Três foi a conta que deus fez, e é também o número de diferentes camadas de hip hop que podemos encontrar pelos lançamentos que conseguimos coleccionar durante o dia de hoje. É sobre o frenesim levantado por JPEGMAFIA, a introspecção de Navy Blue e divagação sónica de Veelain que a equipa do Rimas e Batidas se debruça neste final de semana, não deixando de destacar mais algumas interessantes obras que acabam de se estrear nas malhas digitais.
Calema (Voyage (Pt. I)), Moses Sumney (Sophcore), Michael & the Mighty Midnight Revival (Songs for Sinners and Saints), Meshell Ndegeocello (No More Water: The Gospel of James Baldwin), Khalid (Sincere), Dntwatchtv (U R A $tAR), Rich Jones & Sleep Sinatra (Sour Dub), Tank and The Bangas (The Mind), MESSIAH! (the villain twins), DefSound (SHEESH!), Loidis (One Day), Chrystabell & David Lynch (Cellophane Memories) e Vários Artistas (Kampire Presents: A Dancefloor in Ndola) são mais algumas das coordenadas que ajudam a mapear a rota das edições desta primeira sexta-feria do mês de Agosto.
[JPEGMAFIA] I LAY DOWN MY LIFE FOR YOU
Como é seu apanágio, JPEGMAFIA veio com tudo e não poupa os nossos ouvidos durante a escuta daquele que é o seu regresso ao formato de longa-duração a título individual, depois de um par de projectos levados a cabo ao lado de Danny Brown em 2023. A “surra” de distorções digitais do MC e produtor de Baltimore nunca se aproximou tanto da estética do heavy metal como agora, e isso muito se deve ao facto da inclusão de várias linhas de guitarra e baterias de pendor rock ao longo das 14 faixas que compõem este I LAY DOWN MY LIFE FOR YOU. A lista de convidados é curta mas eficaz e compreende um par de nomes que casam na perfeição com a estética deste irreverente artesão da esfera hip hop que é Peggy — são eles Vince Staples e Denzel Curry.
[Navy Blue] Memoirs in Armour
O seu trajecto fala por si. Navy Blue galgou terreno graças ao próprio suor e tornou-se num dos mais entusiasmantes rappers e beatmakers independentes da actualidade, ao ponto de ter realizado digressões pelo mundo fora (vimo-lo em Lisboa em 2022) e conseguido ainda inscrever o seu nome na histórica Def Jam Recordings no ano passado através de Ways of Knowing. De volta à sua própria etiqueta Freedom Sounds, traz até aos seus ouvintes mais uma nova fornada de vívidas histórias pautadas por momentos de reflexão nesta que é a sua colectânea de Memoirs in Armour, onde alinha totalmente a sós ao microfone e divide as produções com gente como Budgie Beats, Child Actor, Nicholas Craven ou Chuck Strangers.
[Veelain] AFTER A BUTTERFLY DIES
Talvez não fosse o tipo de sonoridade que mais esperavam os adeptos do escultor de batidas que é Veelain, uma das irrequietas mentes do beatmaking a residir debaixo do telhado da Monster Jinx, mas nada melhor do que o próprio para ditar as regras do seu game. No EP que hoje deu a conhecer ao mundo, AFTER A BUTTERFLY DIES, opta por uma linguagem muito próxima da música clássica: em primeiro lugar nos títulos que escolheu para cada tema (ou “movimento”, neste caso), em segundo pela paleta sonora que tinge cada uma dessas trilhas — e aqui, a tinta sai-lhe das mãos com a devida metamorfose que se espera de um produtor que opera por entre a vanguarda da electrónica e do hip hop. Em comunicado enviado ao Rimas e Batidas, é referido que a inspiração para este curta-duração é o poeta inglês John Keats e tem como principal foco um trecho de uma carta escrita pelo mesmo à sua amada: “I almost wish we were butterflies and liv’d but three summer days – three such days with you I could fill with more delight than fifty common years could ever contain.” Pura contemplação musical na era digital e que já daqui a um par de dias vai gerar um vídeo criado pelo próprio Veelain.