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Publicado a: 23/10/2017

Sien: “A Soulection foi a minha maior inspiração para criar um colectivo e fazer instrumentais”

Publicado a: 23/10/2017

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Igor Sousa e Tiago Lessa

Imaginem isto: acabado de acordar em Gondomar, alguém recebe uma mensagem do assistente do Joe Kay, co-fundador da Soulection. Do Norte de Portugal a Los Angeles, a viagem foi rápida e terminou com o tema “r u d e b o y” no 331º programa da label norte-americana na Beats 1. Ainda é um sonho? Não, é a Internet.

Foi isto que aconteceu a João Marques, produtor que começa a solidificar o seu nome no beatmaking nacional assinando como Sien. Um dos co-fundadores da Slow Habits, uma das editoras mais promissoras do panorama nacional, o artista é, antes de tudo, um grande fã de música, descobrindo desde cedo que esse era um dos caminhos que iria definir o seu rumo.

Começou por ganhar balanço como rapper, mas os beats ganharam às rimas. No entanto, o aviso está feito: um álbum com versos seus poderá estar para breve. Estivemos à conversa com o produtor para sabermos mais sobre as suas motivações:

 


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És produtor e co-fundador da Slow Habits, label portuguesa que criaste com o sleep在patterns e o rafxlp. Para aqueles que ainda não estão a par, quem é o João Marques e quais são os seus objectivos? 

O João é um puto idiota da zona do grande Porto, mais concretamente Gondomar, que gosta de fazer diversas coisas e uma delas é música. O meu objectivo é bastante descontraído. No fundo, eu não sei bem para onde vou, mas sei que vou caminhando.

Quando é que percebeste que a música poderia ser um caminho para ti? 

Desde muito novo que sabia que fazer música era algo inevitável, não só para mim, mas também para aqueles que me rodeavam. Quando era pequeno levei tantas advertências por estar a fazer beats com os lápis na sala de aula que os meus pais viram-se obrigados a inscreverem-me em aulas de bateria para ver se atenuava esse comportamento, mas o “problema” continuou, e até piorou.

Esse foi o meu início na música no geral, mas foi mais tarde, quando quis começar a rimar, que levei as coisas mais a sério, a publicar as minhas músicas por cima de instrumentais da Internet e a ter algum feedback positivo. Foi nessa altura que comecei a perceber que se calhar as pessoas iam gostar do que eu tinha para dizer ou criar e isso fez com que me focasse mais na minha própria música.

Quem foram (e são) as tuas principais influências?

Eu tenho muitas influências, tanto na parte da produção com na parte da “voz”. A nível nacional posso dizer que as minhas maiores influências são Virtus, Minus, Keso, Enigma, Sam The Kid, DLM, Kacetado, Blasph, Sp Deville, Here’s Johnny, sleep在patterns, Holly, Nerve, Praso, Dillaz, Cálculo, Rafxlp, João Tamura, Caixa Torácica, Kap, DarkSunn, Spira, NO FUTURE, Pretochines, entre outros…

A nível internacional, o que me influenciou e influencia são o Capital Steez e os Pro Era, Monte Booker, FKJ, Melodisinfonie, jarjarjr , bsd.u , Swum, WIZE, Tom Misch, ROMderful, Sango, 9th Wonder, J Dilla, Madlib, Dibia$e, Jonwayne, Foisey, GoldLink, Ras G, The Underachievers, Flatbush Zombies, Kendrick Lamar, Post Malone, Travis Scott, Quickly Quickly, entre outros….

A lista é grande porque queria que estivessem aqui os principais nomes que contribuíram para a minha sonoridade ser esta. Sou um pouco de tudo o que oiço, tudo o que agrade ao meu “ouvido” é uma influência para mim.

Um feito e tanto ter uma faixa no programa da Soulection, editora que, acompanhando o teu percurso, é claramente uma referência para ti. Como é que isso aconteceu?

Foi muito simples: um dia acordei de manhã e tinha a notificação de um email do assistente do Joe Kay a perguntar, entre outras coisas, se podia passar a minha música na rádio. Fiquei um bocado surpreendido, mas respondi de seguida e agradeci o facto de terem entrado em contacto comigo. Tirei algumas dúvidas que tinham em relação à label que sempre quis esclarecer. Sinceramente, a Soulection foi a minha maior inspiração para criar um colectivo e também para fazer instrumentais que se ouvissem por si só. Todo o movimento que eles criaram é fascinante e ser contactado por eles deixou-me extremamente feliz por ser um fã do trabalho que eles fazem.

Achas que isto pode ter alguma espécie de repercussão internacional? Existiu algum contacto com a equipa da Soulection? 

O que me atrai bastante na beat culture é que os beats são universais e é bem possível qualquer produtor fazer uma carreira lá fora, viajar pelo mundo e expor a sua música. Por exemplo, o sucesso que o Holly está a ter é claramente um exemplo a seguir a nível de atitude e de esforço. Sim! Espero que tenha uma “repercussão” internacional. Como mencionei há bocado, tive oportunidade de trocar ideias como tal assistente do Joe Kay e ele deixou-me o contacto dele caso eu quisesse enviar demos e músicas que ainda não tenham saído para depois passar ao Joe. Foi um contacto breve mas bastante esclarecedor.

 



Quais são as outras labels que te inspiram e porquê. 

Tenho algumas labels que assumo como referência como por exemplo a Tree House Vibes, Stones Throw Records, Roche Musique, XXIII, Monster Jinx, Enchufada…

Todas elas me influenciam porque são mais que uma label e existe todo um estilo de vida e mentalidade associado às mesmas, e isso está entranhado nos artistas. Nota-se na música que eles criam.

“r u d e b o y” tem um proeminente sample de “Rude Boy”, faixa original de Rihanna. Como é que foi o processo criativo da faixa? O sample foi o início? 

A “r u d e b o y” foi uma daquelas músicas que eu achei que não fosse acabar, mas que tinha todo o potencial para ser uma boa música no final, por isso continuei a persistir até acabar. No final, juntamente com alguns pormenores, adicionei o acapella da Rihanna. Gostei muito do produto final. Nunca tinha feito um remix dentro daquela vibe.

Qual é o equipamento que utilizas para produzir? 

Para produzir, uso apenas o computador. A maior parte dos meus instrumentais que estão públicos foram feitos apenas com o teclado e o rato do computador. Recentemente adquiri um teclado MIDI, mas ainda não lhe dou grande uso.

Já lançaste algumas faixas soltas e um EP, mas ainda te falta lançar um projecto “grande”. Isso está nos teus planos? 

Sim! Para além do meu EP de instrumentais, Mescla, lançado pela antiga Habitus em Março deste ano, pretendo fazer algo que já estou há algum tempo para fazer: o meu primeiro projecto de rimas em que eu também assumo grande parte da produção instrumental. O ideal era lançar a totalidade do mesmo durante o ano que vem, no entanto não gosto de colocar datas, quando estiver pronto e ao meu gosto, irei lançá-lo com certeza.

 


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