatório encore foi feito com “Volta”, o primeiro single do seu álbum de estreia, Cor D’Água. Se tudo correr conforme esperado, esse longa-duração, esperado para a recta final deste ano, será o culminar da plena afirmação de T-Rex enquanto nome de primeira linha e garantirá que, em 2022, ninguém conseguirá ignorá-lo. E já há uma sólida base de fãs em território nacional (alguns vindos de Guimarães, como confessou Rex a certa altura) para segurar este embate inicial com o mainstream.

“Hoje eu e os meus Gs a trocar mensagens a falar do que tá a acontecer nenhum tá a acreditar que é verdade uh”. Esta linha é retirada de “É Assim”, mas de certeza que vai voltar a acontecer nos dias seguintes a estes seus primeiros concertos em nome próprio em Lisboa. E quem canta “Safoda bater na terra vou pôr ET’s na party” está mesmo com os olhos postos nesse céu imenso que ainda tem para explorar rumo a, quem sabe, onde.

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