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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[AVAN GRA] “O PROCESSO”
Toda a jornada dos AVAN GRA desde que se apresentaram ao hip hop nacional tem sido um verdadeiro “processo” de descoberta — de nós para eles e deles para eles próprios. Eles sabem bem quem são, de onde vêm e para onde vão. Mas ao mesmo tempo continuam numa constante procura de respostas a questões fundamentais na música que fazem. “O PROCESSO” é a prova de que esse caminho faz-se não para a frente, mas para o fundo: “Aprimorar a técnica/ P’ra qui morar mais uma década/ Não ser mais uma réplica”, como sempre.
[Máry M] “Iridescência”
“Para que me representem
Tive de escrever um álbum”
Álbum esse que tem por título Incidência e que representa a apresentação oficial de Máry M num longa-duração, depois de se ter dado a conhecer por faixas soltas.
Depois de uma “Intro” confessional, “Iridescência” é a primeira de nove faixas (“Fim” excluído) em que a rapper se entrega a desabafos sobre questões como a discriminação e o racismo, o machismo e o feminismo, a homofobia e a violência sexual. Tudo isto contado de uma perspectiva incontornavelmente pessoal, que cruza na sua experiência todas estas problemáticas.
[DAMAZ MC & KYRA] “Arte & Deus, Elementos & Vida”
Algures entre “Arte & Deus, Elementos & Vida”, a QUARTA PAREDE parte-se, DAMAZ MC & KYRA entram espírito adentro e apoderam-se de quem fez questão de os ouvir. Isto vale para qualquer faixa do EP que juntos acabaram de editar, um projecto que, se formos cruelmente objectivos a perspectivar, a poucos há-de chegar. Mas se por um lado a premissa “nem tudo é para todos” parece aplicar-se à linha aqui, por outro não cremos que a todos os que cá venham parar não vejam a sua quarta parede quebrada, quer por estes quatro elementos, quer pelo conjunto do produto que os dois deram ao “h” ao quadrado.
[GROGNation X Sam The Kid] “Coração”
O EP do colectivo GROGNation inteiramente produzido por Sam The Kid já tem, finalmente, cabeça, tronco e membros: do “Pescoço” ao “Calcanhar”, só faltava conhecer o “Coração” para completar Anatomia de GROG.
Neste tema que fechou o ciclo de lançamentos avulso, Papillon, Harold e nastyfactor são as vozes em representação do grupo de Mem Martins (além da de Dino D’Santiago) naquela que é, seguramente, a faixa mais sentida deste corpo artístico.
[T-Rex] “ANTI-ANTES”
Lançadas como singles, fomos destacando — sempre incrédulos com cada uma — algumas das faixas que agora integram Castanho, o novo trabalho de T-Rex. Editado como uma espécie de trabalho de transição entre o que foi feito em Chá de Camomila e Gota D’Espaço (e o que há-de ser Cor D’Água), o primeiro grande álbum (imagine-se) de Tóy Tóy, e a julgar por estes tons, chega a ser assustador (se pusermos a coisa em tom dramático) projectar o que está por vir.
Ainda assim, com T-Rex não há volta a dar: Castanho é o presente, mas é do futuro que a sua música vem. Enquanto artista representa o mais “Anti-Antes” possível.
[UEST. x Jackie] “LOKI” (feat. João Tamura)
Depois de um segundo avanço conjunto, há boas razões para crer que UEST. e Jackie — o primeiro nas rimas e o segundo nas batidas (este ao lado de Beiro, que aparece em segundo plano nos créditos, mas em primeiro nas operações) — têm algo maior em vista para breve.
Desta vez o convite recaiu sobre João Tamura. E nada como voltar a ouvi-lo para relembrar a falta que ele faz — mesmo por curta ausência. Já o rapper do Porto foi de Mem Martins aos Olivais recrutar os melhores para se juntarem à sua causa determinada. Quem será o sucessor do vilão “LOKI”?
[YUR1] “MARK FREESTYLE”
Para Yur1, 1 de Abril foi dia de dizer verdades. O rapper eborense aproveitou o dia em que, mais do que nos outros todos, se deve duvidar do que se lê para praticar a escrita em “MARK FREESTYLE”. Neste campo, a cada MC a sua verdade. Mas a garantia que fica, mais uma vez, é que podemos mesmo acreditar no potencial de Yur1.
[Jimmy P, Phoenix RDC, Sara Correia] “Etelvina” feat. Stereossauro
A construção de SG Gigante continua de vento em popa, já com um terceiro capítulo fechado. Para reimaginar a história de “Etelvina” chegaram-se à frente Jimmy P, Phoenix RDC e Sara Correia, sobre a produção de Stereossauro, num tema completamente divergente ao que Sérgio Godinho cantou em à queima roupa no ano da Revolução. E outra coisa não seria de esperar: a melhor forma de confirmar a grandeza de um artista é pô-lo à prova — e cada um respondeu à altura (de largo comprimento) do desafio.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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