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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Baskiat & Sensei D.] “THE AMBUSH PT.2”
O hustle continua na segunda parte, com planos menos cinematográficos, mas mais explícitos. Há também mais personagens, mais sonoridades, mais intervenientes, um Baskiat de voz mais límpida e um Sensei D. com mais cartas na manga. Sempre a somar produto.
[Ray DLC x Catalão] “Fuga”
Na linha das sequelas, há mais uma página neste novo capítulo da LUME Portugal. O mote já se sabe: o mesmo produtor para diferentes rappers e videógrafos vários — dos mais respeitados aos menos experientes. Desta vez foi dada a oportunidade ao “wildcard” Francisco Carvalho para captar a história de Ray DLC, que ao que tudo indica também tem um EP em vista com Catalão. Será que o produtor tem em mãos um projecto com cada rapper convocado?
[EPIC 131] “C-1U”
EPIC 131 tem procurado o seu espaço desde que comprou o primeiro microfone, um “C-1U” que dá nome a uma das quatro faixas que compõem a segunda parte do seu próximo álbum. Do que já mostrou, o rapper apresenta assinalável elasticidade em registos mais cantados e um poder significativo na voz a rimar. “C-1U” pende para o segundo caso e, apesar de não ser particularmente cativante a nível lírico, alimenta uma suspeita que por cá sempre houve: há um leque de capacidades muito interessantes em EPIC por explorar.
[Otto] “Viagem Ao Centro”
Na “Viagem Ao Centro” de Otto é o instrumental que nos leva a viajar enquanto o autor destas batidas nos puxa para o centro com as suas rimas. Qualquer coisa como “só acordas com um susto/ a cair dum prédio/ e não consegues correr/ quando queres fugir/ a sério”.
[prétu] “Xei di Kor” (ku Braima Galissá e Mick Trovoada)
A palavra de Chullage sempre teve um peso extra no seio do hip hop nacional. Os anos passam, novas gerações cruzam-se com esta cultura (como é o caso) e outros tempos ditam diferentes fases do autor de Rapresálias. Mas essa carga na voz mantém-se, não como fardo acumulado em décadas, mas como posto constantemente renovado e actualizado. Talvez seja por isso que se reconheça nele propriedade rara naquilo que fala — desde sempre —, lutas que a retórica alheia instrumentaliza. Talvez, não. É mesmo pelo baile que é cada vez mais baile, onde o pé bate cada vez com mais força, que Chullage dita o tom e marca o compasso. Um discurso vivo, aceso, incandescente e “xei di kor”.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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