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Texto: Paulo Pena
Publicado a: 07/12/2021

De 29/11/2021 a 05/12/2021.

Rap PT – Dicas da Semana #60

Texto: Paulo Pena
Publicado a: 07/12/2021

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.



[T-Rex] “Feeling”

Se, a princípio, fazia algum sentido compará-lo a Travis Scott, hoje, essa medida já parece  curta para aquilo que Tóy Tóy T-Rex consegue (e tem vindo) a fazer. A sua evolução tem sido notória a cada tema; de certa forma inacreditável pela maneira como se supera sucessivamente, como explora caminhos e meios (ainda mais) improváveis — e quanto mais arrisca, mais acerta. As comparações com o que quer ou quem quer que seja estão todas a cair por terra. Mas, se quisermos mesmo fazê-las, não há em “Feeling” qualquer coisa de “Thriller” e em T-Rex qualquer coisa de Michael Jackson? Foi esse o feeling que passou por aqui…



[IL-BRUTTO x BLASPH x NERVE] “BONASERA”

Não há muitas regras pré-estabelecidas para os candidatos elegíveis a figurar nesta coluna. Mas, assim de cabeça, há pelo menos uma: se o tema tem Blasph e NERVE no título, é mesmo para clicar — e dificilmente essa faixa não vem cá parar.

“BONASERA” marcou o reencontro de Frankie Dilúvio com o Sacana Nervoso, uma união de forças especialmente querida entre os, também, especiais fãs destes dois colossos da nossa praça, depois de célebres faixas como “Acena” e “Apanha Game (Queres Vir?)” partilhadas por ambos. 

Sob a produção exímia de Il-Brutto deu-se a esperada tareia lírica, entre o braggadocio do Blasphémia e a acutilância apostrofada do “Monstro Social” (e Lírico). E nada como testemunhar — coisa rara — este (re)encontro ao vivo, assinalado pela estreia de “BONASERA” no Titanic Sur Mer, no sábado passado: “Isto é aquela parte em que tu te calas um bocadinho” — sempre que estes dois pegam no microfone.



[Holly Hood] “Peso”

Lembram-se da regra excepcional acima levantada? Abra-se uma nova alínea: b) o mesmo se aplica a Holly Hood

O “Peso” e a regra são de ouro, tom dourado esse que sobressai no vídeo de André Caniços para o novo single do rapper da Linha da Azambuja. O triângulo d’O Dread Que Matou Golias mantém-se imaculado: flow-métrica-fonética é um sistema descodificado por poucos, mas dominado por Holly Hood na perfeição (se é que não foi ele o pioneiro de uma cadência por muitos replicada no trap português). Agora, a questão para o milhão já são outros quinhentos… 

Quando chega a terceira parte do álbum?



[DJ Perez] “Não Maya” feat. Goose08

“O olhar é quente e o corpo é fire” — e a temperatura na Linha de Cascais é sempre outra. É lá que Goose08 tem aquecido instrumentais, e em “Não Maya” o clima foi regulado por DJ Perez. O single antecipa ainda as energias que se vão fazer sentir no final do Verão do próximo ano, altura em que os dois artistas vão editar o EP Meia Dúzia. Só faltam meia dúzia de dias até lá, mais coisa, menos coisa.



[MAIOR MAJOR] “MURRO” (The Alchemist “Surf & Turf” Remix)

É com entusiasmo que recebemos novidades de Maior Major, um rapper que por cá tem alimentado considerável expectativa. E Major não se ficou por menos para corresponder na hora de voltar ao seu palanque: bateu continência à (nota pessoal) melhor faixa de The Price Of Tea In China e desfilou por cima do beat de The Alchemist para ajustar contas com Vince Staples. É certo que tudo fica mais fácil com um instrumental do Rapper’s Best Friend, mas essa ajuda também só serve a quem é, realmente, rapper.



[Papillon] “01 Coisa Leve”

“Para mim este tema representa o fechar de um ciclo de temas experimentais onde explorei os territórios por descobrir da minha criatividade e me propus ao desenvolvimento artístico”, pode ler-se na descrição do vídeo de “01 Coisa Leve”, no YouTube. Fechou-se, então, esse ciclo de exploração criativa com mais um tema em que Papillon parte do rap para se encontrar no afro, desta vez (e pela primeira) através da sua produção. Coisa leve é ver como Papi, depois de um álbum de estreia tão denso, se tem divertido a experimentar, sem perder o fio condutor introspectivo — agora num tom mais ligeiro.



[DarkSunn] “Cacilheiro”

Almada Velha é o novo disco de DarkSunn, editado pela sua Monster Jinx; um álbum que, além de espelhar uma frontal e sentida homenagem à cidade que o moldou enquanto artista incansável, um estofo semeado em Almada Velha na década de 90, marca o regresso do produtor aos projectos em nome próprio, após uma leva intensiva de lançamentos do colectivo roxo.

Na faixa “Cacilheiro”, J-K ancora alguma lucidez nas águas esotéricas por onde DarkSunn leva esta embarcação.



[may] “Ligas I – O Brilho”

Há qualquer coisa em “Ligas I – O Brilho” — uma das canções do EP de estreia de may, Esterno —, que nos faz ficar por lá. E essa “qualquer coisa” não é uma coisa qualquer: do seu rap ainda quadrado sobressai uma poesia redonda e floreada, mais densa do que a cadência faz parecer. Vinda do esterno, mesmo.



[Mace x nastyfactor] “Estratega” (remix)

“É que um boy já nasceu estratega
Cheio de ideias p’a não ‘tar na prega”

Ideias novas foi o que não faltou neste remix de “Estratega”, tema extraído do álbum A Vida dos Felizes, de nastyfactor. O rapper de Mem Martins deu espaço a Mace para, em dois versos, partilhar dos estratagemas que lhes permitem continuar a fazer o que de melhor sabem, ao mais alto nível. É essa riqueza que nasty ostenta quando diz “me’mo sem guita, sou rico na me’ma”.



[Kosmo Da Gun X Mizzy Miles] “CONTRABANDO”

Não é um regresso após uma ausência prolongada nem uma transição radical para longe daquilo que representava, mas há, definitivamente, em “CONTRABANDO” uma rota redefinida e um caminho novo apontado por Kosmo Da Gun. Essa reinvestida, calibrada a uma outra escala, envolve Mizzy Miles, e este é o primeiro single de um projecto a ser desenvolvido pelos dois. Não se admirem se voltarem a vê-los juntos por aqui, porque hão-de aparecer, certamente.


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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