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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/08/2022

De 22/08/2022 a 28/08/2022.

Rap PT – Dicas da Semana #98

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/08/2022

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.



[Cachapa] “Merdas Para Dizer”

Merdas para dizer todos temos. Cada um com as suas. Isso não significa, porém — ao contrário do que redes sociais como o Twitter nos fizeram crer —, que as merdas que dizemos merecem ser ouvidas. Afinal, não deixam de ser meras “merdas”, ou seja, produto da excreção, excedente dispensável, que só serve para “aliviar” quem deita — o que quer que seja — cá para fora. Não serve, por isso, para reciclagem alheia, o que sai não deve entrar mais, sobretudo a quem as ditas não pertencem. Assim, corrija-se, se nos é permitido, Cachapa: o que trouxe (e traz, sem excepção) não são “merdas para dizer”; são, sim, dicas para ouvir. Merdas para dizer são as que disfarçamos aqui.



[PASSA O MIC #1] LITOS / DYABETIK / SOUL / KRAZYDREAD / LADY N

Se há formato no rap que mais se aproxima da expressão “merdas para dizer”, esse é o cypher — em que cada MC, a seu tempo, se chega à frente e “cospe” o que tem pronto a sair na hora. Uns escrevem na memória, outros no telemóvel, ou ainda no papel, mas todos levam urgência ao microfone, visando-o mesmo antes de ele ser passado. Na primeira edição de Passa O Mic — um projecto promovido pela D.R.U.G.S. e pelo STUDIO27 —, Litos, Dyabetik, Soul, KrazyDread e Lady N chegam-se realmente à frente com m… dicas para dizer.



[DEEZY] “Errado ou Certo”

O que vale para as “merdas para dizer” serve também para o que damos por certo ou errado. “Gostos não se discutem — supostamente, né?” Certo. Agora, gostos definem qualidade? Errado. E “Errado ou Certo” é, gostos à parte, ‘A’ dica da semana em termos de qualidade? Certo para uns, errado para outros. Indiscutivelmente certo é que, como Deezy alerta, a vida é muito curta. E indiscutivelmente errado é quem a dá por certa — e perde tempo em “merdas para dizer” sobre o que não gosta. 



[holympo] “sedado”

Incluir “sedado” numa coluna que dá pelo nome — que serve de enquadramento à matéria tratada — de Rap PT — Dicas da Semana é esticar a corda. Mas, por outro lado, reduzir holympo ao espectro em que se expôs no início, designadamente pelos campos do rap mais melódico, é francamente desonesto. Já o tínhamos defendido inequivocamente sobre “we go”, mas essa visão alargada revela-se flagrante na pop assumida em “sedado”. Os princípios podem vir do rap, mas as fórmulas pertencem ao género mais sedativo da música. 



[Rafa G X Mc Acondize] “Pinta Manta”

Dos sons da pop às batidas afro, diferentes sedativos provocam a mesma sensação aditiva. A produção de Rizzo e a breve participação de Mc Acondize não cativam além do que se ouve habitualmente neste espectro; mas a quota-parte de Rafa G, que facilmente se camufla em qualquer registo, dá uma outra cor a “Pinta Manta”, aparentemente sem brilho diferenciador. E os comentários ao tema são unânimes: “mais uma bomba de Rafa G”.



[ICARO X XTUSSY] “MÃE DE DEUS”

Antes de mais, dê-se o devido mérito à produção — destaque tantas vezes aqui preterido em detrimento da abordagem narrativa — de VRDASCA. Custa a crer que, sem a cama instrumental feita pelo produtor, ICARO e XTUSSY conseguissem perder por completo as estribeiras, num desequilíbrio intencional, em “MÃE DE DEUS”. Mais uma vez, a partir do rap e a fugir para bem longe — sem perder o rumo, bem definido, de vista.



[TOM] “Pirotecnia”

A facilidade com que o auto-intitulado Tom Freakin Soyer salta de verso em verso não nos era nada estranha. Mas vê-lo ao ritmo de “Pirotecnia” não deixa de parecer inédito — com uma assertividade que contrapõe à faceta descontraída preponderante do rapper que representa, de viva voz e ao mais alto nível, a Margem Sul. Como se TOM estivesse, desde sempre mas dissimuladamente, a treinar no ginásio das rimas, aparecendo agora de surpresa (para os mais distraídos) “a pegar no microfone e a matar os rappers todos com a mania”. E para acompanhar visualmente o seu inesperado ímpeto? Tarefa para alguém que conhece bem de perto o complexo universo do underground nacional, uma visão que só Sebastião Santana podia emprestar. Já são quase 100 edições semanais a mostras as mais diferentes formas que o rap pode ter. Mas, aqui para nós, se perguntam o que é rap num exemplo, “Pirotecnia” é uma das respostas que mais depressa vem à cabeça.


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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