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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 22/03/2022

De 14/03/2022 a 20/03/2022.

Rap PT – Dicas da Semana #75

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 22/03/2022

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.



[Máry M] “Miragem” 

Não há forma de tratar este tema de forma ligeira ou menos desconfortável, muito menos de fugir do que realmente aqui se trata. E por isso aqui estamos, sem saber como começar, mas a escolher começar por aqui.

“Miragem” é, em forma de canção, um relato de Máry M, na primeira pessoa, de uma violação. Isso é evidente do início ao fim da faixa; não há momento em que a história não nos esteja a ser contada com todas as palavras que a rapper — de uma força de espírito incalculável — conseguiu escolher. Quanto a percepções, cada um terá as suas. Isto não é, porém, sobre quem ouve. Mas é mesmo para se ouvir, para que quem nunca passou pelo mesmo tenha uma ideia, uma “miragem”, um quase nada, que já é muito, tanto, imenso, infinitamente mais do que se pode esperar, de uma história entre tantas outras por contar.



[redoma] “poço”

Bem-vindas são as variações do que entendemos — à partida — ser “Rap PT”: não se pretende uma cláusula fechada para esta coluna, e até onde a corda esticar há espaço para tudo o que, merecidamente, couber neste âmbito. 

Este é um preâmbulo que serve primeiro muitas outras entradas já aqui registadas antes de chegar à dupla redoma. O que Carolina Viana e Joana Rodrigues fizeram pela Biruta em parte encontra profundas raízes nos elementos mais básicos que caracterizam o rap. Ainda assim, aquilo que fizeram em parte só em parte pertence ao rap e parte do rap para variados outros campos, mistura-se entre zonas ambíguas, foge de rótulos e de caminhos pré-definidos em direcção a uma verdade que só pertence a quem a professa, mas que sobressai no meio de tantas outras vozes que falam mais alto. Tão simples e complexo ao mesmo tempo.



[Jimmy P] “Nortada”

Os ventos de “Nortada” sopraram com especial força, sobretudo para quem tomava a música de Jimmy P como águas paradas. Não é isso que o rapper — sim, rapper, como fez questão de nos lembrar neste novo single — tem para mostrar, mas às vezes (ou melhor, sempre) é da dúvida que a certeza se forma. Quem quer que tenha duvidado de Joel Plácido fez um óptimo trabalho, porque este respondeu com um trabalho ainda melhor: “headshot nos «seus» enemies”.



[Domi] “Casa”

Vamos voltar a repetir: 

“Algures neste ano que está prestes a terminar [escrevíamos em Dezembro de 2021], o ReB apontou alguns nomes como possíveis responsáveis pelo futuro da música portuguesa — mas essa lista não foi pensada, obviamente, para ser exclusiva. E o nome de Domi é daqueles que bem podia lá estar.”

E é em “Casa”, no seu registo mais confortável, que Domi deixa menos dúvidas sobre o potencial das suas faculdades enquanto MC, alguém cuja evolução tem sido constante, notória e acelerada. Tudo isto agora registado por um parceiro seu que costuma estar do lado oposto das câmaras: a direcção, a filmagem e a edição do vídeo ficaram a cargo do conterrâneo Uzzy. 



[Mirai] “Shaqui”

Uns mostram por que podiam lá estar, outros provam por que lá foram parar: várias línguas, vários flows, vários tons, tudo cabe em “Shaqui”, um tema que, visualmente, ilustra Mirai a meditar acima do mundo e que, de resto, nos deixa com a impressão de que Ever não é mesmo daqui.



[AZART] “Sol a Sol”

E lá voltamos ao arquivo próprio para revalidar pontos já defendidos.

Em Setembro do ano passado, sobre a actuação de AZART na Casa do Capitão descrevíamo-la assim: 

“[O] rapper apresentou uma confiança fascinante, um à-vontade deslumbrante, uma presença de palco avassaladora, uma capacidade métrica e vocal impressionante, uma personalidade cativante, um carisma contagiante — um conjunto de características que, desde logo e sem falsas partidas, o distinguem como alguém em quem o factor estrela é flagrante e patente.”

Agora que, à vista de todos, começam a aparecer os primeiros argumentos palpáveis, cai o papel de arauto, mas fica a medalha com a inscrição “eu bem avisei”: no segundo lançamento oficial do rapper de Lisboa toda a adjectivação aplicada à performance em palco corresponde ao que salta à vista (e aos demais sentidos) em “Sol a Sol” — aqui não falta rigorosamente nada.



[NERVE, Keso, Russa] “Que Força É Essa”

Que força é essa que rasga a linha temporal e destrói barreiras entre gerações. 

Que força é essa que, 50 anos depois, resiste com o mesmo fulgor aceso, inconformado.

Que força é essa que se mantém Sempre Grande, Gigante. 

É a força de SG Gigante, um tributo (curado por Capicua) a propósito do meio século de Os Sobreviventes, o primeiro álbum de estúdio de Sérgio Godinho. NERVE e Russa nos versos e Keso na produção (e ainda no refrão) são os primeiros a fazer vénia a uma das maiores vozes da música portuguesa. E a escolha das primeiras palavras do disco recair sobre Tiago Gonçalves carrega a força de arranque que se pede a tão simbólica homenagem.



[PIBXIS] “Pibxis Lion” feat. Keso

O Rei do Rap vai nu pelas ruas de Gaia, despido de filtros, máscaras ou jubas. O primeiro álbum de estúdio de PIBXIS está finalmente cá fora, muito por culpa da Paga-lhe O Quarto Records, e, uma vez solto, sabe-se lá até onde pode chegar. A julgar pela “estrada” por onde caminha, lado a lado com Keso e DJ Crava, este “Pibxis Lion” vai a caminho da história — contada como só ele sabe.


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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