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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/01/2021

Uma radiografia às breves palavras deixadas à NPR e ao New York Times sobre o álbum editado ontem pela Madlib Invazion.

Sound Ancestors: Madlib, Four Tet e Egon como um corpo só

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/01/2021

Sonhado por Four Tet, executado por Madlib e colocado em marcha por Eothen “Egon” Alapatt. Sound Ancestors é o resultado de um esforço conjunto entre três indivíduos que mais parecem actuar como um só.

Os deuses só podiam estar loucos quando, no passado dia 13 de Dezembro, a notícia de que estávamos prestes a ser presenteados com um álbum a solo de Madlib, todo ele arranjado por Kieran Hebden, aka Four Tet, começou a ser difundida na imprensa. Afinal de contas, trata-se de um novo projecto assinado pelo homem que conduziu MF DOOM no eterno clássico Madvillainy ou, mais recentemente, voltou a alinhar ao lado de Freddie Gibbs em Bandana — e tem todo aquele sabor característico de um disco de estreia. É verdade que Otis Jackson Jr. leva já dezenas de trabalhos expostos num portfólio em constante expansão há quase 30 anos, mas faltava-lhe ainda aquela obra em nome próprio, de dimensão heróica, que não olha a barreiras impostas por géneros ou conceitos e se descola de alter-egos ou de fórmulas utilizadas em séries anteriores, como as Beat Konducta, por exemplo, que são mais como uma espécie de compilações do que propriamente LPs demasiado pensados e super-produzidos.

Egon, o homem que desenterra tesouros musicais através da Now Again Records, tem sido o braço direito do ilustre das batidas nos últimos anos. Ou as pernas, se quisermos, já que é ele quem mete a andar — para o mercado, claro — todas as edições da Madlib Invazion. E Sound Ancestors não é excepção.

O factor surpresa aqui é o produtor britânico, um nome fulcral na cena IDM e dono de uma sonoridade que pouco ou nada tem a ver com a estética a que o beatmaker californiano nos habituou, eles que mantêm uma amizade que contabiliza já longos anos e que tem escapado aos olhares do mundo, até porque que nunca se tinham cruzado antes em discos. A ligação vem, acima de tudo, pela paixão que partilham pelo crate digging, conforme explicaram recentemente num par de entrevistas.

“Eu, [o Four Tet] e o Floating Points costumávamos ir a bares de vinho falar sobre música. [O Four Tet] e eu estamos ligados musicalmente — ele conhece-me e eu conheço-o a ele”, referiu Madlib a certo ponto na sua conversa com Piotr Orlov, da NPR. Já sobre a feitura de um álbum da dimensão de Sound Ancestors, a preocupação era inexistente — “eu nem sequer pensava nisso”, disse ao New York Times — até que o amigo do outro lado do Atlântico, com quem trocava algumas maquetes, o seduziu com a ideia.

“Fui-lhe colocando pressão, silenciosamente, porque não existe algo equivalente [dentro da sua longa discografia] neste momento. Ele podia fazer algo único, tipo um álbum de hip hop instrumental maravilhoso que é mais uma experiência auditiva”, sublinhou Hebden numa das suas intervenções para a NPR. A partir de então, os brutos de Sound Ancestors começaram a chover às centenas na sua caixa de correio digital e foi-lhe dada luz verde para que assumisse o cérebro desta mega operação. A sua dedada esteve, essencialmente, na selecção das faixas tendo em conta a coesão do projecto como um todo, bem como na mistura e masterização, não interferindo assim com o lado criativo do colega, propósito que deixou claro ao NYT: “Eu nunca estive à procura de deixar o meu cunho no som dele de forma alguma. Era mais eu a querer pegar nas coisas que eu já achava boas e torná-las melhores ainda dentro da maneira que eu consigo.”

Coube, então, a Madlib fazer somente aquilo que realmente lhe importa, libertando-se de todo o peso adicional dos processos mais técnicos e burocráticos, assumidos por Four Tet e Egon, respectivamente, de forma a canalizar nas suas batidas as energias que recebe do cosmos sem qualquer tipo de interferências. É este o labor que o move e que explica a denominação da peça final: “Os espíritos entram em jogo quando fazes um determinado tipo de música; às vezes eu nem estou a fazer a música, são só os ancestrais do som. É isso que eu quero dizer [com o título do disco].”


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