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Fotografia: Guilherme Cabral & Cláudio IvanFernandes
Publicado a: 14/07/2023

No campo das rimas e batidas no primeiro dia de regresso ao Meco.

SBSR’23 — Dia 1: o electropop dançável de Róisín Murphy e o rap alternativo de 070 Shake

Fotografia: Guilherme Cabral & Cláudio IvanFernandes
Publicado a: 14/07/2023

Num dia do Super Bock Super Rock mais dedicado às guitarras, 070 Shake ocupou um dos palcos secundários, enquanto o dia se preparava para dar lugar à noite, para a sua estreia absoluta em Portugal. A rapper e compositora norte-americana, que esteve para actuar por cá em 2020 mas que viu o seu concerto cancelado pela pandemia, é refrescante e pouco convencional, pelo que encaixava bem numa edição com estas características, com o tipo de cartaz em que o festival do Meco tem vindo a apostar ao longo dos últimos anos. 

Com um registo melódico mas também melancólico, 070 Shake explora emoções e histórias muito próprias com uma sonoridade de rap e r&b moderno com notórias influências de rock alternativo e alguma música electrónica. Muitas vezes descrita como visionária, certamente vanguardista e dona de uma identidade, a artista de Nova Jérsia foi recebida por uma plateia considerável (com alguns verdadeiros fãs na linha da frente) ainda que não propriamente conhecedora da sua música.

O som, contudo, não estava o melhor para apresentar as suas canções. O ênfase exagerado dos graves ofuscou a componente mais harmónica e melódica dos temas, preenchendo quase todo o espectro sonoro, esvaziando os instrumentais de texturas e detalhes preciosos.

Numa performance de 40 minutos, apenas acompanhada por DJ, 070 Shake foi agradecendo o carinho das filas da frente assinando cartazes e um disco de vinil enquanto interpretava faixas sobretudo pertencentes ao seu You Can’t Kill Me, álbum editado no ano passado. 

Ao vivo, não conseguiu superar a sua versão de estúdio, nem acrescentar propriamente camadas extra que fossem complementares, mas deu provas da sua tremenda sensibilidade artística, embora por vezes demasiado disfarçada pelo auto-tune. Uma estreia que soube a pouco, mas que não deixou de evidenciar o seu talento.



Por motivos não divulgados, a organização do Super Bock Super Rock decidiu adiar os horários das últimas atuações do primeiro dia. Para Róisín Murphy, isso terá tido um efeito benéfico, no sentido em que seria difícil competir com a enorme massa que se tinha deslocado ao Meco para ver o punk rock dos The Offspring. Assim, quando a banda norte-americana terminou o seu espetáculo, muitos juntaram-se então à festa da irlandesa no palco Somersby, do outro lado do recinto, visto que a sobreposição de performances foi bastante reduzida.

Róisín Murphy actuara há menos de um ano em Portugal, quando se apresentou no MEO Kalorama, no Parque da Bela Vista, em setembro de 2022. Na altura, o concerto não deixou as melhores memórias: apesar da sua indiscutível qualidade artística e performática, o ambiente estava morno e foi altamente prejudicado pelo palco onde actuou, cujo som não estava nas melhores condições, não gerava envolvência e foi diversas vezes atropelado pela música vinda do palco principal.

Felizmente, tudo isso foi resolvido no regresso da artista de 50 anos a Portugal. O palco Somersby do Super Bock Super Rock, mais nocturno e dedicado a performances próximas do clubbing, consegue criar uma envolvência pelo facto de ter uma cobertura e estava com um som exímio para receber a cantora que se deu a conhecer durante os anos 90 como metade dos Moloko

Acompanhada por uma banda talentosa, havia ainda outro valioso trunfo quando comparado com a actuação do ano passado. Róisín Murphy tem na manga o seu sexto álbum de originais a solo, Hit Parade, que chega em Setembro e a empurra para sonoridades ainda mais dançáveis e refrescantes, ou não fosse este um disco que será editado pela Ninja Tune.

Com o seu electropop elegante, recheado de texturas, grooves e camadas sonoras, que podem ir do disco a segmentos mais jazzísticos, Róisín Murphy entregou-se ao público com uma performance de arranjos extraordinários que deixou várias gerações a dançar (mas a dançar, mesmo), orquestrando uma festa de alta qualidade auditiva, sem ser demasiado experimental mas também não descurando a componente avant-garde do seu projecto artístico. O grande êxito dos Moloko, “Sing It Back”, naturalmente não falhou no alinhamento e cumpriu a sua missão de seduzir ainda mais o público.


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