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Publicado a: 10/02/2017

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[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

O amor é que manda nisto da vida e é por aí que chafurdamos, salvo seja, durante os 18 minutos do novo EP de SiR. Resumo rápido sobre a nova estrela emergente: o secretismo, hype e a sua coassificação no quadro interno da TDE como “John Doe 2” marcaram o final de 2016 e 2017 começou com a revelação da identidade desse homem-mistério que iria dilatar o catálogo da Top Dawg. As suspeitas confirmaram-se, felizmente. O cantor sabe escrever, interpretar e escolher os instrumentais, mostrando que tem star quality – algo que todos os membros da editora pelos vistos possuem.

“New L.A.”, a faixa de abertura, é sexo, é bragadoccio e é, acima de tudo, a reunião de três homens talentosos contra as gold diggers que percorrem as ruas da cidade da Califórnia. Bassline incrível a “funkear” e carregar SiR, .Paak e King Mez às costas – Thundercat ficaria orgulhoso. Apesar das devidas diferenças, o início da canção apresenta reminiscências de “With You”, malha pop açucarada construída a quatro mãos por Drake e PartyNextDoor. Logo a seguir, “The Canvas” abranda a velocidade e deixa a voz do cantor guiar-nos com uma espécie de prenúncio e aviso para o universo musical: “I’m just here to add a little color to the canvas“.

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Elegante e experimental, “Don’t Call My Phone” é SiR a mostrar que quer e pode. Pitch a modificar a voz e o telefone – onde é que já vimos isto – como protagonista. É nisto que a TDE se distingue da maioria das editoras: existe espaço para ser diferente e para tentar ser mais do que o habitual. Basta olharmos para os casos de Kendrick Lamar, Lance Skiiwalker, Schoolboy Q ou SZA e transparece a ideia que a ideia é puxar os limites, mas sem nunca forçar o que quer que seja.

Drake volta ao pensamento depois de ouvirmos lá ao fundo no instrumental de “Ooh Nah Nah” o sample de Timmy Thomas, o tal que foi utilizado em “Hotline Bling”. Tiro no pé ao citar uma música que teve tamanha relevância mainstream nos últimos dois anos? Nem por isso e as barreiras são estabelecidas com uma bassline gorda – mais uma vez – a assumir a linha da frente e meter a voz de SiR na cama em que ele sempre se quis deitar. A participação de Masego é igualmente notável pelo momento de mestria em que utiliza a técnica de scatting enquanto o saxofone responde na mesma moeda. Candidata a faixa do ano e ainda agora começámos.

Um momento doce – “Sugar ” – a apresentar uma aproximação aos momentos mais clássicos do passado do r&b: é música intemporal, meu senhores e senhoras. E chegamos ao fim com “W$ Boy”, instrumental afrofuturista onde o ambiente sónico nos atira para o meio da confusão da Costa Oeste, local privilegiado onde SiR assistiu em directo a cenas de filmes reais de acção e gangsters. Ainda sobre o beat: as drums pesadas a citar uma referência inesperada – Can, banda de krautrock que tinha nos ritmos industriais e circulares uma das suas principais imagens de marca que o hip hop, pelos vistos, não se cansa de citar.

Orgânico na verdadeira acepção da palavra, o EP sabe a clássico, mas é de 2017, não existem dúvidas. O pacote pequeno esconde uma diversidade capaz de alimentar as mais diferentes fomes. Tal como o amor, Her Too também chega em doses curtas para deixar um sorriso na cara de todos.

 


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