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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Rafaela Ramos
Publicado a: 15/12/2020

De 07/12/2020 a 13/12/2020.

Rap PT – Dicas da Semana #9

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Rafaela Ramos
Publicado a: 15/12/2020

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora. 



[YOUNGSTUD] “O VENDEDOR DE BANHA DE COBRA” 

one man show (escreveu, interpretou, produziu, misturou e masterizou) Youngstud, meia parte de Macto – dupla com Sensei D. que se oficializou em I: Emergir Do Caos – ou “o vendedor de banha de cobra” apresentou no início da semana um novo tema, depois de voltar de uma viagem espacial em “’Bout me”. 

Como bom vendedor que é, deu-nos três variantes do produto que nos quer vender, numa faixa tripartida em actos de diferentes instrumentais e com versos, tipicamente, entre a fantasia e o quotidiano. Não podiam faltar referências cinematográficas do rapper, que dão cor aos filmes a preto e branco sobre esta vida cinzenta descrita em tons sépia por Youngstud. “Dá-me uma vida, dá-me meia dúzia de vidas…”.  



[Séthique] “T.A.C.” 

Há novo capítulo na história de “Acordo Verso”, projecto promovido por DJ Sims. Este é o sexto (e penúltimo), e conta com as rimas de perder a conta de Séthique e beat e scratch do DJ de Évora. “T.A.C.” é um exame ao interior de Séthique e, neste tema de rimas e batidas simples e directas, não ficou nada por averiguar. 



[RELAX.MFK] “SOMÁLIAfeat. BELLUCCI 

Contra os piratas na Somália, Relax.mfk, “às vezes cara podre demais”, manifesta-se ao lado de Belluci (com toques de Bellini) sobre o capital. Há contas que não têm nada que enganar – “Quanto é que dá um mais um?” –, e a soma das barras é explícita. Há contas que têm de ser pagas sob pena de se ficar a lavar a loiça sem poder parti-la… 



[Nexo] “Ponto cego”

É inevitável pensar em L-ALI ao ouvir “Ponto cego” de Nexo, seja pelo timbre, pelas rimas ou até mesmo pela (ligeira) semelhança física entre ambos. Ainda assim, o rapper de Gaia traz-nos versos uma identidade própria e, apesar dessas semelhanças à primeira vista, está a dar o ponto sem nó. Agora é continuar a somar pontos, que o jogo está a seu favor. Cego é quem não vê isso. 



[MOBBERS] “L.O.M.” (ft. ProfJam x T-Rex) 

ProfJam veste a camisola da selecção angolana de futebol para se aliar aos MOBBERS e a Tóy Tóy T-Rex em “L.O.M.”. O rapper de Telheiras destaca-se como figura principal neste encontro de elites ao ditar a linha sonora do tema, com mais um refrão ao seu estilo: extremamente viciante e com palavras manipuladas pelo Prof de uma língua própria. E como o melhor fica para o fim, depois das prestações seguras dos membros da MOBBERS e dos aperitivos de banana e fish do T-Rex, ProfJam termina aquilo que começou, exibindo o caparro lírico e a flexibilidade melódica.  



[Valas] “Nuvem” 

Já não é surpresa, mas na passada sexta-feira chegou Animália, o novo álbum de Valas, sem aviso prévio dessa vinda. A inesperada chegada trouxe consigo uma “Nuvem”, empurrada pela voz do rapper de Évora, que nos acompanha, por cima das nossas cabeças, desde o momento em que a deixamos entrar. Num tema com uma ficha técnica de luxo (produção de Lhast, co-produção de GOIAS, Bernardo D’Addario no baixo, Bernardo Cruz no piano, mistura de Charlie Beats e masterização de Haze), chovem confissões neste fim de Outono, em que as nuvens tapam “o céu azul quando o sol fica no meio”. Valas promete ser mais que isso. E Animália promete trazer bom tempo e calor aos nossos dias. 



[Maik] “Jungle” 

Em menos de dois minutos, Maik teve tempo para disparar duas vezes 16 barras (e ainda com algumas sobras). Quando o metrónomo dá o primeiro sinal, não há tempo a perder; o estúdio vira “Jungle”, e o rapper de Cascais faz da caneta a sua catana. Não se recomenda este vídeo a olhos sensíveis, nem esta faixa a ouvidos da mesma estirpe. 



[TRISTA] “Ghost” 

Trista, membro dos INSTINTO26, encara sozinho os seus fantasmas em “Ghost”, com a produção de Fumaxa e a realização de Diogo Carvalho a darem vida à história que o rapper da linha de Sintra urge em contar. Surreal é não acreditar neste fantasma. 



[AMON x NERO x DJ SIMS] “DO NADA” FT. ORTEUM 

Sem Tirantes é o novo projecto encabeçado por Amon, Nero e DJ Sims, e lançado com o carimbo da RAIA. Num trabalho pautado pela acutilância lírica, “Do Nada” destaca-se como ponto alto por acrescentar ao cardápio dos versos os contributos dos restantes membros de ORTEUM.  

Apesar de convidado, Tilt é o anfitrião do tema, e depois de entrar com o seu refrão, estabelece a fasquia nos níveis mínimos – é para matar a faixa. Segue-se Nero, que entra com o props da “fera indomada” para desferir os seus golpes. Mass junta-se à festa, numa típica reunião familiar, já que não há duas sem três. E Amon acaba com o massacre ao matar o próprio beat, em nome de Groove Synthdrome, nome com o qual assina nas batidas. 



 [MAIOR MAJOR] “FHL” 

Apadrinhado por Nerve (o que por si só já é bom prenúncio), Maior Major desvenda “FHL” como o primeiro vislumbre de um projecto maior, Fuso Horário Luso, de onde vem a sigla que dá título ao single. O seu estilo é invulgar. Não se prende em esquemas rimáticos ou estrofes uniformes, e na entrega apresenta uma confiança assinalável através de flows insólitos. “E o destino é só brilhante”? Ainda é cedo para saber, mas está aqui qualquer coisa em bruto, não haja dúvida. “Não concordas é azia”. 



[E.se] “Duas faces” 

Nas “Duas faces” do novo tema de E.se (divididas por Matthew McConaughey), encontramos, de um lado, “GOLD” de BROCKHAMPTON e, do outro, “CrasH” de ScHoolboy Q, retocadas por nPANG e Boy-oneda, respectivamente, e maquilhadas por Virtus. O rapper de Almada apresenta desta forma o teaser para o seu álbum de estreia, com uma homenagem a To Pimp A Butterfly, decidido a encontrar Is onde se vêem Us.  



[Big Jony] “Rusga” 

Com a benção de Sam The Kid e Valete – talvez os dois nomes com maior estatuto quando falamos de rap tuga –, Big Jony, “o Jack Harlow português” (aos olhos do nosso editor) com flows à Dave East, fez a “Rusga” às rimas limpando versos de uma ponta à outra. O rapper do Porto arrombou o beat de Sien Flamuri e fez ouvir a sua poderosa voz numa faixa com uma mão-cheia de argumentos para validar todas expectativas que vão aumentando sobre si. Mas comparações à parte, Big Jony tem porte próprio e suficiente para derrubar as portas do sucesso.  

“Nunca me comparem, mantenho-me à parte
Dou tiros alarmantes, eles disparam no escuro”. 

What’s poppin’?

(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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