É o que é. O título do novo álbum de
Thundercat é tão inócuo quanto acertado e espelha bem o sentimento de impotência perante o ímpeto do desenrolar dos acontecimentos (a banda sonora ideal para os tempos conturbados que se vivem). Em contraste,
Dino D’Santiago e
Forest Law trazem sangue na guelra e luz, muita luz. À procura dos seus próprios paraísos,
Yves Tumor,
Headie One (com
Fred again..) e
Black Atlass lançam três discos com um brilho muito próprio — é só encaixá-los na altura certa do dia.
AKTHESAVIOR & Leon Fanourakis (
FLATBU$H ¥EN),
A$AP Twelvyy (
Before Noon), Auge (
Incog 2005),
Dotorado Pro (
Picasso) e
FARWARMTH (
Momentary Glow) aparecem na segunda vaga. Para os insaciáveis.
[Thundercat] It Is What It Is
O processo de criação de
It Is What It Is sofreu algumas alterações quando, em 2018,
Thundercat recebeu a notícia da morte do seu amigo e colaborador frequente
Mac Miller, a quem o baixista chega mesmo a dedicar um tema, “Fair Chance”. Nesta nova investida carimbada pela
Brainfeeder, o músico, cantor e produtor de Los Angeles regressa ao formato de LP, três anos após
Drunk, e traz consigo 15 temas e duas mãos-cheias de convidados:
Flying Lotus,
Childish Gambino, Zack Fox,
BADBADNOTGOOD, Lil B,
Ty Dolla $ign, Louis Cole, Steve Arrington,
Steve Lacy e Pedro Martins têm o seu nome inscrito nos créditos de
It Is What It Is.
[Dino D’Santiago] KRIOLA
“A cachupa instrumental viajou do batuku ao ozonto, da coladera ao grime, sempre com o tempero final dado pelo funaná que descansa no arriscar de um tarraxo”. A descrição é do seu próprio autor, que acaba de editar, sem aviso prévio, o projecto que sucede a
Mundu Nôbu (2018) e
SOTAVENTO (2019).
Julinho KSD e
Vado MKA juntam-se a
Dino e colocam a voz em cima de produções de
Branko &
PEDRO e Seiji & Nosa Apollo, respectivamente.
[Yves Tumor] Heaven To A Tortured Mind
“Romancist”, “Dream Palette, “Kerosene!” e, especialmente, “Gospel For A New Century” foram os temas que
Yves Tumor apresentou este ano e que temos mantido por perto nestes dias de maior solidão. São também avisos de que Sean Bowie, que se divide com frequência entre o seu país, os EUA, e algumas das principais cidades europeias, continua em constante mutação. Não perdendo nunca o cunho de experimentalista,
Heaven To A Tortured Mind dá a conhecer uma visão mais
soulful do multi-instrumentista afiliado à
Warp Records.
[Headie One & Fred again..] GANG
É no Reino Unido que o drill tem galgado mais terreno, ao ponto de estar até a influenciar o país de onde surgiu inicialmente, os EUA, com
Drake ou
Travis Scott a provar um pouco desse veneno. Após um curto período de encarceramento —,
Headie One celebrou ontem o regresso à liberdade — um dos rapper que têm causado o caos dentro do género está também de volta aos discos, desta vez num projecto em conjunto com o produtor Fred again.., que tem ganho alguma notoriedade no SoundCloud.
GANG é uma edição da Relentless Records e conta com contribuições de
FKA twigs,
Jamie xx,
Sampha,
Octavian e
slowthai.
[Black Atlass] Dream Awake
“
Dream Awake é uma metáfora para descrever o sentimento de luxúria. O álbum é uma jornada acerca da alegria e do caos que duas pessoas experienciam durante o processo de se conhecerem e, no fim, se apaixonarem”. É desta forma que
Black Atlass descreve o sucessor de
Pain & Pleasure, o álbum de 2018 que assinalou a sua estreia pela XO Records, de
The Weeknd. O cantor e produtor é mais um produto da cena pop alternativa e gélida proveniente do Canadá e em
Dream Awake mostra-se um digno sucessor do seu mentor ao brilhar a solo em quase todo o disco — apenas a modelo e cantora Sonia Ben Ammar dá uma ajuda em “By My Side”.
[Forest Law] Forest Law
Está cá fora o EP de estreia do cantor e multi-instrumentista britânico. Abraçado por
Gilles Peterson (que o descobriu através do programa para novos artistas Future Bubblers) na sua Brownwood Recordings e acompanhado pelo mentor
Esa Williams, Forest Law aproxima-se do Brasil nas três faixas do projecto, mas principalmente na última, “Voa Baixo”, em que se aventura a cantar em português.