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Publicado a: 09/02/2018

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[TEXTO] Moisés Regalado

A fórmula não será nova: narrar o amor e as suas múltiplas perspectivas, partindo da ilusão e da paixão para rapidamente dar espaço ao carnal, ao mundano e ao desgosto. Mas não vale a pena reclamar por novidades perante uma concretização tão sublime quanto a de November, capaz de transportar o ouvinte para uma dimensão alheia a esse tipo de pormenores.

Apesar de SiR se mover essencialmente pelos terrenos da soul e do r&b, não será difícil perceber o que levou a TDE de Kendrick Lamar ou Jay Rock a apostar no seu trabalho. A escrita de excelência — sensível ao equilíbrio que tem de existir entre a palavra e a entrega –, bem como o sentido de maturidade e independência manifestado pelo californiano (editou o seu primeiro álbum com 28 anos pela modesta Fresh Selects), aproximam-no da linguagem do rap e da filosofia hip hop. Faixas como “I Know”, “That’s Alright” ou “Never Home” estreitam ainda mais os laços e ajudam a construir a ponte, sem que haja um decréscimo de qualidade comparativamente ao resto do disco.

A acentuada presença de samples, vários deles conhecidos, faz desta uma obra apetecível para os que se interessam de igual forma pela música, pela técnica e pela história. “Dreaming of Me” recupera a icónica “Bumpy’s Lament“, eternizada por Dr. Dre em “Xxplosive”, e “D’Evils” revisita o momento mais popular de Billy Boyo, “One Spliff A Day“. Aos nomes de H-Money e D.K. The Punisher, responsáveis pelos instrumentais em questão, juntam-se ainda DJ Khalil, Rascal (produtor associado a GoldLink) ou Saxon, compositor de “Something Foreign”, single que conta com a participação de Schoolboy Q.

Mas foi das mãos de Andre Harris que saiu um dos pontos altos do alinhamento. Depois de esculpir “Ooh Nah Nah”, do EP Her Too, o produtor voltou a colaborar com SiR e juntos criaram a melhor conclusão possível para este November. Partindo de um encaixe perfeito entre produção, voz e letra, “Summer in November” resume com mestria tudo aquilo que o cantor disse ou tentou dizer até então. Porque o amor, tal como SiR o pinta, não passa de uma prolongada tentativa, ancorada na esperança que o último tema assume.

Já estabelecida no universo hip hop e pop, a Top Dawg Entertainment volta a posicionar-se na vanguarda da cena r&b actual, depois de impulsionar as estreias de Lance Skiiiwalker e da cada vez mais popular SZA. Agora que SiR se fixou definitivamente no quadro de honra da TDE, resta esperar que a editora adopte uma estratégia de promoção correspondente à qualidade artística de November e que o talento do seu autor seja devidamente reconhecido. Afinal de contas, quantos crooners conseguem trocar as voltas ao tempo e às estações do ano?

 


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