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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 07/09/2022

De 29/08/2022 a 04/09/2022.

Rap PT – Dicas da Semana #99

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 07/09/2022

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.



[mace] “pedechumbo”

Foi das primeiras dicas da semana a chegar e das que mais ficou presente ao longo desta. “pedechumbo” marca um bem-vindo regresso de Mace às novidades — e o trocadilho subjacente ao título é logo um bom prenúncio. Confirma-se: o pé pode ser de chumbo, mas a caneta do rapper de Barcelos está cada vez mais leve, fluída e delicada. Ainda para mais sobre a ficha delineada por B Quest e Cálculo. #BCLNSX é selo de qualidade.



[Navalha] “Vento” feat. Maze

De Mace a Maze, do peso pluma de “pedechumbo” à força invisível de “Vento”, Navalha contou com o rapper dos Dealema, cujo nome tem de há uns anos para cá correspondência homófona no hip hop nacional, para uma das faixas do EP Vai de Negro (nome a quem é atribuída, também, a produção da mesma). O instrumental jazzy bem os sopra para terrenos mais melódicos, mas os dois MCs batem o pé (de chumbo?) num registo mais poético, com o Norte na spoken word.



[Birro] “90 Rodas de Improviso”

Há quem diga que são precisas 10 mil horas de prática intensa para se dominar uma arte ou um ofício. No caso do rap, “90 Rodas de Improviso” já garantem algum traquejo a quem se propõe a brincar bem a sério com as palavras. Essa conta vem do Segundo Piso, com prova dos 90 feita por Birro para a trilogia 30 ANOS DE RAP em desenvolvimento.



[SCORP] “FLOW”  

“FLOW”, single do novo trabalho de Scorp, arranca com uma mensagem motivacional de Ângela Polícia. “Inspirar as próximas gerações que vêm e virão”, incentiva o artista. E o rapper das Caldas da Rainha responde à letra, naquela que se apresenta como a faixa inaugural do álbum ESCAMA, agora inteiramente revelado. E flow é mesmo a primeira de muitas coisas que podemos encontrar ao longo deste disco.



[BDK] “Damas dos Opps”

Não é de admirar que os BDK sejam a capa da playlist do Spotify “Ganda Cena”. Essa é, aliás, uma boa expressão para resumir o que este grupo de Odivelas representa: drill fresco, apuradíssimo, em constante actualização, fulgurante, desconcertante de certa forma e irreverente no verdadeiro sentido do termo. Do melhor que das ruas se pode esperar. 



[NGA X Van Sophie X Kayuá] “Tóxico”

“Entre a mente e a caneta, qual vale mais?” Felizmente, é questão que não se põe a NGA. A mente que comanda esta caneta é feita de uma outra matéria, que nem na “banda” nem na “tuga” já se viu. É mais uma do king, “Tóxico” como só ele sabe (e bem, nesta sede) ser. Van Sophie e Kayuá só lá estão para ajudar. E, ao lado do testa-de-ferro da Força Suprema, esse é, no entanto, um “só” muito grande.



[NENNY] “MAR AZUL”

Nenny está de volta aos lançamentos, desta vez virada para a diáspora com um pé (ou dois, mesmo) em Cabo Verde. “Mar Azul” pretende prestar homenagem a Jorge Neto e à “Cre Tcheu” filmada à beira-Tejo. Referências e descendências à parte (sem desprimor para a devida importância das mesmas), Nenny destaca-se a passos largos como representante emancipada de uma música sem fronteiras que encontra na língua portuguesa um rendez-vous que deve servir, acima de tudo, de união desapropriada — seja de que forma for. 



[L-Ali] “Rendez Vous”

“Limo rimas estilo guilhotina, regra
Tolas rolam, ou passo por cima delas
Tiroliroli, novo líder, tiro ‘i’, dá Lder
Causo efeito, mas nunca por si Mandela
Tagar-Hélder (…)”

Chega? Há mais.

“Em cima do joelho eu bebo essa
Arroto lá [/a rótula] a dobrar mas não tropeço
A rota há de me dar aquilo que peço
Se ‘tou com ar de mudado, é do progresso
Acomodar-me ao processo aborrece-me, esquece”

Fiquemos por aqui, no “Rendez Vous”que é a música de L-Ali — paragem obrigatória, espaço labiríntico onde quem chega sabe bem ao que vai e, ainda assim, volta a sair de voltas trocadas. Ilusionismo com as palavras, uma arte que, ao nível deste “Tagar-Hélder”, deste líder sem “i”, é dominada por poucos. Talvez mesmo por nenhum.


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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