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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 24/03/2023

Livre e destemida.

Raquel Martins: “Sabia que queria fazer uma coisa mais experimental com este disco”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 24/03/2023

Raquel Martins lançou Empty Flower há algumas semanas. A artista – compositora, guitarrista, cantora, produtora, arranjadora… – tem muitas camadas e não esconde, em conversa mantida via Zoom que ligou a Ericeira a Londres, que algumas delas são descobertas recentes. Escutando o seu novo material facilmente se constrói a imagem de uma artista em busca de si mesma, de alguém que sabe bem que ainda é só o princípio.

Prestes a vir a Portugal apresentar a sua nova música – mais sobre isso dentro de algum tempo -, Raquel explica-nos de forma transparente e honesta e no seu português destreinado o que representa para si estar imersa no turbilhão da cena musical londrina, o que significa criar e como isso a afecta enquanto pessoa e de onde vem toda esta música que nos está a conquistar. Devagarinho, como tem que ser. Daqui a 12 anos, garante, será nossa vizinha.



Muito obrigado por tirares este tempinho para conversarmos um pouco.

É na boa. Tens um fundo incrível! Caótico, mas incrível [risos].

São os meus discos, a minha colecção. Ou parte dela.

Que cena. Isso é em Lisboa?

Eu estou na Ericeira.

Lindo.

A minha casa é na Ericeira e este é o meu escritório, onde eu guardo boa parte dos meus discos.

Por acaso, curtia muito… Daqui a 12 anos, mais ou menos, vou estar em Lisboa a viver. 12 anos!

Ai é? Então vamos começar a conversa por aí. O facto de tu me dizeres que daqui a 12 anos queres estar a viver em Lisboa, denota um plano muito estruturado, não é?

Estruturadíssimo [risos]. Não sei. Eu adoro estar aqui. Adoro tudo. Não sei… Eu vou onde a vida me levar. Mas gostava muito de viver em Lisboa por uns tempos. A luz, o céu, tudo. Quero muito.

Agora recuamos um bocadinho: o que é que tu dirias que mudou, do The Way para o Empty Flower? O que é que se sente de diferente nesta música e como é que vês essa evolução de um projecto para o outro?

Acho que houve uma evolução muito grande ao nível do quanto é que eu me deixo ser ou não vulnerável. As músicas do primeiro EP são pessoais — achava eu [risos]. Acho que com este novo EP, a maneira como escrevi as músicas… Foi giro e não foi consciente. Lembro-me de achar que o primeiro disco tem músicas fixes, com banda, uns arranjos fixes. Mas, depois, senti uma necessidade maior de fazer músicas “músicas”. Começava com a guitarra — o violão. Havia essa necessidade, se calhar por causa dos tópicos que estava a abordar, do que queria falar. Acho que, liricamente, tinha muito mais coisas para dizer. Se calhar, vem daí o meu foco de fazer canções “canções”. Depois, à volta disso tudo… O primeiro disco foi mais à base de grooves, uma cena mais de beatmaking — acho que tive esse approach porque estava com uma mentalidade de Londres, mais influenciada pela música daqui. Com este EP, percebi que… Eu estava a ouvir muita música brasileira e artistas mais experimentais. Não sei se curtes Moses Sumney, mas há um disco dele que eu estava a ouvir muito — acho que era o græ. Estava a apetecer aventurar-me. No primeiro EP, estava a ver como é que aquilo corria e não corria. Depois, “Até correu bem! Se calhar, agora posso dar-me ao luxo de fazer o que quiser.” Senti que queria fazer uma coisa diferente, mais experimental, com arranjos muito diferentes. Essa é a principal evolução: perdi mais tempo e assumi, pela primeira vez, que não precisava de ninguém para produzir. Estava muito mais confiante e pensei, “Quero que isto soe a mim.” Foi, principalmente, nos arranjos — perdi tempo com arranjos de cordas, sopros… Se tu visses as pistas dos projectos, são gigantes! [Risos] Quis fazer uma coisa decente e aprendi a ser mais paciente, se calhar. E mais intencional.

Eu não tive acesso à ficha técnica do disco, mas pelo que entendi do press release e pelo que acabas de me dizer, esta é uma produção solitária. Isso significa que não escutamos mais ninguém além da tua pessoa nos arranjos?

Sim. Basicamente [risos]. Tive um grande amigo meu, que se chama Femi Temowo, a fazer os arranjos de cordas. Como pessoa, senti-me mais confiante, no geral. “Eu já sei que consigo fazer isto.” Já estava com mais confiança no meu som. Mas teve muito processo de colaboração. Ou seja, eu fiz as músicas todas — o meu processo começa aqui, neste quarto, sozinha, a escrever a música. Produzo até um nível que considero que comunica aquilo que quero dizer — e que eu saiba o que é que quero dizer com a produção e com a escrita. Depois, organizei-me com três amigos — a Jas Kayser, o Hugo Piper e um pianista, também. Mas acabámos por quase não utilizar piano neste disco. Depois, levei-os para o estúdio e, “Olhem, é isto que eu quero. Mas dêem-lhe um bocadinho de vocês”, porque eu gosto muito deles como músicos individuais. Depois de gravarmos, voltei para casa e… Eu adoro manipular o som. Gosto sempre de tentar criar, tipo… Quando o som é muito orgânico, não dá muita margem para fazer alguma coisa nova, para levar o som a outro sítio. Eu sabia que queria fazer uma coisa mais experimental com este disco — manipular um bocadinho o som orgânico e fazer algo mais com o electrónico.

Gravaste a secção rítmica e, depois, trataste-a como matéria para samplar e voltaste a manipular a matéria que samplaste.

Sim, sim. Eu estava super-obcecada com a bateria, principalmente. Meti a bateria filtrada ou com distorção. Estava a adorar meter… O que eu percebi é que não há regras. Se calhar, com o primeiro disco, estava um bocadinho, “há uma maneira [para fazer isto].” Acho que tem muito a ver com não haver mulheres a produzir, no geral. Estava um bocadinho, “Espera aí. Eu não vejo ninguém a fazer isto como eu. Será que eu preciso de ajuda de um produtor?” Lembro-me que foi uma coisa comum no primeiro disco — “Se calhar preciso de ajuda, porque não vou conseguir fazer.” Enquanto que agora foi, “Não há regras!” Essa parte é fixe e toda a gente tem o seu som. Agora posso ser mais fiel ao meu som. Tive de passar por esse processo sozinha. Mas eu estava a adorar, sei lá, pôr a bateria a passar por processadores ou por pre-amps marados [risos]. Estava a adorar perceber que não havia regras. Estava super-livre.

Há bocado mencionavas arranjos de cordas. Essas cordas foram em MIDI ou foram mesmo gravadas?

Foram mesmo gravadas. Gravámos um quarteto e, com o auxílio da tecnologia, conseguimos meter aquilo a soar muito bem. Na música “Empty Flower”, trabalhámos muito nas cordas. Essa faixa tem as cordas mais no “centro”. Com o auxílio da tecnologia, hoje em dia, estas coisas safam-se.

É curioso mencionares que te questionaste a ti própria a dada altura neste teu percurso — “Será que eu preciso da ajuda de um produtor?” Isto tem alguma coisa a ver — e, se calhar, isto são pressões invisíveis — com aquele que é, tradicionalmente, o papel alocado às mulheres na música? Do tipo, tens de ter um carimbo de uma figura tutelar que, normalmente nesta indústria, é masculina?

Eu acho que é só isso, não é? É giro: só este ano é que percebi, “Raquel, tu estavas a produzir aos 10 anos!” Lembro-me que, quando comecei a tocar guitarra, o meu pai, que trabalha em informática, crackou um programa qualquer. Eu tinha 10 ou 11 anos e gravava guitarras, metia voz por cima, palmas. Pensei para mim mesma, “Isso é produzir, de alguma maneira.” E eu, em pequena, nunca fui muito feminina. Há coisas que acabei por não gostar. Se eu fosse super-feminina, se calhar nunca tinha começado a tocar guitarra. A primeira vez que vi uma mulher a tocar guitarra e, “oh meu Deus, é uma mulher!”, foi com a Lianne La Havas, logo depois do COVID. Ela estava a dar um espectáculo acústico aqui e eu, a meio do concerto, estava, “oh Raquel! Ela está a tocar guitarra e está a mexer-se assim… Que cena!” Para o tipo de música que eu gosto, acho que nunca tive nenhum role model feminino, no geral. É giro e até falei disso com a Jas: “Se nós, em crianças, fôssemos super-femininas, se calhar nunca tínhamos pensado que aquilo fosse para nós sequer.” Eu sempre tive aquela… Sei lá. Jogava futebol e essas coisas. Nunca me pareceu que fosse uma coisa… Era natural para mim! Depois, chego aqui, e todas as cantoras que conheci perguntaram-me, “quem é que vai ser o teu produtor? Se vais gravar o teu disco, se calhar precisas da ajuda de um produtor.” Eu comecei a fazer uns vídeos do Intsagram, a produzir. No início foi um bocado estranho, mas depois, “espera aí, que eu, se calhar até consigo fazer isto.” Acho que foi assim. Também tem a ver com ter estudado guitarra. Na minha cabeça, por não ter estudado produção, se calhar não podia… São coisas estúpidas que não fazem muito sentido, mas que têm a ver com isso. Mas não há raparigas suficientes. Às vezes fazem-me a pergunta: “Raquel, isso soa super-fixe! Quem é que produziu?” Ainda há muito essa coisa.

Ainda na parte dos arranjos — uma das coisas que mais gosto neste teu EP — é que eles são ricos e denotam alguém que, acho eu, tem uma enorme cultura musical. Tens referências ou discos de que te recordas? Lembro-me do Arthur Verocai que, aliás, é um óptimo arranjador de cordas. Há nomes que te façam dizer, “Eu estudei tanto isto, que sinto que é uma influência”?

Estava a ouvir muitas strings, por causa do álbum do Moses Sumney. Há uma faixa que se chama “In Bloom“, que é incrível e tem uns arranjos de cordas… Foi a primeira vez que um arranjo de cordas me deixou tipo… “Espera aí!” A coisa das strings, como é uma cena tão forte, tem aquele efeito quase de ego death [risos]. É quando tu te deparas com uma peça de arte que parece que é maior do que tu. As strings têm esse efeito em mim. Eu ouvi esse disco quando estava a gravar e percebi que as strings são uma coisa gigante e que eu adoro. Há um álbum do João Gilberto… Eu sou muito influenciada pelo João Gilberto. E pelo Jobim… Há aquele álbum dele, que tem um arranjador de cordas mesmo conhecido…

Claus Ogerman?

Eu acho que sim. É um álbum com capa cinzenta. Eu falei disso com o Femi. O Femi foi meu professor na faculdade, ele costumava tocar guitarra e sempre foi uma figura muito importante para mim. Ele ajudou-me nesse aspecto. Ele foi director musical para a Amy Winehouse. É um músico que admiro muito, mesmo. Mas as cordas vêm, sem dúvida, da música brasileira. Na “Fragile Eyes”, por acaso, tu consegues ouvir um bocadinho de Verocai, na verdade. Há aquela música com os Hiatus Kaiyote, “Get Sun“, que foi quando eu percebi, “ah! Horns e strings podem coexistir!” As strings dessa música estão muito malucas. Não estão nada convencionais e lembro-me disso ser uma referência. As horas foram gravadas aqui com um amigo meu. A rhythm section, como disseste, foi tudo gravado em estúdio. O resto foi aqui em casa com amigos.

Vamos falar do lado poético. Eu noto, até pelas tuas palavras, que tu sentes que este disco te representa muito mais, em que vais mais ao fundo daquilo que tu sentes que és como pessoa. Descobriste coisas acerca de ti própria enquanto estavas a escrever os poemas deste disco?

Até foi uma coisa um bocado estranha [risos]. Acho que, agora que o vou lançar, é que “ai meu Deus!” O fecho destes capítulos emocionais todos, parece que… Acho que sempre foi assim. Aliás, quando o meu avô morreu, eu senti a necessidade de escrever música, porque era uma emoção tão grande. Era a minha maneira de processar. Tem sido sempre assim. Mas, neste disco, eu estava a escrever as músicas à medida que passava pelas situações. Lembro-me da “Empty Flower”, que é uma música tão pessoal. Estava a passar pela situação e “não consigo escrever ainda, porque não sei o que vai sair daqui.” Como ainda não estava resolvida emocionalmente, eu tinha o refrão mas não estava a conseguir acabar a música. Foi giro. Foi mesmo uma maneira de lidar com as coisas. E eu estava a fazer muitas digressões para outras pessoas, ainda no ano passado, e estar com a guitarra… Eu vinha de uma tour e ficava aqui, em casa, sozinha. Era uma vida dupla engraçada. Mas sim, eu acho que descobri muita coisa de mim mesma. Não sei se já fizeste terapia, mas, às vezes, quando estás com um psicólogo, saem umas coisas da tua boca… É o sub-consciente. “Eu sentia isto e nem sabia.” Isso acontece-me quando estou a escrever música. Eu acredito muito que, quando estás a começar uma música, as primeiras palavras que saem são as mais importantes para agarrares. Porque é o que o teu sub-consciente está a sentir no momento. Lembro-me que, ao fazer este disco, estavam a sair-me palavras da boca, tipo “oh meu Deus! É mesmo isto que estou a sentir.” Foi super-terapêutico.



Esse processo de andar na estrada com uma série de outros artistas, é um capítulo que tu encerraste agora que tens este novo EP e tens as tuas próprias digressões para fazer, ou é algo que ainda te vês a fazer no futuro?

Essa foi a primeira vez que fiz turnês maiores e não tenho muito aquela coisa… Se eu for tocar a um palco muito grande ou a uma arena com outra pessoa, isso não me diz nada… Ok, estou a soar mesmo arrogante [risos]. O que eu quero dizer é que, emocionalmente, não tenho muita ligação. O que eu quero muito é tocar a minha música, porque é onde está o meu coração. Mas foi sempre uma maneira de ganhar dinheiro. Era o meu escape. Agora tomei a decisão de… Estava a ficar muito stressante equilibrar as duas coisas. Mas gosto do jogo de ego: quando estou com a minha música ou quando estou com a de outro artista, o meu ego e a minha cabeça estão em sítios completamente diferentes; isso também é bom e percebemos que a nossa vida não é assim tão importante [risos]. Idealmente, quero estar a fazer a minha música, mas também adoro trabalhar com outras pessoas. Está é a ficar um bocadinho difícil de gerir, acho.

Na última entrevista tua que eu li, aqui no Rimas e Batidas, davas um bocadinho a entender que o teu lado de instrumentista começava a ficar – na tua cabeça, pelo menos – secundarizado face a uma visão mais global da tua própria pessoa enquanto artista — já não tanto a guitarrista, mas a artista que toca guitarra, que canta, compõe, produz… Continua assim?

Ainda está pior agora [risos]. O que me enche mesmo — o meu propósito — é escrever música, produzir… E estou a aprender que também gosto muito de tocar as minhas músicas ao vivo, que é uma coisa nova. A minha primeira experiência de tocar a minha música ao vivo foi para aí em 2021, no Verão. Ainda não tenho muita experiência de estrada com a minha música. Mas o que me dá mesmo alegria é escrever a minha música. A guitarra é um veículo para fazer isso. E acho que este disco tem muito mais guitarra. É giro, porque acho que dei essa entrevista pouco tempo depois de ter acabado a faculdade. Estava um bocadinho farta e tu notas isso — o primeiro EP tem muito mais keys. Neste EP tentámos, mas há muito poucos momentos com keys. Agora adoro guitarra mais do que nunca [risos]. Mas é um veículo. Não sou uma guitarrista. Não sei, mas acho que deve de haver pessoas que adoram estudar guitarra todos os dias, enquanto que eu não [risos].

Mas é com a guitarra que as tuas canções nascem ou usas outras ferramentas para compor?

Neste disco, em específico, começou sempre com percussão. O que foi giro: eu começava a escrever em loops de percussão que fazia. Mas a guitarra foi um veículo. Agarrei-me muito à música brasileira e a minha paixão por nylon também cresceu muito. No primeiro disco nem tenho nada de nylon, enquanto que neste disco está super-predominante. Achei piada, porque não é uma coisa muito comum. Usei isso como veículo para escrever, sempre.

Como é que vais resolver isto no palco? Que tipo de banda imaginas para tocar esta música?

Tivemos hoje ensaio e vamos ter o concerto de lançamento na sexta-feira. Vou usar guitarra de nylon em algumas, mas a guitarra eléctrica funciona ao vivo e eu gosto. Também há os pedais — eu gosto desse lado. O show está muito mais experimental, estamos a fazer as coisas com um bocadinho mais de electrónica, para representar melhor a música — já não é só aquele som orgânico.

Quem é que te vai acompanhar?

Está o Hugo, que gravou comigo. Está um rapaz português, que se chama Tomás Parada — ele gravou comigo na minha primeira música, a “Real“, e agora estamos a tocar outra vez. O percussionista chama-se Jansen Santana e também gravou para o meu disco. E é isto. É um quateto já sem keys. Estou a programar um bocadinho das tracks, o que está a ser divertido. Estamos a experimentar aquilo que comunica melhor a música. Se calhar, neste momento é assim, mas no próximo disco posso já ter imensas keys e precisar de um pianista.

Onde é que é esse concerto de sexta-feira?

Num sítio chamado Peckham Audio.

Muito bem. No primeiro trabalho – e tu falaste um pouco sobre isso — sentias-te muito no turbilhão da cena jazz de Londres. Se a música for um mapa gigante, onde é que te colocas neste momento?

Boa pergunta. Eu não sei e acho que esse era o objectivo [risos].

Perderes-te?

O meu objectivo era… Não sei. Era estar no meio de muita coisa e tentar fazer algo que não seja fácil de… O tipo de música que eu gosto é isso: coisas que não sejam muito claras, que são a mistura de muitos géneros. É isso que me atrai. É música que me surpreende. Com este disco, estava só a tentar misturar muita coisa, a tomar um risco maior. Depois tem esse impacto, que te leva a fazer essa pergunta que me colocaste. A indústria pergunta-me: “Adoramos, mas o que é que é isto? Tem a mistura disto e não sei o quê.” Se calhar, era mais fácil se fosse um produto mais claro, dava para pôr numa playlist do Spotify mais facilmente [risos]. Não sei. Acho que todos os meus músicos favoritos estão nesse “não sei” e eu quero continuar a estar aí também [risos].

Dá-me aí um par de exemplos desses teus músicos preferidos.

Aquela pergunta em que uma pessoa se esquece sempre… Mas, por exemplo, estava a ouvir o álbum do Moses Sumney e tu não consegues pôr aquilo em lado nenhum. Algumas bandas como Hiatus Kaiyote… Há, pelo menos, mais duas gigantes de que eu me estou a esquecer agora — pessoas mesmo importantes para o meu desenvolvimento. Não sei. E há que perceber que o meu “não sei” deste EP já não é o meu “não sei” de agora. Já não quero fazer mais disso e já estou a descobrir o que vai ser a próxima coisa.

Tens recebido contactos? Este disco ainda sai de forma independente, não é?

Sim, sim.

Para quando vermos o teu nome associado a algum dos selos que existem por aí, por Londres, ou talvez em Portugal? Tens recebido propostas?

Sim. Eu recebi propostas depois do primeiro EP, mas eu só vou aceitar quando for a proposta certa. Acho que as labels têm um papel e são um bom carimbo, mas hoje em dia já não faz tanto sentido. Por isso, não ponho essa opção de fora, de todo, mas tem de ser um deal que seja bom e que valha a pena. Neste disco, a minha narrativa já está muito mais assente e isso, se calhar, dá-me mais poder. Não sei. É sempre um risco para uma label, assinar uma pessoa nova. Mas talvez já esteja a ficar mais claro aquilo que eu sou e vamos ver o que acontece depois deste disco.

O teu nome tem surgido — eu vejo isso como um sinal de que está algo a borbulhar — em conversas aqui, em Portugal, com pessoas às vezes até mais inusitadas. Já ouvi o teu nome mencionado por malta da rádio, por gente das agências, por organizadores de espectáculos. É um sinal de que o que quer que seja que tu estás a fazer, estás a fazer bem e está a chegar onde tem de chegar. Isso surpreende-te? Sentes que estás a ser ouvida no teu país?

Sim! Por acaso sinto e isso deixa-me contente. Talvez fosse uma coisa que eu não achasse muito que fosse acontecer, pelo tipo de música que faço ou por cantar em inglês. Achei que não fosse apelativo. Não sei se estou ou não surpreendida, mas estou feliz! Estou contente porque — como falámos ao início — quero passar um tempo em Portugal. Adoro a cena que se está a passar em Lisboa. Tenho conhecido músicos, assim… Gosto muito da cena de Lisboa, principalmente. Estou contente, mas acho que ainda não parei para perceber o que se está a passar, honestamente [risos]. Isto não tem nada a ver com a tua pergunta: eu acho que, em Portugal, o pessoal dá muito valor ao cantar em português, mas eu sinto que a minha maneira de expressar está um bocadinho no meio. Noutro dia, alguém me disse, “a tua cena está mesmo autêntica. O que tu fazes é autêntico. É honesto.” Mas acham piada eu cantar em inglês. Sinto-me numa mistura… Portugal é casa, mas não é casa. Londres é casa, mas não é casa. Estou a navegar um bocado…

Tu estás a fazer o processo inverso. Há muita gente que canta em inglês, nas esperança de que, estando a cantar em inglês em Portugal, isso os pode projectar para o mercado internacional. Tu já estás aí, portanto não estás a fazer nada de uma forma que seja forçada. É natural que te expresses nessa língua. No fundo, até acaba por ser a língua da tua educação musical. Estás aí a aprender e a contactar com esses músicos todos, não é?

Pois. É giro. Agora estou a escrever para o meu álbum e está um bocadinho metade… Não estou a recusar o português. Está a ser giro [risos]. Estou a tentar misturar um bocadinho. Até porque, como vês, o meu português está horrível [risos].

Não está nada horrível. De todo! Vamos ouvir-te em Portugal antes do Novembro Jazz em algum contexto? Há por aí alguma data marcada?

Não tenho muita coisa. Não sabia se ia ter festivais este ano ou não. Não tive, assim, nenhuma proposta. Não me importava. Gostava muito, mas vamos ver o que acontece. Acho que, se calhar, fazia-me sentido começar a ter um agente aí. Gostava de tocar mais, estou aberta a isso, mas acho que, para já, ainda não há nada.


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