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Texto: Paulo Pena
Publicado a: 26/04/2022

De 18/04/2022 a 24/04/2022.

Rap PT – Dicas da Semana #80

Texto: Paulo Pena
Publicado a: 26/04/2022

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.



[SP Deville] “Ando por aí”

Ele anda, de novo, por aí. À boleia do dia estabelecido para se celebrar o consumo de erva, Sp Deville voltou a dar novidades e reapresentou-se — “O meu nome é Pedro, prazer conhecê-los” — para quem, incrivelmente, sintoniza neste artista pela primeira vez. “Ando por aí” faz parte do que se pode considerar um EP, com o sugestivo título IV XX, indicado para os verdadeiros consumidores — de rap.



[DoisPês] “FAROFA CYPHER”

Não foi lançado a 20/4, mas, curiosamente, “FAROFA CYPHER” tem 4:20 minutos de duração. Tempo suficiente para gonsalocomc, Sina em Órbita, OTTO, Wugori e Herege preencherem rimas nas batidas programadas por DoisPês (com co-produção, mistura e masterização de Dualus). Uma combinação gordurosa e de deixar a cabeça às voltas — DoisEmUm.



[KAPPA JOTTA] “APAGA O MEU NÚMERO” feat. DEEZY

A aparente limitação que caracteriza a voz de Kappa Jotta tem sido, desde sempre, um ponto forte na construção da sua identidade artística. Agora visto como um dos rappers do primeiro escalão nacional, o MC da linha de Cascais continua a cimentar esse posto com lançamentos pontuais, mas certeiros. Desta vez ao lado de Deezy — cuja elasticidade vocal sobressai em “Apaga o meu número” —, o fundador da Good Fellas Good Music está de volta aos singles, possivelmente com um novo projecto em vista.



[Chong Kwong] “High”

Quem precisa de uma Rosalía quando se tem por cá uma Chong Kwong? É essa a sensação que fica em “High”, muito por culpa da figura e presença que a rapper emana neste novo single produzido por DJ Ride. De resto, o traquejo “hip hopiano” de uma não é comparável à delicadeza melódica de outra (não fosse a artista catalã uma das grandes figuras da pop mundial). Ainda assim, não se duvide da força de Chong Kwong no rap nacional, uma referência notória do poder que uma voz feminina pode ter neste género. E uma comparação ousada sobre duas cantoras igualmente ousadas, cada uma à sua maneira — aqui, à portuguesa.



[Big Jony] “Atividade”

O primeiro projecto de Big Jony foi editado no passado dia 22. Ascensão, um EP que repesca título ao primeiro tema revelado, é a estreia do rapper do Porto num trabalho a solo e conta com uma lista de créditos assinalável. “Atividade”, a última faixa do disco, conta com a produção de Cuzzo e soa a última volta de consagração de alguém que já é big, mas que ainda há-de crescer muito mais.



[Psyco] “Tudo Dia”

“Tudo Dia” marca o primeiro lançamento de Psyco pela Sony Music Portugal, mais uma aposta valiosa num dos grandes activos do rap crioulo. A profundidade vocal e a emoção que carrega na voz diferenciam-no dos seus pares. E esta é só mais uma prova desse talento que já se manifesta há muitos dias.



[Xeg] “Diz-me”

Pilar de uma geração cuja música não dependia da vertente visual, Xeg continua a ser uma referência do rap nacional precisamente por se ter mantido relevante ao longo da evolução do hip hop português — e dos seus contornos. O lançamento audiovisual de “Diz-me”, faixa do EP Temperança de 2021, demonstra isso mesmo: numa altura em que os videoclipes se apresentam como condição obrigatória no impacto de um tema, marcar a diferença por esse lado torna-se igualmente desafiante. As regras mudam, mas o jogo mantém-se. Só ficam os melhores.



[holympo] “we go” 

Se há altura em que a experimentação é expectável e recomendável, o início de carreira é a fase que pede essa variedade de caminhos por onde parece haver estrada para andar. Para holympo, as direcções têm sido variadas, umas mais apelativas que outras. “we go”, a sua mais recente investida, foi a que, vista daqui, abriu maior horizonte, vinda de quem desde cedo mostrou ter longas pernas para andar. “É como o ditado diz/Pega as pedras no caminho”.



[ESCALPE] “QUEZÍLIA”

Ingrata a tarefa de fazer justiça com palavras sobre estas linhas, que, apesar da sua flagrante complexidade, não deixam nada por dizer. É a segunda vez que ESCALPE abre cabeças com rimas complexas e contas simples: é “triplo seis” neste trio macabro, em que Il-Brutto ferve batidas diabólicas e acorda as versões mais temíveis de NERVE e Tilt. Depois do terror instalado em “Thomasin” (ainda em 2020), chegou a hora do confronto em “Quezília”, de onde ninguém sai sem marcas da “Bic”. Custa a crer que este filme ainda agora começou. Não se invocam simbologias satânicas em vão, muito menos o nome “ESCALPE”. E não há mesmo pai para nenhum deles.


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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