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Publicado a: 01/10/2018

RIOT: “Um DJ tem de saber olhar para o público e perceber para que lado é que está a puxar mais”

Publicado a: 01/10/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

DJ e produtor de grande expressão na cena clubbing nacional, RIOT foi um dos responsáveis pelo sucesso internacional dos Buraka Som Sistema e um pioneiro na cena zouk bass. Com o fim do grupo que dividia com Branko, Blaya, Kalaf e Conductor, Rui Pité aproveita agora o seu tempo para trabalhar em nome próprio, tocar sozinho com mais regularidade ou desenvolver projectos paralelos e inovadores como Bateu Matou, em que volta a vestir a pele de baterista ao lado de Quim Albergaria e Ivo Costa.

“Estou a tratar do meu álbum a solo”, revelou-nos RIOT antes da sua actuação no Palco Club, no Village Underground Lisboa, para a recta final do segundo dia do Nova Batida. A estreia do produtor nos LPs em nome próprio irá ao encontro desta nova forma de consumir música nos tempos que correm, chegando ao domínio do público tema a tema — o primeiro avanço “está quase a sair”, garantiu-nos.

 



Tu ainda não subiste ao palco mas já estiveste a tocar no barco. Como é que foi a experiência?

Foi muito giro no barco.

Já tinhas tocado em algum?

Já, no Outlook Festival, na Croácia. Na altura com Buraka Som Sistema. Foi muito giro também. Este é claro que teve um sabor especial por ser no Tejo. Um passeiozinho pelo Tejo. Estive a tocar das 19h20 às 20h e ainda estava um calor… O barco estava cheio.

E presumo que tenhas feito um set fora do habitual, já que a temática do barco em que estavas era hip hop.

Não toquei hip hop. [risos] Posso dizer-te que estava lá o Miguel E., que é um dos artistas que eu já conhecia. [Olha para o flyer] Mas tens razão, diz aqui “Hip Hop, Beats & Tropical Sounds”.

Saltaram a parte do hip hop.

Fiesta Bombarda arrancou logo com disco e passou também pelo funk. A partir daí… Eu toquei um set como costumo fazer: passar por todos os géneros de música que eu gosto. Comecei no afro-house e terminei no drum’n’bass. Deu para tudo. E estava cheio de ingleses.

Saltando agora para a produção: o que é que andas a fazer de momento? No ano passado lançaste em EP, que se calhar passou um pouco despercebido em Portugal.

Sim. Lancei um EP pela Metalheadz, do Goldie. Mas não foi no ano passado, foi há dois anos.

Estava a referir-me ao Destroyer.

Ah, tens razão. Esse foi numa editora portuguesa de drum’n’bass que é a Skalator Music. E sim, eles têm muito mais expressão lá fora do que aqui em Portugal.

Esse EP pela label do Goldie acho que não apanhei. Como é que se estabeleceu essa ligação?

Foi através de um artista que é o Mikal. Ele é sueco, se não me engano, mas na realidade vive em Inglaterra desde pequenino. Ele gosta muito da fusão que eu e os Buraka desenvolvemos, daquilo que conhecemos como kizomba em Portugal. Nós, no nosso último álbum, tentámos trazer esses ritmos para uma pista de dança às 3h da manhã. Fizemos aquela cena do zouk bass no Boiler Room — começámos muito mais lento do que aquilo que as pessoas estavam à espera — e isso influenciou muita gente. De repente tinhas pessoal a fazer zouk bass na Rússia. Assim uma cena louca. O zouk bass é basicamente metade da velocidade do drum’n’bass. A minha versão do zouk bass tem sempre aquele breakbeat ali no meio. O Mikal ouviu as minhas cenas e curtiu bué. Falou comigo e eu fui ter com ele a Bristol para o conhecer e produzir com ele. Até já lançámos algumas faixas depois disso. Ele, como é um artista da Metalheadz, tratou de editar esse EP.

E conheceste o Goldie?

Eu já toquei com o Goldie, no Fabric, mas nunca tive o prazer ou o desprazer de o conhecer. Se calhar fica melhor assim. [risos] O homem é muito à frente.

E agora estás a trabalhar em quê? Tens aí algum projecto nos planos para 2018?

Estou a tratar do meu álbum a solo, que não vai sair todo de uma só vez. Acho que já não tem piada nenhuma. Vão sair singles e os singles vão ter vídeos. Quando estiverem lançadas as 12 músicas: “parabéns, você tem um álbum.” [risos] Eu acho que faria sentido [lançar tudo junto] se tivesse um projecto mega conceptual, desde a capa até ao vídeo, estar tudo interligado. No meu caso, para já, não faz muito sentido. Assinei pela Sony e estou a trabalhar no meu álbum e também a produzir para outros artistas.

O teu álbum vai ser só instrumental ou também tens artistas convidados?

Armei-me em Calvin Harris e é por isso que está a demorar mais tempo. [risos] Todos os temas têm um convidado.

Todos eles portugueses?

A maior parte são portugueses, sim.

Algum que possas revelar?

Não. [risos] Mas está atento porque está mesmo quase a sair o primeiro single. Na terça-feira já vou filmar o primeiro vídeo. Por isso está quase a sair.

E com os Bateu Matou? Vocês têm continuado a actuar.

Sim.

Isso vai gerar também algum disco ou é, para já, apenas um projecto de palco?

Bateu Matou é um daqueles projectos que, a ter um disco, faria mais sentido lançar em vinil. Uma cena old school. Mas nós não sabemos. Estamos a tentar perceber como é que passamos isto para o “papel”. Não sei se já nos apanhaste ao vivo alguma vez, mas, basicamente, é composto por três baterias e um computador. O computador dá tudo aquilo que não é ritmo e nós [nas baterias] damos o ritmo. Ou seja, eu [em casa] tenho de fazer 60 minutos de música sem uma única conga. Faço música sem ritmo para depois tocarmos por cima. É uma homenagem ao DJ set, porque a música nunca pára durante aqueles 60 minutos e tocamos desde originais a versões nossas [de outros temas]. A piada é que nós nunca sabemos como é que vamos tocar. Não sabemos se vamos estar a sentir aquilo a metade da velocidade ou ao dobro. É sempre diferente.

Então aquilo que tocam ao vivo não é estudado? É o que vos passa pela cabeça na altura?

Nós ensaiamos. Mas depois o Quim começa a dar o dobro da velocidade e nós temos de seguir. Num dia tocamos Beyoncé à velocidade normal, no outro tocamos ao dobro da velocidade. É aquilo que sentimos. Por tocarmos bateria há tantos anos conseguimos olhar uns para os outros e perceber para onde é que a coisa vai. A piada do projecto é essa e é por isso que é complicado, para já, perceber como é que vamos fazer isto [em disco]. Em princípio, estamos a pensar largar uns singles “clássicos” — três minutos e meio de música com um convidado a cantar, mas com muito ênfase no ritmo. Se calhar ainda sai algum este ano. Em termos de produção é um grande desafio, porque são três baterias. Há uma electrónica, que é a minha e que pode ter sons de latas a cair ou cães a ladrar. Essa é a parte mais fácil, porque é electrónica. Depois tens o Quim com um setup de percussão muita maluco que ele inventou para tocar em pé. E ainda há o Ivo Costa, que é baterista da Carminho, Sara Tavares… É um cromo. Isto basicamente foi uma desculpa para tocar com o Ivo Costa [risos]. Então, em termos de produção, estamos ainda a tentar perceber, porque tens este limite, até onde consegues pôr as coisas e ainda convidar alguém para cantar. Isto começou como um projecto para o Musicbox, para tocarmos, curtir e meter as pessoas a dançar. A aceitação tem sido muito boa. Tocámos no Caparica Surf Fest e fomos convidados para O Sol Da Caparica de imediato mas não pudemos porque não estávamos cá. Tocámos na Noite Branca em Braga recentemente. Vamos tocar a Nantes no final deste mês. Estivemos no NOS Alive. Tem havido uma procura engraçada, até porque não temos música editada ainda. As pessoas acham piada ao projecto. O próximo passo tem mesmo de ser gravar música.

Qual é o feedback que têm tido? Ao início pode soar estranho um projecto focado em três baterias. Jogam com muito mais ritmo do que melodia.

É verdade. O Quim tem escrito na tarola dele “toca menos, boi.” [risos] Acho que isso diz tudo. Porque tu, quando tens três bateristas, tens mesmo que te concentrar para não haver uma cacofonia gigante em cima do palco.

Nesse caso o “menos” é “mais”.

Sim. São seis braços e duas pernas, porque eu e o Quim tocamos em pé. Embora o computador ajude a fazer uma perna ou outra. [risos] Temos que pensar numa coisa e apenas executar metade. É um exercício engraçado. Ainda estamos a aprender a gerir isto tudo. A imaginar para onde é que isto vai. Acaba por ser um projecto mega rítmico e é exactamente isso que nós queremos. Um projecto para dançar e com ênfase na bateria e na percussão.

Daqui a nada estás no palco Club do Nova Batida. O teu set vai ser semelhante àquele que tocaste no barco?

Acho que sim. O do barco foi a versão curta do que eu vou fazer agora. É basicamente a mesma linha que eu tenho seguido.

Na linha do que costumas levar até ao PARK?

Na minha residência no PARK eu toco das 22h às 2h. São muitas horas. As primeiras são mesmo aquele hip hop puro e duro, que também foi uma experiência engraçada para mim que, apesar de gostar, nunca… Agora já estou em casa. Mas no início foi um desafio tocar três horas de hip hop, para alguém que nunca tinha feito isso. Aceitei logo porque me dá gozo fazer cenas que nunca fiz. Depois chega ali uma hora que começa a pedir mais misturas, a partir da meia-noite para aí. Drum, kuduro, afrobeat, depois sobe para o tehcno e desce para o zouk… Eu já acabei um set com Gloria Estefan, por isso não sei [risos]. Depende do dia. Depende do que é que se vai passar ali e quantas pessoas é que estão. Um DJ tem de saber olhar para o público e perceber para que lado é que está a puxar mais. Saber jogar entre aquilo que tu gostas e aquilo que tu tens e orientar o caminho do set. É por isso que nunca gostei de fazer sets em casa. Não consigo. Já tentei fazer, mas depois chego e “o pessoal não vai sentir isto. Nem sequer vou começar por aqui. O pessoal vai curtir mais disto”. Mudo sempre um bocadinho.

E com Cooltrain Crew, nunca pensaram em voltar a tocar juntos?

Nós temos esta paranóia dos dez anos, não sei se já percebeste [risos]. Cooltrain Crew celebrou dez anos com uma grande festa no Lux Frágil, nos três pisos, e acabou. Foi uma loucura. Buraka também celebrou dez anos, fizemos uma festa e acabou. [risos]

Dez anos é um número bonito.

Sim, é bonito. E eu estava a rir-me porque, no outro dia, o Al-X, que está agora a viver em Singapura, disse-me que o Johnny estava a tentar organizar uma reunião de Cooltrain. Só que ele ainda não falou comigo e agora estava a pensar que tu sabias de alguma coisa que eu não sei ainda. [risos]

Foi um feeling. [risos]

Se calhar. Se calhar vai acontecer. Não está nada marcado mas era giro. Eu nestas coisas vou sempre.

Tipo aquelas reuniões de turma, quando o pessoal combina ir jantar todos juntos.

Essas são aquelas que eu menos vou, porque eu não curtia nada da minha turma. [risos]

 


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