Na passada segunda-feira, Portugal levantou-se de uma maneira bem mais relaxada com sLo-fi, a “primeira cassete de lo-fi beats de Slow J“. Em nove músicas espalhadas por 23 minutos, o autor de You Are Forgiven constrói paisagens sonoras que desarmam pela beleza e simplicidade.
A edição física (e limitada) está disponível a partir de hoje no site da Sente Isto e João Batista Coelho acedeu a responder a cinco perguntas enviadas pelo Rimas e Batidas. Artistas, já sabem: estas faixas também são vossas. Expressem-se em cima delas, desconstruam-nas, como vos aprouver…
As playlists nos serviços de streaming e os canais de YouTube com beats a apontar para o lo-fi hop ganharam força nos últimos anos. Quando é que tu foste apanhado na “onda”, por assim dizer, e o que é que te puxou?
Eu comecei a usar o Spotify na universidade por volta de 2012 e havia uma playlist (que ainda existe) chamada Coffee Table Jazz que eu adorei. Foi a primeira experiencia que tive com playlists de música que metes a dar como ambiente para fazeres outras coisas. Estabelece uma mood. Sempre curti e nessa altura em especial curtia bué artistas que só lançam beats tipo Teebs, Samiyam, Flylo, Shlomo, etc. É a minha origem como produtor.
Entretanto, não te sei dizer quando é que ouvi a primeira vez lo-fi beats especificamente, mas reparei que andava a ouvir mais e mais ultimamente, o que me levou a pensar: “pá, se eu curto tanto de ouvir isto, se calhar devia experimentar fazer e ver o que é que sai”.
Estes beats foram todos criados depois de Março ou há aqui coisas com bases mais antigas?
Todos depois de Março, em cerca de uma semana e meia. Depois retoquei alguns detalhes só para finalizar e lançar.
Este é o teu primeiro projecto de instrumentais. Sentiste a mesma responsabilidade e exigência que tens contigo mesmo para os álbuns ou este formato permitiu-te estar mais relaxado?
Para mim, o objectivo foi exactamente descomprimir, não teve nada a ver com o perfeccionismo dos meus álbuns. Todo o processo foi, na sua maioria, relaxado e relaxante.
Tens ali um crédito do Pedro Dias (no baixo), mas o resto é tudo teu. Que ferramentas utilizaste para criar estes beats?
Ableton Live, voice notes do telemóvel, a minha guitarra clássica (de 50 euros) e um microfone.
Umas das coisas mais interessantes neste tipo de projecto é que, para cantores, rappers e músicos que não podem estar no estúdio contigo, há aqui uma maneira de entrarem no teu universo. Tiveste isso em mente? Gostavas de ver artistas a pegarem nestes instrumentais e a cantarem, rimarem ou tocarem em cima deles?
Ya, claro que curtia! Não fiz de todo com isso em mente, mas depois de lançado, e olhando para os comments, vejo claramente essa vontade da parte das pessoas e acho isso uma cena bué fixe. Até a mim alguns dos beats me puxaram para cantar quando estava a fazê-los. Faz todo o sentido.