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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 09/05/2025

Do rap ao footwork.

Sexta-feira farta: novos trabalhos de billy woods, Deejay Telio, Luca Argel ou O Simples Mente

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 09/05/2025

É música que nunca mais acaba. Rap alternativo nacional e norte-americano, swing afro pela via da lusofonia, bossa nova revisitada, R&B aventureiro, footwork ou pop nas suas mais variadas formas. É isto — e tudo o que mais lhe quiserem chamar — que está contido ao longo da selecção de 9 discos curada pela equipa do Rimas e Batidas em mais um final de semana de loucos, aos quais podem sempre juntar ainda mais camadas auditivas caso ainda sintam fome auditiva após este belo “jantar”:

Lutz (Carrossel), Catarina Branco (3 canções), Sofia Leão (MAR), Cuco (Ridin’), Moin (Belly Up), Mark Pritchard & Thom Yorke (Tall Tales), Kali Uchis (Sincerely,), Esthesis Quartet (Sound & Fury), Korashe & Kfé (YA TENGO CARNET, AHORA SÍ PUEDO HABLAR DE COCHES), Kara-Lis Coverdale (From Where You Came), Dinamarca & Meth Math (pachamami), Joe Goddard (Kinetic), Deradoorian (Ready For Heaven), SAILORR (From Florida’s Finest), Peter Murphy (Silver Shade), Jazzanova (In Between Revisited: Jazzanova Live), Cole Pulice (Land’s End Eternal), The Vernon Spring (Under a Familiar Sun) e Duval Timothy (wishful thinking) também editaram novos projectos hoje.


[billy woods] GOLLIWOG

É sempre uma benção chegar ao final de uma semana com direito a quase uma hora de novos versos de billy woods sobre batidas desconfortantes. Desta vez, a inquietação artística do ponta-de-lança da Backwoodz Studioz estende-se à capa do projecto em questão, GOLLIWOG, em que podemos ver ilustrado um boneco associado ao racismo sistémico perdido por entre a vegetação seca de uma floresta. Pôr o dedo na ferida tem sido um trabalho a tempo inteiro para o rapper veterano de Nova Iorque, que nesta obra volta a relatar mais uma série de experiências negativas da comunidade negra dos Estados Unidos da América. Mas esta é uma luta que woods não faz sozinho: tem-nos a nós, ouvintes, do seu lado; mas tem também um invejável leque de convidados que com ele erguem o punho cerrado e trazem um acrescento ao valor artístico deste manifesto sonoro, por entre os quais saltam mais facilmente à vista os nomes de Shabaka Hutchings, The Alchemist, Conductor Williams, El-P, Cavalier, Kenny Segal, DJ Haram ou o inseparável E L U C I D, seu companheiro de armas em Armand Hammer.


[Deejay Telio] Reservado

Quem também tem o seu lugar Reservado para esta ronda de lançamentos de final de semana é Deejay Telio. “Este álbum é a linha que separa o que fui, o que me tornei, e o que ainda me vou tornar,” nota o artista angolano neste que é, provavelmente, o seu projecto mais ambicioso até à data. Como é seu apanágio, Telio toma as rédeas do disco ao assumir a criação, produção e interpretação desta nova fornada musical, mas em Reservado traz consigo vários dos nomes mais relevantes da praça musical lusófona: aos Wet Bed Gang, que surgem em duas das 13 faixas, juntam-se ainda Slow J, Bluay, Deedz B, Irina Barros e Breyth pelo restante alinhamento. É obra? É. E é também para dançar até mais não.


[Luca Argel] Meigo Energúmeno

É um livro, mas também um disco. Tendo como base uma tese de mestrado, Luca Argel pesquisou e analisou os poemas de Vinicius de Moraes, um dos mais icónicos letristas da música brasileira, para dar vida a uma reflexão que critica a visão machista do malogrado poeta que esteve na génese do movimento da bossa nova. Para acompanhar essa leitura, o artista radicado há mais de 10 anos em Portugal deu vida aos seis covers de clássicos de Moraes que cabem dentro deste EP, Meigo Energúmeno, cujas letras são dissecadas por entre as 156 páginas contidas no ensaio literário.


[O Simples Mente] ATROPELEI-ME

O Simples Mente atravessa-se a si próprio num gesto criativo de pura urgência e verdade que parece nascer do choque entre a introspecção e a expressão artísitca em estado bruto, fundindo hip hop consciente, lo-fi e pop numa teia sonora sem medo da imperfeição. A espontaneidade de ATROPELEI-ME resulta num caos meticulosamente domado, criado em conjunto com uma turma formada por ROSEE, Manel G, Nuno Moreira, Sofia Calvet, João Marques, Tuito Loureiro, Francisco Rua e Luara Ateyeh. O sucessor de O Puto (2023) está disponível no formato digital e físico (numa Chave-Pen USB que pode ser adquirida via Bandcamp) e será apresentado ao vivo com banda no dia 7 de Junho em Braga, no palco do MAVY.


[Vários Artistas] Planet Mu 30

São três décadas de inovação na música electrónica de dança celebradas com 25 faixas inéditas que reflectem a diversidade e a ousadia do catálogo da Planet Mu Records. Planet Mu 30 conta com contribuições de nomes consagrados como Venetian Snares (que apresenta “Drums”, o seu primeiro tema a solo em 11 anos), µ-Ziq (alter ego do fundador Mike Paradinas), Luke Vibert ou RP Boo, mas também destaca a nova geração de artistas que lhes seguiram as pegadas, como Jlin, FaltyDL, Jana Rush ou Elmoe, explorando géneros que vão do footwork ao breakcore, passando pelo techno e pela IDM. Esta antologia não só homenageia o legado da editora britânica como também aponta para o futuro, evidenciando a sua contínua aposta em sonoridades experimentais e desafiantes, sempre à margem das correntes dominantes das pistas de dança.


[PinkPantheress] Fancy That

A nostalgia dos anos 2000 continua a servir de combustível para PinkPantheress, que hoje nos entregou uma mixtape — a sua segunda, depois de to hell with it (2021), com o álbum de estreia Heaven Knows (2023) a ter surgido pelo meio — efervescente e concisa que reafirma sua posição como uma das vozes mais originais da pop britânica contemporânea. Fancy That assenta em nove faixas que totalizam pouco mais de 20 minutos, com a habitual mistura entre UK garage, drum & bass e house, repleta de samples e referências a nomes icónicos como os de Basement Jaxx, Panic! At the Disco e Groove Armada, criando um som que é familiar e inovador em igual medida.


[Julia Mestre] MARAVILHOSAMENTE BEM

Também Julia Mestre se encontra a jogar no campo da nostalgia e, ao terceiro álbum a solo, dá um mergulho nas baladas dos anos 80, ao mesmo tempo que afirma a sua identidade artística contemporânea. Com 11 canções que evocam romantismo e sensualidade, o disco revela uma cantautora em plena metamorfose, que assume a própria produção das faixas juntamente com uma equipa formada por Gabriel Quirino, Gabriel Quinto e João Moreira. O lado visual do sucessor de ARREPIADA (2023) é basrtante forte, já que a edição veio acompanhada por uma curta-metragem conceptual que amplia a narrativa das músicas, à qual se somam ainda alguns videoclipes — tudo para ver no canal YouTube da artista brasileira.


[MIKE & Tony Seltzer] Pinball II

Em Pinball II, MIKE e Tony Seltzer expandem a fórmula do seu primeiro projecto colaborativo, entregando 17 faixas que equilibram produção afiada com uma fluidez despreocupada. O lançamento ocorreu pela 10k, label do rapper nova-iorquino, e introduz nuances mais agressivas e um alinhamento mais coeso. Destacam-se temas como “Prezzy”, com co-produção de Clams Casino, e “Jumanji”, com participação de Earl Sweatshirt, mas a lista de colaboradores expande-se a Niontay, Sideshow e Lunchbox. Se dúvidas ainda existissem, fica aqui também patente a habilidade da dupla em mesclar batidas trap com elementos de lo-fi e cloud rap, dando origem a um som tanto consegue fugir às normas como é também acessível aos ouvidos menos aventureiros. MIKE e Seltzer firmam aqui o seu estatuto como uma das parcerias mais dinâmicas no cenário do hip hop underground actual.


[Erika de Casier] Lifetime

Lifetime é introspeção sonora que equilibra suavidade e sofisticação através da combinação habitual de Erika de Casier entre pop alternativa, electrónica arrojada, R&B gélido e atmosferas trip hop. A artista com raízes portuguesas e cabo-verdianas escreveu e produziu inteiramente estas novas 11 faixas entre Agosto de 2023 e Novembro de 2024. Já o lançamento ocorreu com a chancela do seu próprio selo, Independent Jeep Music, e foi precedido por uma campanha enigmática, na qual Casier distribuiu cassetes não identificadas pelos seus fãs, criando assim um certo burburinho e expectativa que costumamos associar aos fenómenos de maior culto.

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