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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/05/2025

Catalisados pelo calor.

Sexta-feira farta: novos trabalhos de Príncipe, Trista, DansLaRue, Aesop Rock, Mike11, GoldLink ou Ovrkast.

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/05/2025

A subida das temperaturas parece ter acelerado os processos dos artistas, que hoje surgiram em massa com novas propostas discográficas. E também nós saímos influenciados por isso, dando corda aos dedos para tentar dissecar o máximo de peças de maior relevo por entre maré de lançamentos. Aproveitem a boleia e apanhem as 12 ondas que resolvemos surfar nos parágrafos que se seguem.

Se tiverem stamina para mais, não deixem de espreitar também o que trouxeram à superfície fontayne (por gosto.), Rubel (Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?), Oddisee (En Route), Bruiser Wolf (POTLUCK), Theodora (MEGA BBL), Rosita Kèss (Yèlèma), Chase Fetti & Trap Jefe (Theft By Dception 2), 54 Ultra (First Works), Honey Bxby (Raw Honey), Kyle Dion (SOULAR), Miynt (Rain Money Dogs), Quantic (DJ-Kicks: Quantic), Luh Tyler (Florida Boy), EBK Jaaybo (Don’t Trust Me), Chicarica (Invierno en la playa), Swans (Birthing), Shura (I Got Too Sad for My Friends), Dalham (And The Sun), The Budos Band (VII), Qasim Naqvi (Endling), Bella Wakame (Bella Wakame), Ellen Arkbro (Nightclouds) e Photographic Memory (I Look at Her and Light Goes All Through Me).


[Príncipe Discos] Não Estragou Nada

As 37 malhas compiladas em Não Estragou Nada surgem como modo de celebrar a nova “casa” da Príncipe Discos, que abriu as portas pela primeira vez com um evento no passado dia 3 de Maio. Nesta edição surgem reunidas uma catrefada de faixas inéditas que foram ficando guardadas ao longo de mais de uma década de actividade do selo lisboeta. Não Estragou Nada é, por isso, combustível para dançar no presente e no futuro, mas também funciona como uma cápsula do tempo cuidadosamente curada, que vai repescar aos arquivos uma seleção de músicas deixadas de fora por razões tão diversas como a ausência de um contexto para lançar, a mudança de sensibilidades estéticas dos seus intervenientes ou por pura abundância criativa. Longe de serem sobras descartáveis, revelam-se expressões cruas e autênticas daquele que é o espírito da Príncipe, sem filtros nem concessões. É a batida de Lisboa a olhar para dentro como forma de comemorar uma das mais prolíficas editoras nacionais dos últimos anos, recorrendo à electrónica de pendor africano que gente como DJ Marfox, Lilocox, DJ Nervoso, DJ Firmeza, DJ Danifox, DJ BeBeDeRa, Nídia ou DJ Nigga Fox, entre muitos, muitos outros.


[Trista] Cuarto Minguante

Cuarto Minguante, o novo álbum a solo de Trista, membro do colectivo Instinto 26, assinala um ponto de viragem na sua carreira, misturando a introspecção lírica com uma ousada reinvenção sonora. Inspirado tanto pelo seu espaço íntimo de criação como pelo simbolismo dos ciclos lunares, o sucessor de Tristianismo (2021) mantém o rap como âncora, mas revela uma abordagem mais solta e emocional do seu autor, permitindo-lhe mergulhar noutras influências como afrobeats, R&B e kizomba. Com colaborações marcantes (de Tristany Mundu e Harley KSD a Ivandro e Julinho KSD) e uma estética visual que evoca travessias por novos mares e renovação pessoal, Trista assume aqui um novo começo artístico, onde vulnerabilidade e experimentação coexistem de forma coesa e envolvente.


[DansLaRue] Locka

A rua ensina a fintar padrões e talvez tenha sido por isso mesmo que DansLaRue, sem grande aviso prévio, optou por lançar um novo EP logo a uma segunda-feira. Repescado para dar mais corpo e pluralidade a este apanhado de lançamentos semanais, Locka consiste em 6 faixas nas quais o MC de Mem Martins serve à sua clientela algumas das barras mais ilícitas do mercado, alternando entre o crioulo e o português. Em jeito do it yourself, depois de Julinho KSD lhe ter dado para a mão a chave do seu estúdio pessoal, Marco Cruz não parou de gravar os relatos das suas vivências, processo iniciado em 2023 com o hino dos underdogs que é “Niggas Sta Trap” e continuado no ano seguinte com mais alguns singles. Rap sem truques nem artifícios, por mais suja e gasta que esteja a lente que vai captando as fotografias daquilo que observa por aí.


[Aesop Rock] Black Hole Superette

Black Hole Superette é uma exploração densa e surreal dos detalhes invisíveis que moldam a vida quotidiana. Totalmente produzido por si, Aesop Rock apresenta aqui batidas intrincadas e estruturas complexas que servem de pano de fundo para conteúdos líricos expansivos que exploram o lado humano com a devida profundidade emocional — aquela que só os verdadeiros poetas conseguem alcançar. Com colaborações de artistas como Armand Hammer, Open Mike Eagle, Lupe Fiasco, Homeboy Sandman e Hanni El Khatib, o projecto navega habilmente entre temáticas enredadas, de difícil digestão, e outras mais práticas e instintintivas, consolidando-se como uma das obras mais multifacetadas e ambiciosas de Aesop Rock até o momento.


[Mike11] Amor Maestro

Mike11 conseguir a proeza de contar com uma participação de Westside Boogie num tema que está incluído no seu novo disco. Mas Amor Maestro é muito mais do que isso: é uma viagem pelo seu íntimo em que a utilização da guitarra portuguesa se torna mais madura — como uma voz que sussurra à criança sonhadora que o artista foi e ao homem em que se tornou, que hoje tenta encontrar harmonia no caos da partitura que dita o compasso a que o mundo caminha. Neste disco, Mike compõe com alma nas mãos e dissolve a imagem do prodígio técnico para dar lugar a um criador vulnerável que, nota a nota, tenta reconstruir o berço emocional que lhe faltou. É uma carta de amor escrita entre lágrimas e esperança que procura reconciliar o passado com o presente, transformando a dor em música — música essa que lhe serve de espaço seguro onde a liberdade finalmente respira. Amor Maestro é um regresso a casa — não a uma morada física, mas a um lugar que parecia esquecido dentro de si mesmo.


[GoldLink] ENOCH

Ousado e introspectivo, GoldLink regressa com o seu estilo “future bounce”, que mescla hip hop, house, funk e R&B. Em ENOCH, o artista de Washington, D.C. continua a desafiar as convenções musicais, inspirado pelas suas viagens e vivências fora dos EUA. O sucessor de Haram! (2021) espelha a tentativa de GoldLink se reimaginar longe das amarras comerciais que marcaram fases anteriores da sua carreira, encapsulando uma mixórdia cultural bem abrangente e que define o seu novo “eu”: alguém que se encontra entre fronteiras geográficas, espirituais e criativas.


[Ovrkast.] While The Iron Is Hot

While The Iron Is Hot é uma obra que funde introspecção lírica com uma produção rica em samples e influências jazzisticas, bem à imagem daquilo que tanto nos tem vindo a cativar na música de Ovrkast.. O artista de Oakland, conhecido pelo seu estilo lo-fi e por colaborações com alguns nomes sonantes da esfera mais independente do hip hop, apresenta neste trabalho uma linha sonora que remete à era dourada do género, ao mesmo tempo em que incorpora elementos presentes nas linguagens mais contemporâneas, como as batidas de trap ou estética drumless. MAVI, Saba, Samara Cyn e Vince Staples são alguns dos convidados neste trabalho.


[Obongjayar] Paradise Now

Nigeriano radicado em Londres, Obongjayar faz do seu mais recente registo discográfico uma fusão de afrobeat, soul, punk, electrónica e pop experimental, ao mesmo tempo que explora temas de identidade, espiritualidade e libertação pessoal. Paradise Now é o segundo álbum do artista e foi produzido em colaboração com Kwes Darko, Yeti Beats e Beach Noise, contando ainda com a participação de Little Simz na faixa “Talk Olympics”, com quem já tinha colaborado no passado.


[Kyan & MU540] DOIS Quebrada Inteligente

MU540 é um dos nomes que têm estado a expandir os limites do funk brasileiro e o seu talento tem vindo a ser reconhecido até fora de portas — no ano passado, estreou-se em Portugal e concedeu uma entrevista ao ReB no âmbito dessa visita ao nosso país. Já Kyan é um dos MCs mais versáteis a operar no circuito rap do Brasil, conhecido pelo seu imenso imaginário que lhe permite abordar assuntos que vão muito para além do sexo, temática que, infelizmente, muitas vezes acaba por limitar o movimento funk. A fusão destes dois nomes é, por isso, um casamento perfeito e já tinha dado bons frutos em UM Quebrada Inteligente(2023). Dobrada a fórmula, este DOIS Quebrada Inteligente é um arriscado conjunto de 7 faixas retrofuturistas, que procuram estabelecer novas tendências e, ao mesmo tempo, ressuscitar linguagens como UK garage e house.


[Luedji Luna] Um Mar Pra Cada Um,

Apesar da vírgula no final do título, Um Mar Pra Cada Um, é mesmo um ponto final numa trilogia iniciada com Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água (2020) e respectiva versão deluxe. Neste trabalho, Luedji Luna mergulha nas profundezas do desejo e da carência afectiva, explorando as complexidades do amor e da espiritualidade. Com influências de jazz contemporâneo, neo-soul e outros grooves sedosos, o álbum conta com a participação de músicos como Nubya Garcia, Liniker e Takuya Kuroda, bem como uma participação póstuma da poeta Beatriz Nascimento, recriada por Inteligência Artificial. A artista baiana descreve o projecto como uma busca por cura e autoconhecimento, firmando a obra como um convite à introspecção, ao mesmo tempo que celebra a vulnerabilidade e a força presentes na jornada de amar e ser amado.


[Lionmilk] WHEN THE FLOWERS BLOOM

No seu mais recente longa-duração, Lionmilk mostra-se tão inspirado na cultura brasileira que até arrisca — e bem! — a cantar em português numa das músicas. Lançado pela Stones Throw Records, WHEN THE FLOWERS BLOOM é uma obra profundamente pessoal que transforma experiências de dor e crescimento em paisagens sonoras suaves e introspectivas. Escrito, produzido e executado inteiramente pelo próprio músico nascido Mokichi Kawaguchi, o LP percorre uma variedade de estilos musicais, desde o lo-fi e o jazz, mas são as influências extraídas da bossa nova aquelas que mais se denotam na mistura. Cada canção funciona como um diário emocional, fazendo deste registo uma jornada de auto-descoberta e saneamento mental, dois aspectos fulcrais para que Lionmilk possa continuar o seu florescimento enquanto pessoa.


[Rome Streetz & Conductor Williams] TRAINSPOTTING

TRAINSPOTTING faz lembrar a Nova Iorque de uma das eras mais sombria do hip hop, em que grupos como Mobb Deep e Wu-Tang Clan ditavam a lei nas ruas. Conductor Williams é o maestro da banda sonora para este film noir, cujo guião é escrito pelo incansável maratonista Rome Streetz. Além de um mergulho nas raízes do rap mais clássico, TRAINSPOTTING é também uma tentativa de expandir a linguagem para outras paragens — há momentos drumless e outros de batida bem vincada, umas vezes inspirados por samples de jazz e noutras por rasgos vindos do rock. As rimas do rapper inglês sediado em Queens são afiadas e honestamente brutais, cruzando-se apenas com as de um par de convidados — Method Man e Jay Worthy são aqui chamados a mostrar serviço.

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