O mundo ainda recupera muito lentamente do autêntico desastre que foi o festival Astroworld — e ainda se tenta perceber quais serão as consequências reais para Travis Scott (leiam mais sobre o assunto aqui e aqui) –, mas a roda da música não pára. Esta semana, os românticos vestem-se a rigor, os safados também e até existe espaço para contemplação e reflexão à boleia de meios menos convencionais.
Não se sentem preenchidos? O caminho é por aqui com Ill Considered (Liminal Spaces), Keys N Krates (Original Classic), Joell Ortiz (Autograph), Damon Albarn (The Nearer The Fountain, More Pure The Stream Flows), Tozé Brito (de novo), Kelson Most Wanted (Guiana Package), IDLES (CRAWLER) e Chyna (Chyna Town).
[Silk Sonic] An Evening With Silk Sonic
Da capa em jeito de cartaz duotone até ao pastiche sonoro-textual lá dentro, An Evening With Silk Sonic está a transbordar com uma vibração setecentista. Era preciso não ter noção para considerar Anderson .Paak um nome underground em qualquer capacidade do termo… ou então pô-lo ombro a ombro com Bruno Mars, que conheceu na tour multi-milionária deste para o álbum 24K Magic (lembram-se de quando ganhou o Grammy de Álbum do Ano, em 2018, contra DAMN., 4:44, Melodrama e “Awaken, My Love!”? Nós também não!). A bateria de .Paak e a soul vocal de Mars formaram a matriz, numa infusão com influências de Motown e soul latu sensu — com a produção de D’Mile (co-vencedor do Óscar de 2020 para Melhor Canção Original, juntamente com H.E.R.) e a narração do grandioso Bootsy Collins.
[Irreversible Entaglements] Open The Gates
Quando os Irreversible Entanglements editaram Who Sent You?, o seu segundo álbum, Rui Miguel Abreu dedicou-lhe algumas Notas Azuis: era nesse álbum que se misturavam “a mensagem, o ritual, o dedo acusatório, a música que nasce da invenção livre, o nervo humano e a força herdada dos tais antepassados que fizeram as cidades”. Pouco mais de um ano depois, o colectivo artístico de free jazz — com a poeta Moor Mother, o saxofonista Keir Neuringer, o trompetista Aquiles Navarro, o contrabaixista Luke Stewart e o baterista Tcheser Holmes — lança um novo grito pela International Anthem. “Uma exploração melancólica dos destroços pós-coloniais que nos rodeiam”, escrevem no comunicado de imprensa, entre “o pré e o pós-apocalipse”, do sentimento uhuru de liberdade à fúria de viver que sempre puseram em disco.
[FBC & VHOOR] BAILE
Bem, não há melhor dia para receber este BAILE, disco colaborativo do rapper FBC com o produtor VHOOR. A dupla brasileira traz o Miami Bass do passado e dá-lhe energia do presente num conjunto de 10 faixas que querem, definitivamente, fazer dançar. UANA, Djair Voz Cristalina, Ferb, Mac Júlia e Mariana Cavanellas são os nomes creditados no álbum.
[Aesop Rock x Blockhead] Garbology
A lixologia por Aesop Rock e Blockhead. A dupla que nos deu “None Shall Pass” e “Daylight”, temas maiores do indie rap com o selo da Definitive Jux, juntou-se para um disco completo e isso só pode significar que foram encontrar muito material bom no meio do lixo. Um álbum feito durante a pandemia que, no início, nem era para sê-lo.
[Jon Hopkins] Music For Psychedelic Therapy
A música de Jon Hopkins sempre teve um efeito terapêutico, mas agora é diferente, e está mais calma. Mais ambient do que os seus antecessores — pensemos em Insides (2009) ou Immunity (2013), por exemplo –, o produtor britânico refugiou-se nas memórias e sensações de experiências relacionadas com drogas psicadélicas para encontrar um lugar de paz para partilhar com outros. Podem descobrir tudo na entrevista dada ao New York Times.
[seeyousoon] HZLIKEHELL
Aparecem em 2020 com VIDÉ e confirmam as suspeitas levantadas aí em HZLIKEHELL, o seu segundo longa-duração, acabado de ser editado: é preciso dar atenção ao som deste colectivo de Orlando, os seeyousoon, que têm seis vocalistas e três produtores nos quadros. Impossível não pensar nos BROCKHAMPTON, mas estes estão, sem qualquer sombra de dúvida, mais virados para as várias tipologias da música electrónica de dança.