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Fotografia: Outros Ângulos
Publicado a: 24/05/2022

Novo álbum no horizonte.

Scúru Fitchádu sobre “Strada Noti”: “Tem versos tão contundentes como os mais duros que já fiz no passado”

Fotografia: Outros Ângulos
Publicado a: 24/05/2022

Marcus Veiga (mais conhecido como Scúru Fitchádu) faz-se à estrada no primeiro avanço do sucessor de Un Kuza Runhu (2020): o caminho iniciado recentemente por “Strada Noti” culminará em Nez txada skuru dentu skina na braku fundu — o título do seu segundo longa-duração.

Em conversa com o Rimas e Batidas, o músico de Almada abriu o jogo sobre a feitura do novo tema e falou sobre resistir a deixar-se ficar pelas gavetas onde outros o decidiram colocar desde que surgiu com o seu EP homónimo.

Não percam a oportunidade de vê-lo ao vivo nos próximos tempos — há muito por onde escolher na sua agenda de 2022.



Podes falar-me um pouco sobre o processo de criação da “Strada Noti” e daquilo que falas na letra? 

“Strada Noti” (Estrada à noite) é um tema introspectivo e de conceito “urbano opressivo” do indivíduo e da sua relação frustrada com o quadro social em que está inserido. “Escravo da minha ruína, numa maré para lavar as mágoas/ O diabo na sua oficina, trabalha trabalha trabalha trabalha”.

Fizeste-a de forma solitária ou há aqui contributos externos?

Foi um tema que fiz sozinho, como habitual, sendo o contributo ou inspiração o meu filho de cinco anos que dormia a sesta ao meu lado. Tenho isso registado em vídeo inclusive. Foi nele que pensei e em toda a conjuntura social e política actual que imagino os anos duros e provações que ele terá pela frente. Antes de adormecer, ele estava com uma caixa de ritmos nas mãos e estava a tocar o compasso da bateria que se tornou depois no que ouvimos no “Strada Noti”. 

Também dá a sensação que, em comparação com aquilo que escutámos nos teus outros trabalhos, te ouvimos mais tranquilo do que o habitual e à procura de outros ambientes menos noise. Foi propositada essa procura de outros lugares onde te pudesses encaixar?

Ainda que a temática seja tudo menos calmaria, onde há uma ambiência um pouco pesada e até contundente, crio espaço sónico para abordar outros caminhos.

Significa apenas que sou livre em fazer o meu próprio caminho, não sendo previsível, nem me resigno à gaveta em que me colocam constantemente — ao lugar dos últimos ou do palco secundário dos “e muitos outros” ou dos “entre outros” onde não interessa o que é feito ou dito, porque apenas é barulho, suor e música selvagem e todos esses chavões que encontraram para me colocar desde 2017.

É também dizer que faço o que quero sem grande preocupação, pois não devo nada a ninguém nem me estou a apropriar de nada alheio ao meu celeiro, motivado apenas pelo lado estético da coisa. Não o fiz para me encaixar em lado algum, até porque tenho cimentado todo o meu projecto com trabalho em cima do palco, frente ao público, para que a minha estrutura não abane conforme os ventos e tenha de me reinventar constantemente para agradar dados quantitativos de plataformas digitais. O meu conceito continua o mesmo e este single “Strada Noti” tem versos tão contundentes como os mais duros que já fiz no passado. Musicalmente é inspirada no funaná de andamento lento (não confundir com kizomba [,algo com] que não me identifico de todo dentro da minha direção artística).

Na publicação que revelou este tema dizes que é o primeiro single do teu próximo álbum. O que é que podes contar mais sobre esse disco que irá suceder a Un Kuza Runhu?

O próximo álbum que está a ser trabalhado de momento chama-se Nez txada skuru dentu skina na braku fundu (Neste lugar escuro, na esquina e num buraco fundo) e possivelmente terá uma edição nacional e outra internacional que está ainda sob observação com uma label europeia. Terá pela primeira vez participações de outros artistas que admiro. Será um disco de acordo com os tempos em que vivemos mas com um forte apelo à liberdade — muita liberdade criativa. 


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